A morte do corpo físico não significaria o fim da existência consciente: É por isso que o “você” do pós-vida não seria você
Em
um filme da Netflix produzido em 2017, chamado The Discovery, o ator
Robert Redford interpreta um cientista que prova que a vida após a morte
é real. “Uma vez que o corpo perde a vida, alguma parte de nossa
consciência nos deixa e viaja até um outro plano”, explica Redford,
evidenciando o argumento por sua máquina que mede, conforme define outro
personagem, “comprimentos de cérebro em um nível subatômico que deixam o
corpo após a morte”.
Essa ideia não está muito longe de uma teoria real chamada consciência quântica, defendida por uma ampla gama de personalidades, desde o físico Roger Penrose até o médico Deepak Chopra. Algumas versões afirmam que nossa mente não é estritamente um produto do cérebro e que a consciência existe separadamente da substância material, de modo que a morte do corpo físico não significaria o fim da existência consciente. Por este ser o tema do próximo livro de Michael Shermer (em inglês, tem o nome Heavens on Earth: The Scientific Search for Afterlife, Immortality and Utopia, pela editora Henry Holt), o filme desencadeou uma série de problemas que o autor identificou com todos esses conceitos, tanto no âmbito científico como no religioso.
Essa ideia não está muito longe de uma teoria real chamada consciência quântica, defendida por uma ampla gama de personalidades, desde o físico Roger Penrose até o médico Deepak Chopra. Algumas versões afirmam que nossa mente não é estritamente um produto do cérebro e que a consciência existe separadamente da substância material, de modo que a morte do corpo físico não significaria o fim da existência consciente. Por este ser o tema do próximo livro de Michael Shermer (em inglês, tem o nome Heavens on Earth: The Scientific Search for Afterlife, Immortality and Utopia, pela editora Henry Holt), o filme desencadeou uma série de problemas que o autor identificou com todos esses conceitos, tanto no âmbito científico como no religioso.
Primeiro, para Shermer, existe a suposição de que nossa identidade
está localizada em nossas memórias, que, segundo se presume, são
permanentemente gravadas no cérebro: se elas pudessem ser copiadas e
coladas em um computador ou duplicadas e implementadas em um corpo ou
alma ressuscitada, nosso ser se restauraria Mas não é assim que a
memória funciona. Eka não é como um DVR que pode reproduzir o passado em
uma tela dentro da mente; é, ao contrário, um processo continuamente
editado e fluido que depende completamente da funcionalidade dos
neurônios no cérebro. É verdade que quando se vai dormir e acordar na
manhã seguinte, ou entrar em uma anestesia e voltar horas depois de um
procedimento cirúrgico, as memórias retornam, como ocorre mesmo após a
chamada hipotermia profunda e parada circulatória. Sob este
procedimento, o cérebro de um paciente é esfriado até 50 graus
Fahrenheit, o que faz com que a atividade elétrica nos neurônios pare –
sugerindo que as memórias de longo prazo sejam armazenadas
estaticamente. Mas isso não pode acontecer com a morte do cérebro. É por
isso que a reanimação cardiopulmonar deve ser feita logo após um ataque
cardíaco ou afogamento – porque, se o cérebro está faminto de sangue
rico em oxigênio, os neurônios morrem, junto às memórias armazenadas
dentro dele.
Em segundo lugar, existe a suposição de que a cópia de conexões do
cérebro – o diagrama de seus contatos neurais – carregada em um
computador (como alguns cientistas sugerem), ou a ressurreição do eu
físico em uma vida após a morte (como muitas religiões imaginam), trazem
como resultado uma pessoa acordando de algo como um longo sono, em um
laboratório ou no céu. Mas uma cópia das memórias de um indivíduo, de
sua mente ou mesmo de sua alma não é o indivíduo. É uma cópia dele, como
um gêmeo, e ninguém olha para um irmão igual a si e pensa: “oh, olhe eu
ali”. Nem a duplicação nem a ressurreição podem instanciá-lo em outro
plano de existência.
Em terceiro lugar, a identidade única de uma pessoa é mais do que
apenas suas memórias intactas; é também o seu ponto de vista pessoal. O
neurocientista Kenneth Hayworth, cientista sênior do Howard Hughes
Medical Institute e presidente da Brain Preservation Foundation, dividiu
essas individualidades em MEMself e POVself. Ele acredita que, se um
completo MEMself for transferido para um computador (ou,
presumivelmente, ressuscitado no céu), o POVself despertará. Shermer
discorda. Se isso fosse feito sem que a pessoa morresse, haveria dois
eus-memórias, cada um com seu próprio POVself, olhando para o mundo
através de seus olhos únicos e singulares. Naquele momento, cada um
tomaria um caminho particular na vida, gravando memórias diferentes com
base em experiências distintas. Não se teria de repente dois POVs. Se
alguém morreu, não existe um mecanismo conhecido pelo qual o seu POVself
seria transportado do cérebro para um computador (ou um corpo
ressuscitado). Um POV depende inteiramente da continuidade do eu de um
momento para outro, mesmo que essa continuidade seja interrompida pelo
sono ou anestesia. A morte é uma interrupção permanente da continuidade,
e o POVself pessoal não pode ser movido do cérebro para algum outro
meio, nem agora nem no futuro.
Se isso parece desanimador, é exatamente o contrário. A consciência
de nossa mortalidade é edificante porque significa que cada momento,
todos os dias e todos os relacionamentos são importantes. Envolver-se
profundamente com o mundo e com outros seres conscientes traz
significado e propósito à nossa vida. Cada um de nós é único no mundo e
na história, geograficamente e cronologicamente. Nossos genomas e
conexões não podem ser duplicados, então somos indivíduos atentos a
consciência de nossa mortalidade e autoconsciência sobre o que isso
significa. O que isso significa? A vida não é uma disputa temporária
antes do grande show que vem a seguir: é nosso proscênio pessoal no
drama do cosmos, aqui e agora.
[ScienceAlert] - Por: Carolina Goetten
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