Vacina contra câncer tem 87% de sucesso em teste contra melanoma em animais
Uma vacina experimental melhorou a resposta imunológica em camundongos com melanoma, um tipo de câncer de pele
Uma vacina experimental melhorou a resposta imunológica em camundongos
com melanoma, um tipo de câncer de pele. De acordo com pesquisa
publicada nesta sexta-feira (10) na revista "Science Immunology", 87%
dos camundongos que receberam a vacina rejeitaram os tumores e
apresentaram maior sobrevida. A pesquisa com a vacina foi realizada pela
equipe de Yanqi Ye, do departamento de engenharia biomédica da
Universidade da Carolina do Norte.
Os resultados positivos são creditados ao método de aplicação da
vacina, que utiliza micro-agulhas para injetar pedaços de proteínas de
tumor e melanina sob a pele. A melanina, proteína natural associada ao
pigmento da pele, possibilita o aquecimento do local da aplicação, o que
leva a uma maior eficácia da vacinação. Os pedaços de células de tumor
funcionam como antígeno, que desperta o sistema de defesa do organismo
para combater o câncer.
"Esse estudo foi feito mais para avaliar um novo método de vacinação do
que a vacina em si", explica Vladmir Cordeiro de Lima, pesquisador do
grupo de imuno-oncologia translacional do A.C.Camargo Cancer Center. "O
calor promove aumento de fluxo de sangue e outros fenômenos que auxiliam
sistema imunológico e potencializam a vacina", diz o médico, que não
participou do estudo publicado na "Science Immunology".
Outra característica da vacina é a utilização de uma matriz sólida para
levar o composto de antígeno e melanina para a pele, em vez de um
solvente líquido -- como o que existe para as vacinas que tomamos contra
outras doenças. A matriz sólida utilizada é o ácido hialurônico, um
polímero biológico. Com a matriz sólida, a liberação dos antígenos do
tumor é mais lenta.
Dos camundongos que receberam a vacina sem a utilização dessa técnica,
apenas 16% apresentaram uma redução no crescimento do tumor. Nesse
grupo, não houve melhora na sobrevida.
"O desenvolvimento de vacina contra câncer é um caminho longo a ser
percorrido. O estudo é muito promissor, mas ainda deve passar por outras
fases", diz Lima. Ele lembra que, até hoje, apenas uma vacina contra
câncer, para tratamento de tumor na próstata, foi desenvolvida e
registrada.
Os pesquisadores devem agora realizar novos estudos antes do desenvolvimento de testes com seres humanos.
Vacina contra o câncer é diferente de vacina contra gripe
As vacinas são substâncias que despertam o sistema imunológico para
combater algum invasor. Mas a semelhança entre a vacina para combater
vírus e bactérias, que causam doenças como gripe, dengue e febre
amarela, e a vacina contra o câncer param aí. Diferentemente do que
ocorre para a gripe ou a febre amarela, a vacina contra o câncer é dada
em pessoas que já estão com câncer ou que tiveram a doença e querem
reduzir as chances dela retornar.
"Na vacinação contra câncer, a ideia é tirar uma amostra de tumor do
paciente e criar uma vacina individual. O tumor de uma pessoa não é
igual ao de outra. E em um mesmo indivíduo, os tumores são diferentes",
explica Lima, do A.C.Camargo. Ao se injetar os pedacinhos de tumor, a
vacina estimula a uma resposta imunológica eficaz contra ele. No futuro,
tratamentos como a quimioterapia poderiam ser substituídos por
vacinas.
O oncologista explica que outra diferença entre as vacinas
convencionais contra outras doenças e a vacinação para combater tumores
está na dificuldade de desenvolvimento de produtos finais eficazes. "O
genoma do vírus é bem mais simples que o nosso. Já a célula tumoral vem
de uma célula normal e suas proteínas são parecidas com as nossas",
afirma o médico.
Bol
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