Juíza federal Gabriela Hardt manda soltar ex-banqueiro preso na Operação Lava Jato
José Augusto dos Santos, fundador banco BVA, é suspeito de receber dinheiro sujo referente à compra de um campo de petróleo na África pela Petrobras
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Juíza substituta Gabriela Hardt - (Divulgação) |
A juíza federal Gabriela Hardt, que substitui o juiz federal Sergio Moro durante viagem dele a Portugal, determinou nesta terça-feira que o ex-banqueiro José Augusto Ferreira dos Santos, preso temporariamente na 41ª fase da Lava Jato, seja solto. Fundador do banco BVA, que faliu em 2014, Ferreira dos Santos é suspeito de ter recebido dinheiro sujo da compra, pela Petrobras, de um campo de petróleo no Benin, na África.
No despacho em que decide soltar o ex-banqueiro,
Hardt afirma que a prisão temporária de Ferreira dos Santos cumpriu os
objetivos de “evitar dissipação de provas e concertação fraudulenta de
versões entre os investigados, como ocorreu em casos pretéritos nesta
mesma investigação” e, assim, não se justifica sua conversão em prisão
preventiva.
A magistrada estipulou, contudo, algumas restrições à
liberdade de José Augusto Ferreira dos Santos. Ele deverá comparecer a
todos os atos do processo, está proibido de deixar o país e deve
entregar seus passaportes, não poderá deixar sua residência, na Zona
Oeste do Rio de Janeiro, por mais de 30 dias, nem mudar de endereço, nem
deixar o país sem autorização prévia da Justiça.
As suspeitas sobre o ex-banqueiro
A evidência de que José Augusto Ferreira dos Santos pode ter
recebido parte das vantagens indevidas do negócio africano da Petrobras
é uma conta na Suíça em nome da Stingdale Holdings, offshore sediada no
Panamá que ele mantinha com João Augusto Rezende Henriques, lobista já
condenado a 19 anos e 8 meses de prisão na Lava Jato. Henriques recebeu
comissão de 10 milhões de dólares da Companie Beninoise des
Hydrocarbures (CBH), que vendeu o campo de petróleo à Petrobras, e
repassou parte do dinheiro, 1,3 milhão de francos suíços, o equivalente a
1,5 milhão de dólares, ao ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
em uma conta suíça.
A conta suíça da Stingdale recebeu, em maio de 2012, 1,1
milhão de dólares de uma conta em nome da offshore Acona International, a
mesma usada por João Augusto Henriques para receber a comissão
referente à negociação africana da estatal e remeter dinheiro sujo a
Cunha. “Tais valores podem estar relacionados ao recebimento pela Acona
International de comissão em contrato entre a Petrobrás e a CBH para
aquisição dos direitos de exploração de petróleo no Bloco 4 em Benin e
que também [a comissão] serviu para pagar propina ao então Deputado
Federal Eduardo Cosentino da Cunha e, em cognição sumária, para o
gerente da Petrobrás Pedro Augusto Cortes Xavier Bastos”, afirma Sergio
Moro no despacho.
De acordo com os investigadores, o suposto envolvimento de
Ferreira dos Santos com propinas pode não ter se restringido à compra do
campo do Benin. Outra offshore do ex-banqueiro identificada pela
força-tarefa da Lava Jato, a Penbur Holding S/A, no Banco BSI, recebeu,
entre fevereiro e agosto de 2012, 1,1 milhão de francos suíços de contas
controladas na Suíça pelo empreiteiro Ricardo Pernambuco Backheuser,
dono da Carioca Engenharia e delator. “Ricardo Pernambuco Backheuser
teria afirmado, em acordo de colaboração premiada, que a conta Penbur
Holding teria a ele sido indicada por Eduardo Cosentino da Cunha para o
recebimento de vantagem indevida em acertos de corrupção envolvendo
contratos do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro”, diz Moro.
Além das duas offshores com contas na Suíça, a Ibatiba
Assessoria, Consultoria e Intermediação de Negócios, empresa aberta em
Três Rios (RJ) em 2010 e transferida a São Paulo em 2015, também é
apontada pela Lava Jato como indicador de supostas atividades ilícitas
do ex-banqueiro.
A firma, da qual José Augusto Ferreira dos Santos foi sócio
majoritário até 2012, recebeu cerca de 31,3 milhões de reais das
empreiteiras Mendes Junior, Andrade Gutierrez, Camargo Correa e OAS,
todas envolvidas no petrolão, entre 2010 a 2012. Neste próspero
intervalo de tempo, a empresa funcionava em um imóvel modesto na cidade
do interior fluminense.
Controlada desde 2012 pelos filhos do empresário, Fábio
Augusto Guimarães Ferreira dos Santos e Felipe Guimarães Ferreira dos
Santos, a Ibatiba movimentou 88,7 milhões de reais entre 2010 e 2013,
período em que teve receitas de 32,2 milhões de reais.
“Todos estes indícios convergem para o fato de esta empresa
não ter realizado, efetivamente, qualquer prestação de serviços, sendo
mais uma pessoa jurídica de fachada utilizada para o pagamento de
vantagens indevidas”, conclui a Receita Federal em relatório anexado aos
autos da investigação.
Sediada em um endereço na capital paulista que “tem todas as
características de se tratar de um endereço residencial e também
incompatível para o funcionamento de uma empresa que fatura milhões por
ano”, segundo a Receita, a Ibatiba foi alvo de mandado de busca e
apreensão nesta sexta-feira.
Veja
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