Marcola virou chefe do PCC após colaborar com a polícia, diz procurador de Justiça
A revelação está no livro "Laços de Sangue - A história secreta do PCC"
© Reprodução
Marco
Willians Herbas Camacho, o Marcola, era um informante da polícia e
entregou aos investigadores do Departamento Estadual de Investigações
Criminais (Deic), da Polícia Civil paulista, os número de telefones
usados por José Márcio Felício, o Geleião, e Cesar Augusto Roriz Silva, o
Cesinha.
Tudo isso para poder
ascender ao comando da mais importante organização criminosa do País, o
primeiro Comando da Capital (PCC). A revelação está no livro "Laços de
Sangue - A história secreta do PCC", do procurador de Justiça Márcio
Sérgio Christino, responsável durante quase uma década pelas
investigações envolvendo o PCC no Ministério Público de São Paulo. Seu
livro tem apresentação do delegado Ruy Ferraz Fontes, então responsável
pelas investigações contra o PCC.
A
informação até agora mantida sob sigilo pela policia e pelo MPE está na
página 105 do livro. "Depois de ascender à liderança, o vaidoso
Marcola, o Playboy, almejou mais. Ele queria ser líder do PCC. Mas de
que maneira ele neutralizaria Cesinha e Geleião? Ele virou um informante
- foi ele quem entregou para a polícia os números dos telefones usados
por Zé Márcio e por Cesinha", escreveu o procurador. Teria sido ainda
Marcola quem entregou à polícia as centrais telefônicas mantidas pela
facção em 2001 e 2002.
As informações teriam sido fornecidas à
polícia pela sua advogada Ana Olivato. Com a descoberta das centrais, a
administração penitenciária teve o motivo para isolar os dois líderes,
deixando o caminho aberto para a ascensão de Marcola. O telefone de
Geleião revelou que ele ligava para uma mulher - Sueli Maria Rezende -
que fazia as transferências de chamadas. Ao todo, a polícia descobriu
mais de 30 centrais, segundo o procurador. Pelos telefones, então, os
presos combinavam assaltos, atentados, tráfico e até sexo.
Esse
foi o caso do atentado contra a delegacia de Sumaré, em 15 de março de
2002, quando a facção matou dois policiais. O atentado contra o Fórum
regional de Guaianazes, na zona leste de São Paulo, também foi detectado
pelas escutas telefônicas. O crime aconteceu no dia 18 de março de
2002.
Os ataques eram determinados por Cesinha. Geleião queria
detonar uma nova megarrebelião em presídios, como a de 2001. Com base
nas interceptações, até mesmo uma ligação entre uma tia de Marcola e um
sobrinho de Luis Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar foi
monitorada pela polícia.
Durante as interceptações, Marcola não
aparecia. Quando o Deic resolveu fazer a operação para tentar
desarticular a facção em 2002. Marcola, segundo o procurador foi levado
sob disfarce para o Deic. Retornou então para o sistema prisional "sem
prejuízo". "Sua intenção de isolar as lideranças tinha sido
bem-sucedida, enquanto ele permaneceria ativo na organização." Depois da
operação, Cesinha e Geleião foram isolados no presídio de Presidente
Bernardes, no regime disciplinar diferenciado (RDD). E assim o MPE
conseguiu as provas para a primeira denúncia contra Geleião e Cesinha
por chefiarem a facção.
"Esta obra vem a público em momento
oportuno, fazendo um apanhado histórico e um estudo aprofundado do
nascimento e crescimento da organização criminosa", escreveu Fontes, que
era delegado que chefiou a operação do Deic, sobre o livro. A
reportagem contatou a defesa de Marcola no início da noite desta
quarta-feira, 8, que preferiu não se manifestar sobre o assunto.
Trechos
Leia abaixo alguns trechos do livro "Laços de Sangue - A história secreta do PCC":
Pág.
105 e 106: "Depois de ascender à liderança, o vaidoso Marcola, o
Playboy, almejou mais. Ele queria ser o líder do PCC. Mas que maneira
ele neutralizaria Cesinha e Geleião? Ele virou um informante - foi ele
quem entregou para a polícia os números dos telefones usados pelo Zé
Márcio e por Cesinha.
Foi ele também quem indicou a
existência de centrais telefônicas. É preciso esclarecer que,
paralelamente a essa estratégia de Marcola, de neutralizar Geleião e
Cesinha, tornando-se um informante do sistema, o sistema também tomava
decisões para conter os dois, que eram fortes lideranças dentro do PCC,
mais fortes que Marcola naquele momento. (...) Pelos telefones que
Marcola havia fornecido, por meio de sua advogada na época, Ana Olivatto
- assassinada tempos depois - usados por Geleião e Cesinha, chegou-se
às centrais. E elas iriam revelar o que os membros do PCC estavam
tramando. Foi um grande passo no combate à organização."
Notícias ao Minuto com informações
do Estadao Conteudo
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