Pesquisadores mostram como a internet influencia de várias maneiras nossa vida sexual
A satisfação sexual não só é importante para a ligação de um casal
dentro de um relacionamento, mas também para nossa própria saúde
psicológica. Por isso, há uma preocupação de que homens e mulheres hoje
podem estar tendo vidas sexuais menos ativas do que no passado. Um dos
motivos é o fato da internet ter alterado a sexualidade humana de várias
maneiras.
Naturalmente, ela teve impactos positivos. A Internet ajudou a
normalizar comportamentos sexuais como o masoquismo e revelou ao mundo
diferentes configurações de relacionamento, como o poliamor, que
naturalmente influenciam o sexo. A internet também pode ajudar quem tem
determinados fetiches a se sentirem satisfeitos e aceitos pela
comunidade.
Mas também há más notícias. A Internet pode estar fazendo com que uma
parcela dos homens experimente disfunção erétil induzida pela
pornografia. A obsessão por pornografia na Internet, juntamente com a
masturbação crônica, diminui o interesse ou a capacidade quando chega a
hora de estar com um parceiro ou uma parceira. A comunidade urológica
tem discutido se esta é uma condição legítima. Um artigo de pesquisa em
particular afirma que, em vez de um problema físico, esses homens podem
se condicionar ao orgasmo somente com um certo tipo de estímulo, seja
tátil ou visual, o que pode os desconcentrar na hora do sexo real.
Agora, pela primeira vez, um estudo publicado no Journal of Sex
Research, examina como a pornografia na internet pode ter impactado o
funcionamento sexual feminino. Essas descobertas também provocam maiores
questões sobre o quanto a sexualidade é um comportamento biológico, o
quanto é psicológico e quanto é social. O orgasmo feminino é visto como o
auge do encontro sexual. Então, a pornografia na Internet aumentou ou
inibiu o clímax feminino?
Léa J. Séguin, da Universidade de Quebec, em Montreal, liderou o
estudo. O que os pesquisadores descobriram foi que, não era a idade em
que a masturbação começava ou a destreza de uma mulher na busca pelo
orgasmo, nem o número de parceiros sexuais que ela possuía. O que
determina se ela pode ou não chegar ao orgasmo durante o sexo é se ela
está atenta durante a experiência e como ela se sente com o parceiro.
“As representações sociais, que aparecem em uma variedade de meios de
comunicação, podem influenciar a forma como as experiências sexuais são
percebidas e compreendidas”, escreveram os pesquisadores. “Embora a
pornografia não seja o único meio em que o orgasmo é retratado, é o mais
explícito, e é generalizado e facilmente acessível”. O que eles
analisaram foi como o orgasmo masculino e feminino foi retratado em 50
dos vídeos mais vistos do site Pornhub. Cada um foi analisado e
codificado para a “freqüência do orgasmo masculino e feminino”. Os
pesquisadores codificaram o conteúdo pela indução ao orgasmo que o casal
envolvido no ato sexual na tela estava envolvido. Isso inclui
indicadores auditivos e visuais.
O orgasmo feminino
Este estudo descobriu que, embora os homens tenham chegado ao orgasmo
em 78% das vezes nesses vídeos, as mulheres o fizeram apenas 18,3% das
vezes. Dentro desses 18,3%, a estimulação do clitóris – a maneira pela
qual a maioria das mulheres chega ao orgasmo – ocorreu apenas 25% das
vezes. A mensagem que isso envia, dizem os pesquisadores, é que o
orgasmo masculino é um imperativo, enquanto o feminino não é. Eles
também escreveram que “a pornografia convencional promove e perpetua
muitas expectativas pouco realistas em relação ao orgasmo das mulheres”.
As pesquisas mostram que há uma grande variedade de quando e como as
mulheres chegam ao clímax. A maioria das mulheres só começa a ter
orgasmos regulares entre os 20 ou 30 anos. Maior conforto com o sexo e
seus corpos pode ser o motivo para isso.
Outra questão é que algumas mulheres, naturalmente, têm dificuldade
em chegar ao orgasmo. Eles podem não chegar ao clímax regularmente como
resultado disso. Estudos têm demonstrado que a capacidade de chegar ao
clímax através da relação sexual e, em menor grau, da masturbação, é
pelo menos parcialmente de natureza genética. O resto são “processos
físicos ou respostas subjetivas a esses processos”. Os resultados deste
estudo se enquadram no que é conhecido como teoria do roteiro sexual,
que afirma que os seres humanos se enquadram em certos scripts sexuais
que a sociedade considera aceitáveis.
Um estudo publicado no ano passado na revista Socioaffective
Neuroscience & Psychology, teve algumas descobertas interessantes
sobre o orgasmo feminino. Usando estatísticas de pesquisas nacionais,
eles analisaram as experiências sexuais de mais de 8 mil mulheres
finlandesas. O número de mulheres que dizia que tinham orgasmos durante o
sexo sempre ou quase assim caiu 10% entre 1999 e 2015. A pornografia na
Internet e expectativas pouco realistas podem ter desempenhado um papel
nisso. Mas os pesquisadores também identificaram outros motivos.
A Finlândia foi escolhida porque é um dos poucos países com pesquisas
representativas nacionais de atividades e valores sexuais entre a
população adulta. Essa pesquisa foi realizada nos anos de 1971, 1992,
1999, 2007 e 2015. A sexualidade das pessoas se tornou mais liberal ao
longo do tempo, os dados mostram, seguindo uma tendência similar no
resto da Europa Ocidental.
De acordo com este estudo, a mulher chegar ou não durante o sexo
dependia de sua autoestima sexual, o quanto ela e seu parceiro estavam
se comunicando sexualmente, quão hábil ela se sente na cama e suas
próprias limitações sexuais. Outros fatores incluíram a capacidade de
concentração durante o sexo e a técnica de seu parceiro. As coisas que
impediram as mulheres de chegarem ao clímax foram fadiga, dificuldade de
concentração e estresse. Enquanto 50% das mulheres em um relacionamento
disseram que chegavam ao orgasmo durante o sexo na maioria das vezes,
apenas 40% das mulheres solteiras diziam o mesmo.
Em resumo, casais que se comunicam bem, especialmente sobre desejos e
fantasias, estão conscientes durante o sexo e fazem coisas para
aumentar sua conexão, têm as melhores vidas sexuais, com orgasmos para
ambos os parceiros. Isso contando que eles não fiquem obcecados com a
pornografia na internet.
[Big Think] - Por: Jéssica Maes
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