Após briga, relatório da reforma trabalhista é dado como lido na CAE do Senado
“O governo não tem condição de colocar a reforma trabalhista nesta Casa”, disse Lindbergh Farias (PT-RJ).
Presidente da CAE, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), suspende reunião da comissão, depois que senadores de oposição protestaram contra a leitura do relatório de Ricardo Ferraço sobre o PLC 38/2017 - (Foto: Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado) |
Após intenso bate-boca e muito nervosismo, o
presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Tasso
Jereissati (PSDB-CE), desistiu de retomar a reunião em que estava
prevista a leitura do relatório sobre o projeto de lei da reforma
trabalhista. Jereissati deu como lido o relatório e marcou a votação da
reforma na comissão para a próxima terça-feira (30).
Antes, contudo, Jereissati tentou reabrir a reunião da comissão
para a leitura do relatório após 50 minutos de interrupção, mas foi
impedido pelos senadores de oposição. Exaltados, os senadores que se
posicionavam contra a reforma puxaram os microfones do presidente – um
dos aparelhos chegou a ficar avariado – e colocaram as mãos sobre a
mesa, impedindo a continuidade dos trabalhos. Depois de muito bate-boca,
Jereissati desistiu de reabrir a reunião, e os governistas seguiram
para o plenário, onde discursaram queixando-se do impedimento ao
presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE).
Mais cedo, a CAE realizou audiência pública para debater a reforma.
Depois da audiência, quando o relatório começaria a ser lido, o senador
Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou questão de ordem pedindo o
adiamento da leitura. O requerimento foi posto em votação e vencido por
13 votos a 11.
Em seguida, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) apresentou nova
questão de ordem solicitando que a matéria retornasse à Mesa do Senado
para ser apensada a outras de assunto semelhante. A questão foi
rejeitada pela presidência da comissão, e os oposicionistas
levantaram-se e ficaram de pé, em frente à mesa diretora, inciando o
bate-boca e anunciando que a reunião não teria continuidade.
“O governo não tem condição de colocar a reforma trabalhista nesta
Casa. Eu faço um apelo ao senador Ricardo Ferraço. Isto é uma manobra,
estão usando a CAE para dizer que o Temer tem força”, disse Lindbergh
Farias (PT-RJ).
Com a continuidade do tumulto, Jereissati suspendeu a reunião, mas a
tensão prosseguiu no ambiente. Senadores da base aliada e de oposição
gritavam e erguiam os dedos uns contra os outros. Manifestantes que
acompanhavam a reunião gritavam palavras de ordem dentro do plenário da
CAE e a segurança começou a esvaziar a audiência, inclusive com a
retirada da imprensa.
Queixa de agressões
Posteriormente, já após a desistência da retomada dos trabalhos, os
senadores da base aliada se queixaram que houve tentativa de agressão
por parte dos oposicionistas, que não aceitaram a derrota pelo voto.
“Não podendo ganhar no voto, senadores e senadores quiseram ganhar no
braço, no grito”, disse o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). “Aqui só
existe uma arma: a palavra. O que se viu foi a tentativa de impedir o
funcionamento físico, por agressões físicas, por agressões verbais”,
completou.
Também no plenário, Tasso Jereissati fez ao presidente Eunício
Oliveira um relato do que houve e disse que se sentiu fisicamente
ameaçado e injuriado tanto por senadores quanto pelos manifestantes que
estavam dentro da comissão.
“Não lamento por mim, lamento por esta Casa. E chamo vossa excelência
[Eunício Oliveira] à responsabilidade, porque isso não pode acontecer,
porque acaba-se não só o que eles querem acabar, que é o governo – o que
é outra questão –, mas acaba-se o Senado; acaba-se o Parlamento;
acaba-se o contraditório; acabam-se as discussões; acabam-se, inclusive,
as votações, e os vencidos não aceitam o resultado”, afirmou.
Em resposta, o senador Humberto Costa (PT-PE) alegou que houve
agressões de parte a parte e pediu uma reunião de lideranças para
superar os problemas ocorridos na CAE. “Essa aqui é uma Casa, por
excelência, política, e acho que tudo que aconteceu hoje, e posso falar
aqui com autoridade porque eu era um dos que estava tentando serenar os
ânimos, apesar de ter levado um empurrão de um senador da base do
governo, que ficou apoplético lá. Então, houve agressões, de parte a
parte, acho que esse não é um bom caminho. Temos que superar esse
episódio”, afirmou.
Também em discurso, a senadora Gleise Hofffmann (PT-RS) disse que a
oposição não vai aceitar a decisão de dar o relatório como lido. “Nós
vamos resistir, para não ler o relatório, até porque o senador que está
apresentando o relatório [Ricardo Ferraço] tinha dito no seu Facebook
que não apresentaria o relatório, porque estávamos vivendo tempos
anormais, de crise, com o que aconteceu com o presidente da República e
também com um senador desta Casa. Aí depois muda de ideia, e vão para
cima na força, para fazer a leitura de um relatório”, alegou.
Agência Brasil
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