quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Capital cultural da Rússia

Bela, elegante e romântica, São Petersburgo é a capital cultural da Rússia

Museu Hermitage, o antigo Palácio de Inverno, congrega 3 milhões de itens em suas coleções


Símbolo de São Petersburgo, o Palácio de Inverno é hoje parte do Museu Hermitage, um dos maiores do mundo  (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)
Na semana passada, levamos os viajantes desta coluna a Moscou, atual capital da Rússia, e lembramos uma data significativa, os 100 anos da Revolução de Outubro. Contabilizado no calendário juliano, o evento aconteceu em 25 de outubro de 1917, o que corresponde a 7 de novembro de 1917 em nosso almanaque gregoriano.
Porém, mais importante que a data ou o tipo de calendário, foi o local onde essa insurreição aconteceu. Foram as ruas da então capital Petrograd que serviram de cenário para o levante armado das forças bolchevistas contra o governo transitório. O Palácio de Inverno, sede do governo provisório, foi tomado sem resistência.
Já no regime comunista, Petrograd passou a se chamar Leningrado em 1924, mas foi rebatizada como São Petersburgo, seu nome original, em 1991, apesar dos gritos dos comunistas clássicos argumentando que a mudança de nome seria um insulto a Lênin.
Fundada pelo czar Pedro, o Grande em 1703 – que obviamente lhe conferiu seu nome –, São Petersburgo é a segunda cidade da Rússia, um importante porto no Mar Báltico e considerada, sem nenhuma dúvida, como a capital cultural da nação.
Em frente ao Palácio de Inverno, hoje Museu Hermitage, encontra-se a Praça do Palácio, com mais de 5 hectares (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)
No centro da ebulição artística está o Museu Hermitage, um dos mais espetaculares do mundo. O museu foi fundado em 1764 pela imperatriz da Rússia Catarina, a Grande, que logo doou uma coleção, adquirida em Berlim, de 225 pinturas da escola holandesa, incluindo obras de Rembrandt e Rubens.
Hoje, mais de 3 milhões de itens ocupam o espaço de seis prédios históricos, às margens do Rio Neva. A magnitude de suas coleções impressiona qualquer “museófilo”: arte pré-histórica proveniente de toda a Rússia, antiguidades egípcias, clássicos gregos e romanos e representações de todas as escolas europeias de pintura preenchem milhares de salas. 
Estátua em mármore do imperador romano Adriano que reinou até o ano 138 d.C. (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)
O prédio principal do Hermitage era o antigo Palácio de Inverno, residência oficial dos imperadores russos de 1732 a fevereiro de 1917, quando a nobreza foi removida do poder. O palácio verde e branco, de arquitetura barroca, também coleciona superlativos: possui 250 metros de extensão e inclui 1.500 quartos, 1.800 portas e quase 2 mil janelas.
Além do ambiente cultural, alimentado pela presença de dezenas de escolas que oferecem cursos em todas as artes, São Petersburgo também tem a reputação de ser uma das cidades mais românticas do mundo. A história de amor descrita por Leon Tolstói entre Anna Karenina e o conde Alexei Vronsky tem como cenário São Petersburgo. Sua arquitetura barroca e decoração rococó, contrastando com as linhas retas dos prédios da era soviética, dão uma leveza e uma suavidade raramente encontradas em outras cidades russas.
Uma jovem espalha bolhas de sabão em um jardim de São Petersburgo, às margens de um canal  (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)
A presença da água – salgada do Mar Báltico e doce do estuário do Rio Neva – conferiu uma maior brandura ao clima nórdico. A cidade, apesar de estar situada a 60º de Latitude Norte (no nosso continente, a Latitude 60º Sul fica abaixo do Estreito de Magalhães, no Oceano Atlântico, um pouco antes da Antártica), possui uma temperatura não tão dramática como as encontradas no interior do continente eurasiano. 
Ao unir o Lago Ladoga – o maior da Europa – ao golfo da Finlândia, no Báltico, o Rio Neva corta uma grande parte da cidade; uma sucessão de palácios e mansões foram construídos às suas margens. Uma infinidade de canais – somando 300 quilômetros de extensão – também confere à cidade o nome de “Veneza do Norte”. E, quando há canais, há pontes para cruzá-los! Existem mais de 800 pontes, desde singelas passagens para pedestres até pontes levadiças que permitem a passagem de barcos maiores ou veleiros com mastros altos.
Apelidada de “Veneza do Norte”,  São Petersburgo é cortada por 300 quilômetros de canais (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)
As catedrais ortodoxas de São Petersburgo também devem ser enfatizadas. A mais espetacular é a Igreja da Ressurreição do Salvador sobre o Sangue Derramado, construída no local onde o czar Alexandre II foi assassinado. Suas cúpulas com desenhos geométricos e policromáticos são revestidas de esmalte, criando um contraste com o estilo barroco de outros templos.
Conta-se que, durante a Segunda Guerra Mundial, uma bomba atingiu a cúpula principal da igreja. Como ela não explodiu, ficou presa na cúpula por 19 anos. Somente quando operários subiram no teto para fazer consertos é que a bomba foi retirada e desarmada. A igreja, apesar de sua singularidade, foi fechada em 1930 pelo regime stalinista e deixou de ser mantida pelo Estado. Nos anos 1950 quase foi demolida, mas em 1970 passou a ser um museu.
A Igreja da Ressurreição do Salvador sobre o Sangue Derramado quase foi demolida pelo Estado soviético (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)
Nevsky Prospekt – ou Avenida Neva, como o nome do rio que corta a cidade – é a artéria principal de São Petersburgo, reunindo um comércio elegante e requintado. Um dos edifícios mais icônicos da avenida é a Casa Singer. No início do século passado, a empresa americana de máquinas de costura Singer pretendia construir sua sede na Rússia e queria seguir o modelo do arranha-céus erguido em Manhattan, com 47 andares. Mas o código de obras de São Petersburgo não permitia prédios que fossem mais altos que o Palácio de Inverno, residência do imperador.
A solução foi construir um edifício de seis andares com muito capricho e caráter, em estilo art nouveau. O prédio de esquina possui uma singular torre de vidro, coroada por um globo terrestre. Além da sede da empresa americana, o prédio foi usado também como embaixada dos Estados Unidos durante um breve período da Primeira Guerra Mundial, uma importante livraria – Casa dos Livros – e hoje é a sede da rede social VK, a mais importante em idioma russo, com cerca de 450 milhões de usuários. 
Na Avenida Nevsky,  a Casa Singer é um ícone da arquitetura Art Nouveau de São Petersburgo (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)
ÉPOCA 0 HAROLDO CASTRO (TEXTO E FOTOS) | DE SÃO PETERSBURGO, RÚSSIA

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