‘É melhor jogo de torcida única’, diz Moro sobre oitiva do ex-presidente Lula
Em evento nesta segunda-feira em Curitiba, juiz federal voltou a recomendar a apoiadores da Lava Jato que não se manifestem no dia do depoimento do petista
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O juiz federal Sergio Moro, em evento do Observatório Social do Brasil em Curitiba - (Reprodução/Reprodução) |
O juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato
em primeira instância em Curitiba, recorreu nesta segunda-feira a uma
metáfora futebolística ao dizer que prefere que o depoimento do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
como réu seja um “jogo de torcida única”. A declaração, dada na
abertura de um evento do Observatório Social do Brasil na capital
paranaense, reforça a posição do magistrado de não incentivar
manifestantes favoráveis à operação a irem às ruas de Curitiba no dia da
oitiva de Lula, marcada para a próxima quarta-feira às 14h. Caravanas
de militantes petistas e de movimentos de esquerda se mobilizam para ir à
cidade no dia do depoimento.
“É melhor que seja um jogo de uma torcida única, se as
pessoas querem sair à rua manifestar apoio ao investigado naquela data.
Aí tem que se evitar qualquer espécie de confronto. Eu digo isso com
tranquilidade, porque eu não sou algum dos times em campo, eu sou o
juiz, não torço para nenhum dos times que estão ali jogando. Minha
preocupação principal em transmitir esse recado é que nessa data não é
necessário”, afirmou Moro, que voltou a classificar a oitiva do
ex-presidente como “natural dentro do processo penal”.
No final de semana, o magistrado usou uma página administrada por sua mulher, a advogada Rosângela Wolff Moro, no Facebook, para recomendar a seus apoiadores que evitassem atos públicos contrários a Lula.
“Eu tenho ouvido que muita gente que apoia a operação Lava
Jato pretende vir a Curitiba manifestar apoio. Ou pessoas mesmo de
Curitiba pretendem vir aqui. Eu diria o seguinte: esse apoio sempre foi
importante, mas nessa data ele não é necessário. Acima de tudo, quero
que ninguém se machuque. Não venha, não precisa, deixem a Justiça fazer
seu trabalho. Espero que todos compreendam”, disse o juiz federal.
Prisões preventivas
No evento desta segunda-feira, Sergio Moro voltou a defender
as prisões preventivas determinadas por ele na Lava Jato, algumas das
quais derrubadas nas últimas semanas na Segunda Turma do Supremo
Tribunal Federal (STF).
Embora tenha classificado as divergências entre juízes como
“naturais”, o magistrado ressaltou que um dos principais motivos à
decretação das prisões provisórias é o que chama de “caráter serial” do
cometimento de crimes. Para Moro, “se não se age com vigor, não se
debela essa prática especifica”.
Ao exemplificar criminosos reincidentes em escândalos de
corrupção, o juiz federal lembrou políticos envolvidos tanto mensalão
quanto no petrolão, como o ex-deputado federal José Janene (PP-PR).
“Quando vejo indivíduos que receberam vantagens indevidas no
mensalão e no esquema criminoso que vitimou a Petrobras, eu indago se
as coisas não poderiam ter sido muito diferentes se em 2005 e 2006 não
tivessem sido decretadas algumas prisões preventivas no caso da ação
penal 470 [mensalão]. Não me compreendam mal, não faço uma crítica ao
STF, porque não tinha bola de cristal e não sabia que continuariam
recebendo vantagens indevidas. Mas se algum daqueles indivíduos, tanto
no mensalão, como no caso da Petrobras, como o ex-deputado Janene, que
foi uma figura central dos dois esquemas de corrupção, tivessem sido
“tirados de área” em 2005, 2006, as coisas não teriam sido diferentes?
Talvez não, mas é um jogo interessante de se fazer questionar o ‘e se’”,
afirmou.
Sergio Moro também disse entender que “estamos hoje em uma
encruzilhada, talvez saindo de um quadro de corrupção sistêmica, de um
quadro de impunidade e irresponsabilidade, para um cenário de menor
corrupção e de efetiva responsabilização. Essa responsabilização não
esta segura e não se faz sem alguma turbulência”.
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