Confrontos na Catalunha já deixaram mais de 450 pessoas feridas neste domingo
Francisco Seco/Associated Press |
O plebiscito
separatista catalão começou na manhã deste domingo (1°) com as imagens
que o governo espanhol tanto temia: colégios eleitorais invadidos pela
polícia, anciãos retirados à força e milhares de pessoas votando embaixo
da chuva.
Segundo o Departamento de Saúde da Catalunha, foram
atendidas 465 pessoas feridas nos embates com a polícia, que chegou a
usar balas de borracha contra manifestantes. Apenas na capital,
Barcelona, foram 216.
Em uma rede social, o governo catalão pediu
que aqueles que tivessem sofrido ferimentos procurassem a polícia
regional, chamada de Mossos d’Esquadra, para registrar denúncias.
O Ministério do Interior espanhol informou que ao menos 11 agentes policiais foram feridos de maneira leve.
Um
vídeo registrando a polícia destruindo as portas de um colégio
eleitoral causou especial indignação, assim como cidadãos jogados ao
chão pelas forças de segurança. Na véspera, um cartaz de “más
democracia” fora destruído por manifestantes contrários ao voto.
O
governo regional catalão, que já goza de alguma autonomia, convocou
este voto para ter sua independência completa da Espanha. As autoridades
em Madri, porém, afirmam que a consulta é ilegal e, portanto, sem
valor.
Ao meio-dia (às 7h em Brasília), 73% das urnas estavam
abertas, totalizando 4.661. Mas a polícia havia interditado outras
tantas, e havia expectativa em todos os colégios da chegada das forças
de segurança, criando um ambiente de tensão.
O voto, apesar da preocupação, era feito de maneira festiva. Em uma das escolas visitadas pela Folha eleitores haviam criado uma espécie de corredor –batendo palmas a quem saía das urnas, cantando “ele votou! ele votou!”.
“Isso para mim é liberdade”, diz Maria Oliva, 60. “Vivi a época franquista, e me sinto como era 40 anos atrás.”
Ela
se refere à brutal ditadura do general Francisco Franco (1939-1975),
período durante o qual o movimento separatista catalão foi reprimido. A
língua dessa região, aparentada do francês, chegou a ser proibida.
“Não
é sobre votar ‘sim’ ou ‘não’. É sobre votar”, afirma. “Hoje tenho
vergonha de ser espanhola, e não quero mais ser. Se pudesse, seria
apenas catalã.”
O Parlamento catalão ameaça declarar sua
independência unilateralmente em até 48 horas depois do voto. O governo
central em Madri avisa que não vai reconhecer o gesto. O cenário dos
próximos dias é incerto.
Mas para Pau Freixa, 41, o plebiscito de
domingo não é sobre declarar ou não a separação imediata. É sobre
mostrar o apoio ao projeto de um Estado próprio, diz o professor de
literatura eslava.
“É importante que as pessoas vejam quão
desesperados estamos”, diz. Freixa e outras 30 pessoas dormiram em uma
escola de Barcelona para impedir que a polícia fechasse o colégio
eleitoral. A noite foi longa, embaixo da chuva. “Não temos um
interlocutor em Madri.”
Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário