segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Violência no Brasil

Mortes violentas crescem e atingem maior número já registrado no país

Chegou a 61.619 o número de mortes violentas intencionais registradas no Brasil em 2016, crescimento de 3,8% em relação ao ano anterior. Significa sete pessoas assassinadas por hora, segundo dados inéditos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgados nesta segunda-feira (30).
A taxa de mortes violentas foi de 29,9 assassinatos por 100 mil habitantes. No Nordeste, ainda maior. Os três Estados com maiores taxas são Sergipe (64), Rio Grande do Norte (56,9) e Alagoas (55,9).
As taxas de homicídios vinham se estabilizando até 2014, nas contas do fórum, mas voltaram a crescer em 2015 e 2016.
“A violência se espalhou para o país todo. É hoje um problema nacional, faz com que o país se sinta amedrontado”, diz o diretor do Fórum, Renato Sérgio de Lima.
“61 mil mortos é o que a gente tem de mais obsceno”, na avaliação da diretora do Fórum Samira Bueno. “É muito sofrimento para uma nação isso estar em segundo plano. Como a gente não priorizou essa agenda com tanta gente morrendo?”
O aumento do número de mortes foi acompanhado por uma redução nos investimentos em segurança pública por União, Estados e Municípios. O total gasto na área em 2016 foi 81 bilhões, queda de 2,6% em relação ao ano anterior. A maior queda acontece nos gastos da União (redução de 10,3%).
Houve ainda queda no número de armas apreendidas no último ano: 112.708, 12,3% a menos que em 2015.
Os pesquisadores destacam a ausência de um sistema nacional que consolide e padronize as informações de segurança pública, uma vez que muitas vezes faltam informações do perfil das vítimas nos boletins de ocorrência.
“A gente vive, na área da segurança e da Justiça, um apagão estatístico”, afirma Lima. “Se o dado não existe, como estamos fazendo política pública? Porque a política pública depende de informação.”
Nas capitais, houve redução de 4,3% no total de mortes, o que indica uma interiorização da violência, segundo os pesquisadores. Ainda assim, esses crimes cresceram nas capitais de 14 dos 27 Estados. Entre as mulheres, foram 4.657 assassinatos, 533 deles registrados como feminicídio.
Além de homicídios dolosos, foram 2.703 mortos em latrocínios. As maiores taxas são em Goiás (2,8 por 100 mil habitantes), Pará (2,7) e Amapá (2,4).
MORTOS POR POLICIAIS
Disparou o número de pessoas mortas em decorrência de intervenções policiais, segundo os dados do Fórum, e chegou ao maior número registrado pela entidade: 4.224 casos, alta de 27% em relação ao ano anterior, que registrou 3.330 casos do tipo.
As maiores taxas desses crimes foram registradas no Amapá (7,5 casos por 100 mil habitantes), Rio de Janeiro (5,6 casos por 100 mil habitantes) e Sergipe (4,1). A taxa média do país é de 2 casos a cada 100 mil habitantes.
O perfil padrão desses mortos é homem, jovem e negro. 99,3% dos mortos em ocorrências policiais são homens, 82% tem entre 12 e 29 anos (17% tem entre 12 e 17 anos) e 76% são negros, segundo levantamento do Fórum.
“Esses dados são graves porque mostram o quanto a juvente está vulnerável à ação da polícia, e a gente sabe que muitos desses casos não são investigados, então não sabemos o quanto desses casos policiais usaram de fato a força legítima, e quantos foram de fato execuções”, diz Samira Bueno.
Entre 2009 e 2016, 21.897 foram mortos nessas ocorrências –que não incluem chacinas e outros homicídios, apenas casos em que a morte aconteceu durante ação policial.
“Nós temos jornadas extenuantes, policiais trabalhando sem equipamento obrigatório, com colete vencido, armamento ultrapassado”, diz o policial militar e pesquisador do Fórum Elisandro Lotin. “Temos uma sobrecarga de trabalho, desgaste físico e mental dos profissionais hoje nas ruas. Por conta de uma pressão interna e externa. Porque, para a sociedade, bandido bom é bandido morto, e o Estado somatiza isso. Na concepção do policial, ele está fazendo a coisa certa”, afirma.
Ellan Lustosa/Futura Press
Folha de São Paulo 

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