A organização criminosa de Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais
Como Pimentel montou um esquema para receber propinas de empresas quando era ministro do Desenvolvimento de Dilma. Os recursos ilegais abasteceram sua campanha ao governo em 2014
TRAFICÂNCIAS Fernando Pimentel recebeu propina para defender interesses de empresas - (Crédito: BETO BARATA) |
O cerco a Pimentel se fechou após o indiciamento de oito pessoas
ligadas a ele. Entre elas, a própria primeira-dama de Minas, Carolina de
Oliveira. A mulher de Pimentel vai responder por corrupção passiva.
Além de Carolina, foi indiciado pelo mesmo crime o ex-presidente do
BNDES, Luciano Coutinho, apontado como parceiro do atual governador de
Minas nas maracutaias que lesaram o banco. Como Pimentel tem foro
privilegiado, a PF pediu autorização ao Superior Tribunal de Justiça
para indiciá-lo. Mas o STJ ainda não se pronunciou.
As denúncias da PF contra Pimentel e os demais acusados remetem ao
período entre 2011 e 2014, quando ele foi titular do Ministério do
Desenvolvimento. De acordo com as investigações, à frente daquela pasta,
o atual governador recebia propina para exercer tráfico de influência
no ministério e no BNDES. Uma das empresas favorecidas pela atuação
criminosa de Pimentel foi o Grupo Casino. Em 2011, o Casino conseguiu
barrar a fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour graças a atuação de
Pimentel e Luciano Coutinho.
Uma forma de prejudicar o negócio entre as duas empresas foi impedir
que o BNDES concedesse apoio financeiro ao empresário Abílio Diniz. Para
dificultar a liberação do empréstimo, o então presidente do BNDES
concordou em inserir de última hora uma cláusula condicionante de
ausência de litígio. Ou seja, o Pão de Açúcar não poderia ter qualquer
disputa judicial com os franceses do Grupo Casino para se habilitar ao
crédito que permitiria a fusão com o Carrefour. Assim, o negócio não foi
adiante.
Parceria suspeitaINTERMEDIÁRIA Dinheiro era repassado por meio de Carolina de Oliveira, mulher de Pimentel - (Crédito: Luiz Costa) |
No relatório enviado ao STJ, os investigadores da PF afirmaram que
“todos os indícios apontam que Fernando Pimentel, utilizando-se do seu
cargo, foi auxiliado por Luciano Coutinho com o escopo de atender à
solicitação feita pelo ministro, para viabilizar a inserção da cláusula
condicionante no pedido de Abílio Diniz”.
Em contrapartida, o Grupo Casino efetuou pagamento para a empresa do
jornalista Mário Rosa, a MR Consultoria. Também indiciado pela PF, Rosa,
por sua vez, cedeu 40% (R$ 2,8 milhões) dos valores à mulher de
Pimentel, Carolina de Oliveira. O dinheiro foi transferido para a
empresa de Carolina, a OLI Comunicação. Mas não há registro de que a
empresa da primeira-dama tenha realizado qualquer tipo de serviço para a
MR Consultoria.
O relatório da PF também identificou doações de campanha por fora dos
lançamento oficiais. Pimentel teria recebido R$ 3,2 milhões de
sindicatos e de um escritório de advocacia. Os repasses passaram antes
por empresas de fachada. Uma delas era do assessor especial de Pimentel,
Otílio Prado, dono da OPR Consultoria Imobiliária. A outra é a MOP
Consultoria e Assessoria de Marco Antônio, chefe da Casa Civil e Paulo
Moura, secretário de governo, ambos da administração de Pimentel.
A gestão de Luciano Coutinho no BNDES é alvo de outra investigação no
Tribunal de Contas da União. Auditoria do TCU identificou que, durante o
governo Lula , o BNDES, que é subordinado ao Mdic, causou prejuízos aos
cofres públicos na compra de ações do Grupo JBS em 2008, pelas quais
pagou 20% acima do preço de mercado. O dano ao erário provocado pela
operação malsucedida chegou a R$ 303 milhões.
O negócio teve como origem a compra do frigorífico National Beef
Packing e da divisão de carnes bovinas da Smithfield Foods, ambos nos
Estados Unidos, pela JBS, de Joesley Batista. Para ajudar na aquisição
das empresas, o BNDES investiu R$ 2,6 bilhões ao adquirir ações da JBS. O
dinheiro virou capital para a operação com as empresas estrangeiras.
Entre 2005 e 2014, o banco repassou mais de R$ 10 bilhões para Joesley.
Outro ponto que chama a atenção na operação financeira envolvendo o
banco público é o fato de o negócio com as empresas estrangeiras e a JBS
ter sido realizado em tempo recorde de um mês. Os pareceres aprovando a
negociação foram classificados como precários pelo TCU.
Com tantos desvios apontados pela Polícia Federal e outros órgãos de
controle, dificilmente Fernando Pimentel, Carolina de Oliveira e Luciano
Coutinho vão escapar ilesos dos processos que respondem. O que tende a
matar pela raiz o projeto político do governador de Minas.
O esquema de Pimentel
O governador Fernando Pimentel é apontado como chefe de uma
organização criminosa que usou empresas de fachada para conseguir
recursos via caixa dois para a sua campanha ao governo do Estado em
2014. Eis os indiciados pela Polícia Federal:
Fernando Pimentel
Segundo a PF, Fernando Pimentel recebeu R$ 3,2 milhões por meio de empresa de fachada. Um dos pagamentos foi feito pelo Grupo Casino, que contou com o esforço do então ministro para impedir a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour
Carolina de Oliveira
Mulher de Pimentel usou sua empresa OLI Comunicação para receber R$ 2 milhões em 2012 do Grupo Casino, mas nunca prestou serviços à empresa francesa
Mr consultoria
Um dos repasses feitos à empresa de Carolina foi através da MR Consultoria, empresa de Mário Rosa. O contrato de fachada com a Casino chegou a R$ 8 milhões, segundo a Polícia Federal
Luciano Coutinho
Indiciado por corrupção passiva, o ex-presidente do BNDES inseriu cláusula condicionante de ausência de litígio para dificultar apoio financeiro para a fusão do Pão de Açúcar e Carrefour
Istoé
Fernando Pimentel
Segundo a PF, Fernando Pimentel recebeu R$ 3,2 milhões por meio de empresa de fachada. Um dos pagamentos foi feito pelo Grupo Casino, que contou com o esforço do então ministro para impedir a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour
Carolina de Oliveira
Mulher de Pimentel usou sua empresa OLI Comunicação para receber R$ 2 milhões em 2012 do Grupo Casino, mas nunca prestou serviços à empresa francesa
Mr consultoria
Um dos repasses feitos à empresa de Carolina foi através da MR Consultoria, empresa de Mário Rosa. O contrato de fachada com a Casino chegou a R$ 8 milhões, segundo a Polícia Federal
Luciano Coutinho
Indiciado por corrupção passiva, o ex-presidente do BNDES inseriu cláusula condicionante de ausência de litígio para dificultar apoio financeiro para a fusão do Pão de Açúcar e Carrefour
Istoé
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