Saiba qual é a eficácia do Coito Interrompido para prevenir uma gravidez indesejada
Na antiguidade, quando camisinhas e pílulas ainda eram
coisas pertencente às mentes fantasiosas, o coito interrompido era uma
das únicas maneiras efetivas de se prevenir uma gravidez indesejada. A
técnica é simples: na hora em que o homem percebe que irá ejacular, o
pênis é retirado da vagina para impedir que o esperma atinja o canal
vaginal. Depois que as camisinhas e pílulas começaram a se tornar mais
populares, esse método foi sendo deixado mais de lado, já que outras
preocupações começaram a surgir, como questão relativa à real eficiência
do método e as doenças sexualmente transmissíveis. Porém, hoje o método
ainda é muito presente na nossa sociedade, especialmente entre os
jovens e casais estáveis.
Algumas mulheres que usam pílula pedem que o parceiro
retire o pênis antes da ejaculação por não confiarem totalmente no
medicamento. Alguns que usam camisinha, com ou sem pílula, durante o
sexo, também fazem o coito interrompido por motivos de insegurança.
Muitas mulheres que não se sentem bem usando as pílulas (efeitos
colaterais) ou homens que perdem sensibilidade no pênis com as
camisinhas também tendem a optar pelo coito interrompido. Muitos casais
mais estáveis possuem uma grande tendência a usarem o método, pelo fato
de descartarem o medo das doenças sexualmente transmissíveis e/ou por
não se importarem muito caso exista uma gravidez. E, como último
exemplo, muitos jovens usam esse método porque todos sabem que nessa
fase o desejo fala mais alto do que a responsabilidade e quando vão ver
já estão no meio do ato sexual sem estarem usando medida preventiva
nenhuma. Assim, a pergunta que fica no final é: esse é um método efetivo
para a prevenção da gravidez, caso seja executado da maneira correta?
A principal polêmica do coito interrompido reside em uma
questão carregada de muito desentendimento, até mesmo entre os
profissionais da área: existe espermatozoide viável no líquido
pré-ejaculatório? Sim, esse é o principal problema que ronda
esse método contraceptivo. Muitas agências de saúde e profissionais
afirmam, com convicção, que existem dezenas de milhões de
espermatozoides ativos já nesse líquido, mesmo (pasmem!..) não existindo
evidências científicas para essa afirmação! Na verdade, isso chega a
ser quase um mito científico! Bem, primeiro de tudo vamos entender o que
é esse líquido.
Antes de ejacular, o corpo masculino, através das glândulas
de Cowper e Littre, produzem um fluído alcalino incolor e levemente
viscoso formado por muco e diferentes enzimas, em uma composição química
parecida com a do sêmen. Esse fluído possui a finalidade de neutralizar
a acidez do canal urinário criada pela urina, além de poder também ter
alguma função em diminuir uma pequena parte da acidez do canal vaginal
para uma maior taxa de sobrevivência dos espermatozoides liberados
posteriormente na ejaculação. A produção do líquido é iniciada com o
estímulo sexual durante a ereção, e é liberado em uma quantidade média
de 4 mililitros (mas existem raros casos em que o homem não produz o
fluído). E esse fluído é a única coisa que é liberada antes da
ejaculação. Portanto, para o método do coito interrompido funcionar é
preciso não existir espermatozoides ativos no mesmo.
Nos poucos estudos que endereçam essa questão, podemos
dividi-los em ´antes de 2011´ e ´depois de 2011´. Antes de 2011, alguns
poucos trabalhos científicos podem ser encontrados sobre o assunto, por exemplo)
e surpresa: nenhum deles conseguiu achar espermatozoide algum! Ou seja,
até o fatídico ano, não existia base científica alguma em dizer que o
método do coito interrompido era falho por existir liberação de massivas
quantidades de espermatozoides antes da ejaculação, mesmo quase todo
mundo dizendo o contrário. Só que um estudo de 2011,
analisando 27 homens, descobriu que 11 deles liberavam espermatozoides
junto ao líquido pre-ejaculatório, sendo que 10 produziram razoáveis
quantidades ativas dessas células. Os outros 16 voluntários produziram o
fluído com total ausência de espermatozoides. Porém, é válido mencionar
que os pesquisadores envolvidos nesse estudo admitiram que dois dos
voluntários que produziram espermatozoides antes da ejaculação podem ter
colocado o próprio líquido ejaculatório nas amostras a serem analisadas
por possível ´vergonha´ de não terem produzido fluído pré-ejaculatório
algum (algo não previsto pelos cientistas). Além disso, as quantidades
de espermatozoides no fluído dos 10 participantes eram muito baixas,
deixando os pesquisadores em dúvida do tamanho do risco de gravidez caso
o mesmo entrasse em contato com o canal vaginal. De qualquer forma, o
risco não é nulo e o uso de outros métodos anticoncepcionais seria
recomendado para aumentar a segurança. O porquê de alguns pacientes
liberarem espermatozoides enquanto a maioria não, é algo ainda pouco
compreendido, considerando que todos urinaram diversas vezes antes de
fazerem o teste (para se ter certeza que não haveriam espermatozoides
vivos ou mortos no canal urinário). Infelizmente, depois desse estudo,
mais nenhum outro foi feito, como evidencia alguns artigos de revisão
feitos nos últimos anos.
Portanto, analisando os poucos trabalhos científicos que
lidam com o assunto, isso justifica porque esse método foi usado por
tantos milhares de anos e quebra esse mito entre profissionais, agências
e população geral de que o fluído pré-ejaculatório sempre conterá
espermatozoide. Na verdade, a tendência é o contrário. Somando-se a
isso, temos alguns estudos, como um publicado em 2009 que
mostra que o uso do coito possui apenas uma leve menor eficiência do
que o uso da camisinha em relação à prevenção da gravidez, quando
estatísticas de censos são analisadas. O fato desse método preventivo
ser tão cercado de desinformações na área médica é bem difícil de se
entender. Não se sabe ao certo, por exemplo, de onde partiu o mito de
que todo fluído pré-ejaculatório contém altas quantidades de
espermatozoides. Especula-se que seja devido a um estudo de 1966, do
famoso time Masters & Johnson, no qual é dito que o
líquido pré-ejaculatório pode conter espermatozoides, mesmo sem base
clínica para tal afirmação (eles, pelo menos, colocaram o termo ´pode´).
A partir daí, provavelmente, a dúvida foi ganhando pernas, braços e
chifres, se tornando o monstro mentiroso de hoje.
Bem, para concluir, é bom lembrar que o coito interrompido,
mesmo sendo um método eficiente para a prevenção da gravidez (em alguns
homens mais do que outros, como mostrou o estudo de 2011), ele apresenta
sérios problemas quando analisado de forma isolada:
1. É preciso que o homem tenha total confiança e habilidade em
sempre retirar o pênis antes da ejaculação, algo que pode ser bem
difícil em certos momentos de excitação ou quando esquecido (no caso
desse não ser um método frequente na sua rotina). E, claro, o método não
é recomendado para homens que possuem ejaculação precoce;
2. Ele não previne doenças sexualmente transmissíveis. Apesar
disso, algumas como a Aids podem ter seu risco de contaminação reduzido
quando consideramos um homem infectado tendo relação sexual com uma
mulher não infectada. Isso se deve ao fato de menos fluídos contaminados
entrarem em contato com o canal vaginal, já que não haveria ejaculação
no mesmo. Porém, o vírus pode ser encontrado também no fluído
pré-ejaculatório, além da transmissão poder ocorrer através de feridas
no pênis;
3. Mesmo a maioria dos homens parecendo não ter espermatozoides
no líquido pré-ejaculatório, parte considerável da população pode tê-los
em pequena quantidade, o que já impõe um risco de gravidez acima de
zero, mesmo o coito interrompido sendo feito de forma correta.
4. Depois da primeira ejaculação com o coito interrompido, se uma
segunda relação sexual com penetração for feita logo em seguida,
esperma remanescente no canal urinário contendo enormes quantidades de
espermatozoide pode cair no canal vaginal, anulando tanto o primeiro
coito interrompido quanto o segundo. É recomendado que o homem urine
depois do coito interrompido caso ele planeje se engajar em uma segunda
penetração, para ´lavar´ o esperma restante no canal urinário. Mesmo
assim, corre-se o risco de uma parte considerável deles ainda sobreviver
por algum tempo. Depois da primeira interrupção do coito, portanto, é
melhor ou usar um método de barreira, como a camisinha, ou fazer outras
atividades sexuais com o parceiro sem ser a penetração, ou parar o sexo
ali.
Considerando esses pontos, vale a pena investir em outros
métodos anticoncepcionais (pílulas e DIU, por exemplo) e de prevenção às
DSTs (como a camisinha) em concomitância com o coito interrompido, caso
você for utilizá-lo. Se você apenas quer evitar a gravidez por possuir
uma relação estável e de confiança com seu parceiro, tente investir,
pelo menos, em um método anticoncepcional efetivo extra além do método
milenar. E converse com o seu médico para uma melhor avaliação das
opções e balanço dos riscos e benefícios.
(1) Estamos desconsiderando aqui uma prévia ejaculação recente
antes do método do coito interrompido. O esperma remanescente dentro do
canal urinário costuma não sobreviver por períodos de poucas horas após a
ejaculação, especialmente se o homem urinar depois (além de varrer o
esperma para fora do pênis, a urina deixa o ambiente ácido, criando um
ambiente totalmente desfavorável à sobrevivência dos espermatozoides).
Porém, se você ejaculou antes de fazer sexo e nem mesmo urinou após
isso, é grande as chances do fluído pré-ejaculatório carregar esperma
com ele, ou o próprio esperma dentro da uretra cair na vagina por conta
própria.
OBS.: É sempre bom deixar isso claro: PÍLULAS ANTICONCEPCIONAIS E
DIU NÃO PREVINEM DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS! O MELHOR MÉTODO
PARA ISSO É O USO DAS CAMISINHAS!
Fonte: Saber Atualizado
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