quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Bomba

Cármen Lúcia e Gilmar Mendes citados: Ouça os áudios que podem anular as delações da JBS


A VEJA teve acesso às conversas que os delatores da JBS Joesley Batista e Ricardo Saud entregaram à procuradoria-geral da República (PGR) na última quinta-feira à noite. Na primeira parte dos áudios (confira abaixo), os dois delatores, aparentemente sem notar que estão eles próprios se gravando, falam, entre outros temas, sobre como se aproximar do procurador-geral Rodrigo Janot por meio do agora ex-procurador Marcelo Miller e sobre a exigência de eles não serem presos após fecharem os acordos de delação premiada.
Em um dos pontos mais sensíveis do áudio, possivelmente gravado no dia 17 de março, Joesley e Ricardo Saud afirmam que Fernanda, possivelmente a advogada Fernanda Tórtima, “surtou” porque, a depender dos rumos da delação e de qual autoridade citassem em depoimento, os dois poderiam “entregar” o Supremo, em referência a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Os delatores também analisam que, ao decidirem delatar, têm de “ser a tampa do caixão” na política brasileira.
“Eu quero nós dois 100% alinhado com o Marcelo…nós dois temos que operar o Marcelo direitinho pra chegar no Janot…eu acho…é o que falei com a Fernanda [possivelmente Fernanda Tórtima, advogada]…nós nunca podemos ser o primeiro, nós temos que ser o último, nós temos que ser a tampa do caixão…Fernanda, nós nunca vamos ser quem vai dar o primeiro tiro, nós vamos o último…vai ser que vai bater o prego da tampa”, diz Joesley Batista em um dos trechos da gravação. “Nós fomos intensos pra fazer, temos que intensos pra terminar”, completa o empresário.
Na conversa, Saud comenta como Marcelo Miller, que foi braço direito de Janot no Ministério Público, está atuando para “tranquilizar” os delatores e relata que a tática para se aproximar e conquistar a confiança do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, é a de “chamar todo mundo de bandido”.
“Cara, eu vou te contar um negócio, sério mesmo. Nós somos do serviço, né? (A gente) vai acabar virando amigo desse Ministério Público, você vai ver. Nóis vai virar amigo desse Janot. Nóis vai virar funcionário desse Janot. (risos). Nós vai falar a língua deles. Você sabe o que que é?”, questiona Joesley.
“A língua… domina o país… dominar o país”, completa Saud. Na sequência, Joesley dá a deixa: “Você quer conquistar o Marcelo? Você já achou o jeito. Cê quer conquistar o Marcelo? Você já achou o jeito. É só começar a chamar esse povo de bandido. Esses vagabundo bandido, assim”.
Na conversa gravada entregue à PGR (Procuradoria-Geral da República), Joesley Batista e Ricardo Saud, executivos e delatores da JBS, citaram ao menos dois ministros do STF: a presidente Cármen Lúcia e Gilmar Mendes, apurou a Folha.
Os diálogos não contêm indícios de crimes cometidos por eles, segundo pessoas ligadas às investigações.
A conversa foi gravada por acaso no dia 17 de março, antes de assinarem o acordo de delação com a PGR.
Sobre Gilmar Mendes, Saud teria dito que o advogado Marcelo Miller — até então procurador da República que trabalhava junto com Rodrigo Janot na Lava Jato — aconselhou a empresa a “esquecer a briga” entre Janot e o ministro.
Saud daria a entender que Miller sugeriu que os colaboradores entregassem informações sobre outros três ministros ao procurador-geral.
Segundo antecipou a coluna Mônica Bergamo, essas informações poderiam ser obtidas se eles pressionassem José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça no governo Dilma Rousseff, de acordo com relatos de quem ouviu a gravação.
Na conversa, os executivos afirmariam que Cardozo teria informações sobre “cinco ministros do Supremo”.
Os executivos teriam comentado suposta intimidade de Cardozo com Cármen Lúcia, o que lhe facilitaria transitar na corte.
Ele também teria boa relação com Dilma e com a advogada Fernanda Tórtima, que trabalha para a JBS, de acordo com relatos de quem ouviu a gravação.
Ao menos três pessoas diferentes que ouviram os áudios destacam que não há nenhuma informação comprometedora em relação aos ministros do Supremo.
Os executivos tratam ainda sobre “Marco Aurélio”. Não está claro se é uma referência em relação ao ministro Marco Aurélio Mello, do STF, ou ao advogado petista Marco Aurélio Carvalho, amigo de Cardozo. Tampouco há indícios de crimes neste caso.
‘DISSOLVER O SUPREMO’
O site da revista “Veja” divulgou nesta terça (5) três áudios com conversas entre Saud e Joesley Batista.
Nesses arquivos, ouvidos pela Folha, ambos aparecem ouvindo música —soava como uma gravação ao vivo de axé music— enquanto discutem uma estratégia: “moer o Judiciário”, diz Batista, já que a “Odebrecht moeu o Legislativo”.
“Ricardinho, eles vão dissolver o Supremo. É o seguinte: eu vou entregar o Executivo e você entrega o Zé [Eduardo Cardozo]”, planeja o empresário. “Vou ligar pra ele: ‘Zé, você precisa trabalhar conosco, precisa organizar o Supremo, véi. Quem nós temos no Supremo?”
Essa era, para Joesley Batista, sua “única chance de sobreviver”.
O empresário descreveu o que seria seu jeito de tratar com o poder: “Fomos obedientes. O sistema era um, nós era um [sic]. O sistema era outro, mudamos de lado. Não pactuamos com isso, não gostamos disso, queremos contribuir e era isso aí. Viramos de lado”.
De “Zé”, ele comentou que esperava que o ajudasse a entender quem é cada um dos ministros.
“O A é isso, o B é isso. Qual a influência que você tem nesse? E esse filho da puta, como é? Como nós grampeia ele? [sic]”, imaginou o empresário, simulando uma possível conversa com “Zé”.
Sobre Marcelo Miller, ele diz que planejava “operar direitinho” o ex-procurador para “chegar no Janot”.
Joesley Batista ainda abre uma intimidade sua a Saud, algo que diz nunca ter contado a ninguém até aquele momento: “Acho que leio a alma das pessoas”.
O empresário acredita que lê os pensamentos das pessoas com quem conversa: “Sei o que você tá pensando e o que você tá falando. Só que eu não ajo com o que você tá me falando, eu acho com o que você tá pensando”.
“É por isso que muitas vezes eu falo cada barbaridade e ninguém concorda”, explica-se Joesley. A crença, ele ressalva, pode ser um erro, ou “pretensão demais”. No entanto, ele reafirma que pensa que “muito pouca gente” o engana.
Veja

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