Jovem vaidosa que planejou a morte do marido, hoje sexagenária, é presa depois de 21 anos
Acusada pelo assassinato do marido em 1995, Lúcia Weisz escapou da cadeia e passou quase um terço da vida fugindo da polícia — até ser localizada pelo investigador que a perseguiu por duas décadas
A trama lembra em tudo um romance policial. Combina assassinato, fuga e
a obsessão de um policial em fazer justiça. A viúva negra é Lúcia de
Fátima Dutra Weisz, hoje com 61 anos. Em 1995, ela era uma vaidosa e bem
vestida jovem que planejou a morte do marido, o diretor de banco Gravil
Weisz, de 39 anos, executado com quatro tiros em Americana, no interior
paulista.
Indiciada como mandante do crime, ela conseguiu fugir da
cadeia de Sumaré (SP), onde aguardava julgamento. Desde então,
recapturá-la se tornou um desafio para o investigador do caso, Adinei
Brochi, o mesmo que a levou de volta para trás das grades no último dia
5.
Ela foi detida dentro de uma agência bancária em Ponta Grossa (PR).
“Não fiquei feliz de prender uma sexagenária, mas ela tem uma dívida com
a Justiça e precisa pagar”, afirma Brochi. “Também não tenho dúvida de
que o momento da prisão foi de ‘libertação’ para ela, que não teve vida
social nesses anos todos que ficou fugindo da polícia.” Hoje uma mulher
envelhecida, que em nada lembra seu passado de luxo, ela levava uma vida
reclusa, alugando casas simples em bairros residenciais de cidades
pequenas.
Sempre discreta, Lúcia conseguiu manter-se foragida por 21 anos – um
recorde, segundo a Polícia Civil de São Paulo.
Ao longo dessas duas
décadas, morou em Curitiba (PR), Araçatuba e Guararapes (SP), além de
cidades do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul até se estabelecer em Ponta
Grossa, onde também vive seu filho, que na época do crime tinha 11 anos.
Hoje, ele é engenheiro civil.
Lúcia não tinha conta bancária, telefone
fixo ou contas em seu nome. Pagava os aluguéis em dia. Segundo o
investigador, usava o nome de Fátima, mas não chegou a fazer documentos
falsos. Também não morava com o filho. Vivia só, na companhia de bichos
de estimação.
“Ela viveu esses anos todos com a ajuda de familiares, mas
sempre uma vida muito simples e isolada”, diz Brochi.
O filho foi
criado por uma irmã de Lúcia.
“Monitoramos por anos todos os familiares,
mas não conseguimos descobrir nada. Ela sempre foi muito cautelosa e
conseguiu viver no anonimato todo esse período.”
ASSASSINATO E FUGA
Lúcia planejou e cometeu o crime com a ajuda de outras três pessoas:
sua então empregada, Neusa Cardoso, de 46 anos, a filha dela,
Valdelaine, 23, e Sílvio Cesar da Silva, também 23. Eles receberam 20
mil dólares pelo crime — e já cumpriram suas penas. Neusa e Valdelaine
foram libertadas em 2004. Sílvio, em 2006.
No dia do crime, Lúcia ligou
para a delegacia onde trabalhava o investigador Brochi reportando um
assalto seguido de morte.
“Os fatos não condiziam com os relatos e todos
foram presos”, diz o investigador. Para ele, a motivação foi
financeira. Lúcia e Gravil viviam em casas separadas, mas o divórcio
ainda não havia sido assinado.
Suspeita-se que nesses anos todos Lúcia
tenha recebido, por procuração, uma pensão pela morte do marido. Os
imóveis e propriedades rurais em nome dele foram a leilão depois do
assassinato.
Foi na cadeia de Sumaré, onde aguardava o julgamento, que Lúcia se
envolveu com José Paulo Gordo, indiciado por estelionato. “Eles se
conheceram e acabaram fugindo juntos”, diz Brochi. A fuga ocorreu
durante um resgate de presos. Gordo foi encontrado quatro anos depois,
em Curitiba, cidade onde o casal se escondeu.
Durante os anos em que
esteve foragida, Lúcia se isolou completamente do filho e dos outros
familiares. “Ela sempre foi bem cautelosa e usava telefones públicos
distantes até da cidade onde estava morando”, afirma o investigador.
O
crime, que na época teve grande repercussão, ainda não prescreveu.
Julgada à revelia em 2010, Lúcia foi condenada a 14 anos de reclusão.
Hoje cumpre a pena na Penitenciária Feminina de Campinas.
Aos 61 anos, Lúcia levava uma vida simples e reclusa quando foi capturada pelo investigador Adinei Brochi. Acima, Lúcia à época do crime, o marido assassinado e o momento em que ela foi detida: ato de “libertação”, segundo o policial |
Istoé - Valeria Corbucci
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