domingo, 16 de julho de 2017

Juiz e homossexual assumido

Homossexual assumido e juiz destemido, o paraibano Herman Benjamin fez história no TSE 

Paraibano Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamin foi o relator do maior processo da história do tribunal.


Não era sua especialidade, mas o ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Herman Benjamin decidiu fazer daquela a ação de sua vida.
E não era para menos. Aos 59 anos, o paraibano Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamin foi o relator do maior processo da história do tribunal, que podia cassar, por abuso de poder político e econômico, a chapa presidencial composta por Dilma Rousseff e Michel Temer nas eleições de 2014.
Precisou deixar de lado causas de direito ambiental e do consumidor, áreas nas quais é referência, para se debruçar com rotina quase acadêmica – com inúmeras horas de estudo e levantamento de detalhes – ao financiamento eleitoral.
Seu voto seria histórico, e ele sabia disso. A amigos confidenciou que apresentaria seu parecer em abril, antes do fim do mandato dos ministros Henrique Neves e Luciana Lóssio.
Os dois deixariam o TSE neste ano e especulações de que Temer os substituiria por magistrados alinhados ao governo incomodou Benjamin.
Quem o conhece apostou que ele iria votar pela cassação sem a separação das contas da campanha – oposto do que desejava a defesa do presidente peemedebista.
Benjamin é vaidoso, dizem os mais próximos, e sabia que tinha oportunidade de fazer história a poucos meses de deixar a corte, em outubro deste ano.
HÁBITOS
Os mais cautelosos, porém, ponderaram que o juiz não nasceu para ser herói e que os holofotes logo mudarão de rumo. Mas Benjamin quis aproveitar a oportunidade para se credenciar a uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal).
Costuma dizer que fez o que ninguém faria: se ministros delegavam a tomada de depoimento a juízes instrutores, ele ouviu pessoalmente todas as testemunhas da ação, inclusive aquelas fora de Brasília, onde vive desde 2006.
O ministro tenta manter hábitos interioranos. Costuma almoçar em casa. Não come carne vermelha e frango, e consome orgânicos.
Nascido em Catolé do Rocha (PB), município que tem hoje menos de 30 mil habitantes, Benjamin mudou-se ainda adolescente para Pernambuco, onde cursou o Ensino Médio. Formou-se em Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro e fez mestrado nos Estados Unidos.
De 1982 a 2006, integrou o Ministério Público de São Paulo. Dali, foi a Brasília por indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Entre os colegas, ganhou fama de ser rígido. Defende suas posições com vigor em plenário. Há quem diga que prefere evitar embates públicos com Benjamin.
Não que seja deselegante. Mas as paixões afloram na oratória e, mesmo que esteja contra a maioria, se sobressai com fortes argumentos. Benjamin fala espanhol, inglês, francês e alemão.
RIGOR
Na Segunda Turma do STJ, da qual faz parte, é apontado como pró-Estado em questões do direito público, como as que envolvem indenizações da União, impostos e improbidade.
Também como pouco suscetível a pressões, reservado e preocupado em evitar vazamentos dos casos em que atua como relator.
A Operação Acrônimo, seu maior processo no STJ, tem essa marca. Várias vezes o ministro proibiu que os advogados de quem era alvo de mandados acessassem os autos.
Mesmo assim, advogados consideram Benjamin equilibrado nas decisões em medidas cautelares: negou pedido de busca e apreensão no Palácio da Liberdade, sede do governo de Minas. Um dos alvos da investigação era o governador Fernando Pimentel (PT).
Em outubro de 2015, um ano após a eleição presidencial, Benjamin chegou ao TSE, seguindo uma fila regimental de ministros do STJ que compõem o tribunal.
Na Justiça Eleitoral, dizem colegas, ele age "no limite da ficha limpa" e vota pela cassação de mandatos em casos que, para outros, seriam improcedentes.
Fez assim a fama de "rigoroso", característica que acredita contribuir com a pretensão ao Supremo.
INIMIZADES
Esse desejo criou uma importante inimizade dentro no STJ. É sabido que ele e o ministro Mauro Campbell não se dão muito bem.
Muitos advogados reclamam da dificuldade de marcar uma audiência com o magistrado e contam que, muitas vezes, viajam de outros Estados a Brasília para uma reunião pré agendada que ele desmarca em cima da hora.
É admirado, por outro lado, por se assumir homossexual, tratando de forma aberta o tema no ambiente conservador do Judiciário.
Da Redação com Folha

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