Insuficiência cardíaca é a doença do século 21, afirma presidente da REBRIC
Especialista conclama a população a conhecer e se defender desse mal que ataca o coração e sabota a qualidade e a expectativa de vida
Sedentarismo, má alimentação, hipertensão, diabetes… Eis alguns dos
problemas cada vez mais presentes no dia a dia dos brasileiros em razão
das condições de vida da nossa sociedade. Todas as pressões do cotidiano
e maus hábitos acabam maltratando nosso coração, que aos poucos vai
perdendo sua capacidade de funcionar corretamente e acaba aumentando de
tamanho para compensar a necessidade de maior esforço. Essa disfunção é o
que chamamos de insuficiência cardíaca.
Na história da medicina ela é uma conhecida de longa data, mas digamos
que não era muito discutida. Há 30 anos, muito menos pessoas sobreviviam
ao infarto, ao derrame ou aos fatores de risco como hipertensão e o
colesterol elevado.
Mas, agora, a importância dada a essa condição chega com força. Hoje é
comum ver pessoas passarem por um infarto e seguirem com as suas vidas –
algo mais raro antigamente. Também deparamos no cotidiano médico com
crianças e jovens já reféns do sedentarismo e da pressão alta, por
exemplo. E é por isso que aumentam os números de indivíduos com
insuficiência cardíaca, assim como a preocupação com o assunto.
A insuficiência não se resume ao crescimento do tamanho do coração ou à
falta de fôlego para subir escadas. Está relacionada a um alto volume
de mortes e debilitações. Muitos acabam acreditando que a vida após um
infarto, ou de uma pressão alta mal controlada, é extremamente restrita
ou que ter um “coração inchado” é sinônimo de apresentar dificuldades
para realizar as tarefas do dia a dia. Isso só mostra, porém, quanto a
insuficiência cardíaca não está sendo tratada corretamente.
É preciso que as pessoas relatem essas dificuldades e não tenham
qualquer sentimento de vergonha por isso. Os médicos, ao mesmo tempo,
devem reconhecer estes sintomas para poderem fazer o diagnóstico de
insuficiência cardíaca – como cansaço, fadiga, falta de ar, desânimo,
que em muitos casos não é feito. Só assim médicos e pacientes entenderão
quanto a insuficiência cardíaca está afetando a qualidade de vida da
população.
Estudos internacionais apontam um aumento no número de pessoas com a
doença nos últimos anos. Segundo a Associação Americana do Coração, 5,7
milhões conviveram com a doença entre 2009 e 2011. O número subiu para
6,5 milhões no período até 2014. E a previsão é que esses casos cresçam
46% até 2030, chegando à marca de 8 milhões de pessoas.
Como médico, percebo que há uma grande responsabilidade por não
enfatizarmos quanto devíamos ao longo dos anos a importância desse
problema, as medidas para evitá-lo e a necessidade de buscar novas
soluções. Porém, vejo que não apenas médicos, mas todos os envolvidos
com o cuidado dessa condição precisam dar mais atenção a esse crescente
problema de saúde pública.
A Rede Brasileira de Insuficiência Cardíaca (REBRIC) é parte desse
esforço que cardiologistas em união com outros especialidades médicas e
profissionais de saúde (enfermeiros, fisioterapeutas e outros),
hospitais, universidades, sociedade civil, pacientes, governo e
entidades privadas, estão desenvolvimento para ajudar a população na
conscientização da doença. A REBRIC é a nossa luta para que a previsão
do grande aumento de pacientes não se concretize e para aqueles que
adquirirem a doença tenham um diagnóstico precoce, além do melhor
tratamento.
É preciso mudar os hábitos para que a insuficiência cardíaca deixe de
impor uma significativa perda na qualidade de vida entre os milhões de
brasileiros que convivem com a doença ou ainda a terão. Cuide da sua
pressão arterial e do seu estilo de vida hoje para que a insuficiência
cardíaca não se manifeste amanhã.
* Dr. Manoel Canesin é professor titular de cardiologia da Universidade
Estadual de Londrina (UEL), PhD pela Universidade de São Paulo (USP) e
presidente da Rede Brasileira de Insuficiência Cardíaca (REBRIC)
Saúde Abril - (Ilustração: Marcus Penna/SAÚDE é Vital)
Nenhum comentário:
Postar um comentário