Entenda as poucas chances de Temer salvar o seu mandato
Publicado por: Gutemberg Cardoso
Desmembramento ou pedido de vista do julgamento no TSE pode ser ponto final de governo Temer
Além da absolvição, Michel Temer conta com outras possibilidades na
retomada do julgamento da chapa presidencial no TSE, no dia 6
Apontado como uma das possibilidades de desfecho para a crise
política instaurada desde que vieram à tona as delações dos executivos
da JBS, o julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de supostos
crimes eleitorais cometidos pela chapa Dilma Rousseff (PT)/Michel Temer
(PMDB) na disputa de 2014 será retomado no dia 6.
Está nas mãos dos sete ministros da Corte Eleitoral o destino do
presidente peemedebista, que já é alvo de 17 pedidos de impeachment por
crime de responsabilidade e violação do decoro do cargo, ao tratar com
Joesley Batista, dono da JBS, de crimes como o pagamento de mensalinho
ao procurador da República Ângelo Goulart e mesada ao ex-presidente da
Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB/RJ), preso desde outubro de
2016 no âmbito da Operação Lava-Jato.
O julgamento, no entanto, trata de outro crime. A chapa é acusada
pelo PSDB – derrotado na disputa presidencial – de ter usado dinheiro
desviado da Petrobras para custear seus gastos. Além disso, teria
contabilizado despesas superiores aos valores declarados à Justiça
Eleitoral.
No meio dessa discussão, aliados e advogados de Temer já fazem as
contas: admitem que pelo menos três dos sete ministros votarão pela
cassação da chapa, o que resultaria na perda do mandato do peemedebista e
tornaria Dilma e Temer inelegíveis por oito anos.
O TSE prevê uma agenda de três dias de julgamento, prazo que Temer
espera ver prorrogado. A expectativa é que até o final do julgamento, as
reformas trabalhista e previdenciária estejam aprovadas e a
estabilidade política tenha sido retomada.
O
melhor dos cenários para os planos de Temer é um pedido de vistas –
usado pelo magistrado que alega precisar conhecer melhor um processo, o
que alongaria o julgamento por mais alguns meses. Dois novos ministros
chegaram à corte recentemente, no meio do furacão: Admar Gonzaga,
empossado em 27 de abril, na vaga de Henrique Neves, e Tarcísio Vieira
de Carvalho Neto, nomeado no último dia 9 para ocupar a cadeira de
Luciana Lóssio.
Até foi cogitada a possibilidade de Neves e Lóssio anteciparem seus
votos, mas o agendamento para junho impossibilitou a participação deles
na análise da ação. Embora a hipótese seja menos provável, ainda é
possível um adiamento por meio de questões de ordem, pedidos de
discussões preliminares e recursos dos advogados.
A defesa de Temer ainda tenta uma cartada: quer convencer os
ministros que um processo envolvendo uma chapa de candidatos a cargos
majoritários pode ser desmembrado. A tese é mostrar que os gastos do PT e
PMDB foram feitos individualmente, e o então candidato a
vice-presidente não tinha qualquer controle ou conhecimento nas
negociações feitas pela equipe de Dilma Rousseff.
Dessa forma, Temer seria inocentado e garantiria o término do
mandato, em 31 de dezembro do ano que vem. Já Dilma, se condenada,
apenas se tornaria inelegível, já que ela já teve o mandato cassado.
Na pior das alternativas, caso seja derrotado no TSE, Temer ainda
pode conseguir uma liminar no Supremo Tribunal Federal (STF) e
permanecer no Planalto enquanto recorre da decisão. Se não conseguir o
benefício, como não tem um vice, é substituído imediatamente pelo
presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Leituras
A discussão da campanha de 2014 teve início em 4 de abril, mas por
unanimidade os sete ministros decidiram reabrir a etapa de coleta de
provas, autorizar depoimentos de novas testemunhas e conceder novo prazo
para as alegações finais da defesa. Com isso, depois de quase duas
horas de reunião, o julgamento foi suspenso e remarcado esta semana. A
sessão tem início com a leitura do relatório por Benjamin Herman, que
traz um resumo do processo.
Os
advogados de acusação e defesa têm então 15 minutos, cada, para suas
versões. Logo após o Ministério Público Eleitoral (MPE) faz as
ponderações. Somente a partir daí o relator dá seu voto, que pode ser
seguido ou não pelos demais ministros. Pelo regimento interno do TSE,
depois do relator votam os ministros Napoleão Nunes Maia, Admar Gonzaga,
Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, Luiz Fux (vice-presidente do TSE),
Rosa Weber e, por fim, Gilmar Mendes.
NA MIRA DO TSE
A ação contra a chapa Dilma-Temer foi proposta pelo PSDB e partidos
coligados na disputa presidencial de 2014. Os autores alegam que a
campanha dos adversários usou dinheiro desviado da Petrobras para
custear seus gastos. Além disso, argumentam que as despesas foram
superiores aos valores declarados à Justiça Eleitoral, e algumas delas
não foram comprovadas.
O que está em julgamento?
» O governo teria recebido R$ 50 milhões para a aprovação da MP
conhecida como Refis da Crise. O dinheiro, recebido em 2009, foi usado
apenas em 2014, na forma de caixa 2.
» Partidos políticos receberam R$ 5 milhões para se aliar à chapa
encabeçada pelo PT. A estratégia era garantir mais tempo na propaganda
eleitoral gratuita de rádio e televisão.
» Ao marqueteiro João Santana foram pagos R$ 16 milhões de caixa 2, em
contas no exterior. O ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht diz
que Dilma Rousseff sabia da operação.
O que as defesas alegam?
» Que não compete à chapa saber a origem do dinheiro doado;
» A defesa do presidente Michel Temer ainda tenta desmembrar o processo
com o argumento de que os gastos do PT e do PMDB foram feitos
individualmente.
O que pode acontecer?
» Se a ação for julgada improcedente, ninguém será punido. Fica tudo como está.
» Se for julgada procedente, o presidente Michel Temer é cassado (já que
Dilma não está mais no cargo), e ambos se tornam inelegíveis por oito
anos.
» Se a Justiça desmembrar o processo e julgar as acusações contra Temer improcedentes, ele é mantido no cargo.
Quem assume se Temer for cassado?
» Temer pode recorrer da decisão ao Supremo Tribunal Federal (STF) e
conseguir uma liminar para permanecer no cargo até o julgamento do
mérito.
» Caso contrário, o Palácio do Planalto é assumido pelo presidente da
Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que terá 30 dias para
convocar eleições indiretas. O STF deverá se pronunciar sobre como será o
processo eletivo e quem poderá ser candidato.
» Há uma proposta de emenda à Constituição em tramitação na Câmara que
prevê a realização de eleições diretas. Para a medida entrar em vigor,
precisa ser aprovada em dois turnos pelos deputados e em dois pelos
senadores.
Qual a composição do TSE?
» A corte é formada por sete ministros, três indicados do STF (Gilmar
Mendes, Rosa Weber e Luiz Fux), dois do Superior Tribunal de Justiça
(Herman Benjamin e Napoleão Filho) e dois da advocacia, Admar Gonzaga e
Tarcísio Vieira, indicados por Temer.
Polêmica Paraíba
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