Rodrigo Janot diz que ‘sentiu náusea’ quando ouviu gravação de Michel Temer
Procurador-geral da República relata que ficou enjoado ao ouvir a conversa do presidente com Joesley Batista e defende denúncia: 'A narrativa é fortíssima'
O procurador geral da República, Rodrigo Janot no julgamento sobre a validade das delações, no STF em Brasília - 29/06/2017 - (Carlos Moura/SCO/STF/Divulgação) |
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou nesta quarta-feira que ficou enjoado ao ouvir a gravação da conversa entre o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista, da JBS. “Fiquei chocado e senti náusea”, contou em entrevista à Globonews. “Foi minha reação física. Enjoado mesmo.”
Na gravação, que foi uma das bases da denúncia da PGR contra
o peemedebista por corrupção passiva, Joesley relata a Temer em um
encontro sem registro oficial no Palácio do Jaburu que “está bem” com o
ex-deputado Eduardo Cunha, preso na Lava Jato, e que cooptou um
procurador que o investigava.
Questionado sobre as críticas à denúncia, Janot defendeu a
peça e lembrou que o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, flagrado
recebendo uma mala de 500 mil reais de um diretor da JBS, foi indicado
pelo próprio Temer a Joesley como seu intermediário. “Se isso é fraco,
não sei o que é forte.”
“Um empresário investigado tem uma conversa que ele grava
com um ex-deputado acertando a ida dele à residência do Presidente da
República à noite, sem testemunhas. Chega ao palácio, não é sequer
identificado na porta e tem uma conversa muito pouco republicana com o
presidente”, disse Janot. “A narrativa é fortíssima.”
O procurador-geral negou que o Ministério Público tenha
orientado Joesley a gravar a conversa com Temer. “Essa gravação foi
feita espontaneamente por aquele que seria o delator. [A PGR] Não
combinou absolutamente nada.”
Fatiamento
Janot também descartou qualquer motivação política na
decisão de dividir as denúncias contra Temer, o que renderia maior
desgaste ao peemedebista. Segundo o procurador-geral, as outras duas
linhas de investigação continuam abertas e “têm o seu tempo próprio”.
“São três fatos distintos – corrupção, obstrução e organização
criminosa. As denúncias têm de correr separadas.”
Raquel Dodge
Na entrevista, Janot minimizou sua rivalidade com Raquel
Dodge dentro do Ministério Público. A procuradora foi a escolhida por
Temer para assumir o comando da PGR a partir de setembro, com o fim do
mandato de Janot. Ela ainda precisa ser aprovada pelo Senado. “Minha
forma de trabalho é diferente da dela, mas somos todos Ministério
Público”, afirmou. E desejou sucesso à provável sucessora: “A
responsabilidade será enorme. Ela vai ter muito trabalho”.
Ameaças
O procurador-geral também revelou que ele e sua família já
sofreram ameaças. “Ando com sistema de proteção. Eu, minha mulher e
minha filha”, afirmou. “Não tenho medo. Trato profissionalmente.”
Veja
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