Relatório da Organização das Nações Unidas indica alto número de gestantes adolescentes
Monique
Andressa Ferreira, 32 anos, teve a primeira filha na adolescência,
quando cursava o segundo ano do ensino médio. Moradora de Presidente
Prudente (SP), pouco depois de ter Isabela foi aprovada para o curso de
fisioterapia em Cascavel (PR), em tempo integral. Para não interromper
os estudos, contou com o apoio dos pais, que assumiram a maior parte dos
cuidados com a filha enquanto ela se graduava.
“Na época, não
tinha noção de nada. A sorte é que tive apoio dos meus pais, que não
permitiram que me casasse e me estimularam a continuar os estudos”,
afirmou Monique. A ajuda também veio do então namorado e de sua família.
“Foram dua famílias que se uniram para poder ajudar nessa situação.
Éramos muito novos, eu com 16 e ele com 17”, lembra sorrindo. Formada,
Monique voltou para a cidade natal e, pouco tempo depois, foi aprovada
em um concurso público. Hoje, ela mora com a família em Primavera do
Leste (MT).
O casamento com o pai de Isabela ocorreu há oito anos.
Apenas há dois eles decidiram ter o segundo filho, Natan Henrique. “Na
primeira gravidez não tinha o amadurecimento, a maturidade que tenho
hoje. Por isso, esperei tanto tempo para ter outro filho. Precisei estar
preparada”, disse.
Relatório
A história de
Monique e Isabela não é incomum. No Brasil, um em cada cinco bebês
nasce de mães adolescentes, segundo relatório das Nações Unidas Mundos
Distantes: Saúde e direitos reprodutivos em uma era de desigualdade,
lançado esta semana. Isso significa que ocorrem 65 gestações para cada
mil meninas de 15 a 19 anos. Referentes ao período de 2006 a 2015, os
dados tornam o Brasil o sétimo da América do Sul no quesito taxa de
gravidez adolescente. Países desenvolvidos como França e Alemanha
registram entre seis e oito casos do tipo, a cada grupo de mil meninas.
Apesar
do percentual ainda ser alto, o Ministério da Saúde informa que a
gravidez na adolescência teve uma queda de 35% no Brasil. A redução foi
de 750.537 nascidos vivos de mães entre 10 e 19 anos, em 2004, para
489.975, em 2015. Segundo o ministério, a diminuição está relacionada a
vários fatores, entre os quais a expansão do programa Saúde da Família e
o programa Saúde na Escola, que oferece informação de educação em
saúde. Apesar dos esforços, 66% das gravidezes em adolescentes são
indesejadas.
Creches
O estudo elaborado
pelo Fundo de Populações das Nações Unidas (Unfpa) indica que de cada
cinco adolescentes brasileiras que engravidaram três não trabalham nem
estudam, sete em cada dez são afrodescendentes e aproximadamente a
metade mora na região Nordeste. Diante desse quadro, a ONU relaciona a
ocorrência às desigualdades, que geram dificuldades no acesso à saúde, o
que envolve a garantia dos direitos sexuais e reprodutivos e a
capacidade de planejamento familiar, algo que, conforme o relatório,
acaba sendo viável apenas para as camadas mais privilegiadas.
A
falta de políticas que garantam creches limita as mulheres na busca por
empregos. Problemas também atingem aquelas que estão no mercado de
trabalho, pois muitas vezes são levadas a escolher entre avançar na
carreira e se tornar mães. Isso ocorre já após a gravidez, dados os
limites das licenças-maternidade e paternidade. Além dos desafios
enfrentados por cada família, os impactos estendem-se à sociedade em
geral.
As Nações Unidas destacam que a demanda não atendida por
serviços de saúde pode enfraquecer as economias, já que as mulheres,
sobretudo as mais pobres, perdem possibilidades de desenvolver
habilidades, alcançar poder econômico e comprometer a meta de eliminar a
pobreza no mundo.
Por isso, o estudo recomenda que os governos
priorizem pessoas em situação de maior vulnerabilidade, especialmente as
jovens mulheres pobres, desenvolvendo políticas de combate à
desigualdade de gênero e à garantia de direitos, como o direito à saúde.
Planejamento
“A
desigualdade de gênero e a disparidade no gozo da saúde e dos direitos
sexuais e reprodutivos são dois aspectos fundamentais que não recebem
suficiente atenção, especialmente o último.” O relatório, que trata de
outros aspectos relacionados à questão, como taxa de mortalidade, revela
que é preciso ampliar a disponibilidade e a acessibilidade da
informação e dos serviços para se obter melhores resultados no âmbito da
saúde reprodutiva. “Mas isso é apenas parte da solução. A menos que
comecemos a abordar desigualdades estruturais e multidimensionais dentro
das sociedades, nunca alcançaremos o mais alto nível de saúde sexual e
reprodutiva para todos”, alerta o ministério.
No caso do Brasil, o
Ministério da Saúde afirma que investe em políticas de educação em
saúde e em ações para o planejamento reprodutivo. A principal ação de
prevenção da gravidezes não desejadas é a oferta de oito métodos
contraceptivos em postos do Sistema Único de Saúde (SUS).
As
modalidades são injetável mensal, injetável trimestral, minipílula,
pílula combinada, diafragma, pílula anticoncepcional de emergência (ou
pílula do dia seguinte), camisinha (feminina e masculina) e Dispositivo
Intrauterino (DIU). Este ano, o órgão ampliou o acesso ao DIU, método
que, por durar 10 anos de forma contínua, não precisa ser acionado antes
do ato sexual. Ele não previne, contudo, as doenças sexualmente
transmissíveis. Nas unidades de saúde, também é possível obter
orientações sobre planejamento familiar.
Agência Brasil
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