Fixado em R$ 959, valor do salário mínimo vai ser o menor desde 2004
(Foto: Reprodução/Internet) |
A
queda da inflação tem ajudado a melhorar o poder de compra da
população, mas vai fazer com que o reajuste do salário mínimo seja
pequeno no ano que vem. Pelas contas do economista Bráulio Borges, da
LCA Consultores, o governo precisará fazer uma nova correção na previsão
do mínimo de 2018, da atual alta de 3,4% — prevista no Projeto de Lei
Orçamentária (Ploa), enviado ao Congresso Nacional em agosto — para
2,4%.
Com a revisão, o mínimo deverá ser fixado em R$ 959, um
aumento de R$ 22 sobre o piso atual de R$ 937. Será a menor correção em
valores desde 2004 e ficará abaixo da de R$ 42 prevista na Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO), que considerava alta de 4,5%.
A
fórmula de reajuste do salário mínimo — criada em 2011 e que vigora até
2019 — considera a soma das variações Índice Nacional de Preços ao
Consumidor (INPC) do ano anterior mais a do Produto Interno Bruto (PIB)
de dois anos antes. Como não houve crescimento do PIB em 2016, o
reajuste do mínimo de 2018 levará em conta apenas a taxa do INPC deste
ano. Esse indicador de inflação será mais baixo do que o Índice de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), porque tem peso maior nos itens de
alimentação, que puxaram a deflação entre junho e agosto.
Na
opinião de Borges, o aumento menor do piso salarial tem um lado positivo
para as contas públicas: ajudará a reduzir as despesas com benefícios
previdenciários em R$ 6 bilhões. “No Ploa de 2018, o governo reduziu a
projeção para o mínimo de R$ 979 para R$ 969 e isso gerou um alívio de
R$ 3 bilhões nas despesas. Considerando a projeção mais recente da LCA
para o INPC e o atual piso salarial, a próxima revisão deverá levar o
mínimo em 2018 para R$ 959, economizando outros R$ 3 bilhões”, explicou.
No
entanto, para o economista e especialista em contas públicas Raul
Velloso, a correção do salário mínimo apenas pela inflação não deve
ajudar na expansão do Produto Interno Bruto (PIB), pois não estimulará o
consumo.
“Esse reajuste não vai contribuir sobre a atividade
econômica porque não haverá aumento real”, afirmou. Por outro lado, como
ainda haverá ajuste pela inflação, as despesas do governo continuarão
crescendo enquanto a arrecadação crescerá em ritmo menor, o que vai
fazer com que o governo gaste menos. “Enquanto não há reajuste em termos
reais, não há crescimento sobre a demanda para ajudar na economia”,
resumiu.
Alívio
Outro ponto negativo é que a
economia com o piso salarial menor não será suficiente para aliviar o
problema fiscal. O aumento apenas pela inflação, mesmo que baixa,
implicará elevação de R$ 6,6 bilhões nas despesas da Previdência, mais
do que a economia com a correção do INPC.
“Qualquer reajuste do
mínimo nesta circunstância de crise fiscal vai aumentar a despesa. A
regra atual prejudica as contas públicas e acredito que o próximo
governo precisará propor uma nova lei de correção do salário mínimo,
mudando para a variação do PIB per capita de dois anos atrás”, avaliou o
economista e ex-diretor do Banco Central, Carlos Eduardo de Freitas.
Ele defende uma mudança no modelo. “Não tem que dar correção nenhuma na
atual conjuntura”, afirmou. Desde 2000, o mínimo tem valorização
acumulada de 520,5%, mais do que o dobro da variação do IPCA até
setembro deste ano, de 206%.
Quem recebe salário mínimo,
entretanto, quer mais do governo. É o caso de Edileusa Sousa Pereira, 34
anos, que trabalha como auxiliar de produção e acha que o justo seria
um reajuste de, pelo menos, R$ 50.
“É muito pouco um aumento de R$
22. Vou continuar tendo que trabalhar para comprar apenas o básico e
pagar as contas. Lazer e outras coisas que não são essenciais
continuarão fora do meu poder aquisitivo”, lamentou. Edileusa tem um
filho com problema auditivo e precisa pedir ajuda à mãe para pagar todas
as contas da casa.
A auxiliar de limpeza Valmiria José da Costa,
43, acha que o ideal seria um reajuste de R$ 100, no mínimo. “Tudo está
muito caro! Não adianta nada aumentar R$ 22, sendo que todos os produtos
subiram mais que a inflação” disse.
Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário