‘Vocês fizeram o Mês Lula na Operação Lava Jato’, acusa ex-presidente petista
Petista atacou Moro e o MP e disse que trabalharam "para trazer todo mundo pra falar uma senha chamada Lula"
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O ex-presidente Lula faz discurso na praça Santos Andrade, que reúne militantes favoráveis a ele, no centro de Curitiba - (Paulo Whitaker/Reuters) |
Alvo de cinco ações penais relacionadas ao
petrolão, o ex-presidente Lula disse, em depoimento nesta quarta-feira
ao juiz Sergio Moro, que, nas últimas semanas, a Lava-Jato fez um
esforço concentrado para buscar acusações contra ele. “Aqui na sua sala
estiveram 73 testemunhas. Grande parte, de acusação do Ministério
Público. E nenhuma me acusou. O que aconteceu nos últimos 30 dias,
doutor Moro, vai passar para a história com o mês Lula, porque foi o mês
em que vocês trabalharam, sobretudo o Ministério Público, para trazer
todo mundo pra falar uma senha chamada Lula. O objetivo era dizer Lula.
Se não dissesse Lula, não valia.”
Moro se incomodou, e perguntou: “O senhor entende que existe
uma conspiração contra o senhor?”. Lula prosseguiu na crítica, dizendo
que a Lava-Jato prende para obter acordos de delação premiada – e que
isso teria levado o empreiteiro Léo Pinheiro a acusá-lo. “Eu entendo e
acompanho pela imprensa que pessoas, como o Léo Pinheiro, (que) está já
há algum tempo querendo fazer delação, primeiro foi condenado a 23 anos
de cadeia, depois se mostra na televisão como é que se vive a vida de
nababos dos delatores e o cara fala: ‘porra, eu tô condenado a 23 anos e
os delatores pagaram uma parte e estão vivendo essa vida?’, sabe? Então
delatar virou na verdade quase que o alvará de soltura dessa gente.”
Ele aproveitou para atacar o procurador Deltan Dallagnol,
coordenador da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, e sua famosa
apresentação de Power Point em que acusou o ex-presidente de ser o chefe
do petrolão. “Eu tenho acompanhado, tô atento e tô percebendo e vou
discutir em algum momento o contexto. O contexto está baseado num Power
Point mentiroso, malfeito, da Operação Lava-Jato. Aliás, o doutor
Dallagnol que fez a apresentação não tá aqui. Deveria estar aqui, para
ele explicar aquele famoso Power Point. Aquilo é uma caçamba, onde cabe
tudo. Aquele Power Point não está julgando pessoa física ou pessoa
jurídica. Está julgando o Lula presidente da República, e isso eu quero
discutir”. Moro, mais uma vez, ignorou. O interrogatório do petista foi
acompanhado não por Dallagnol, mas pelos procuradores Carlos Fernando
Lima, Roberson Pozzobon e Julio Noronha.
No depoimento, o petista disse desconhecer que o dinheiro
investido pela OAS na reforma do tríplex tenha saído de uma
conta-propina abastecida com dinheiro desviado da Petrobras. E
aproveitou para defender o companheiro João Vaccari Neto, ex-presidente
da cooperativa que iniciou as obras no prédio do Guarujá e ex-tesoureiro
do partido. “Tanto quanto eu, a Bancoop foi tachada de organização
criminosa pelo Ministério Público. Faz dois meses que a Bancoop foi
absolvida, o Vaccari foi absolvido e ninguém que o acusou teve coragem
de pedir desculpas.”
O ex-presidente se referia a um processo que correu na
Justiça de São Paulo. Lula admitiu que conversava regularmente com
Vaccari, inclusive no período das negociações do tríplex. Mas disse que
nunca tratou com ele sobre o imóvel. Indagado por Moro se tinha
conhecimento de que Léo Pinheiro mantinha uma contabilidade paralela com
recursos de propina, ele negou. E, referindo-se ao empreiteiro, até
recentemente seu amigo in pectore, arrematou: “Se tivesse
(conhecimento), ele (Léo Pinheiro) seria um preso bem antes”.
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