Se Temer e o Congresso insistirem em abafar a Lava Jato, haverá intervenção militar!
A política nacional sempre foi muito
complicada, os observadores estrangeiros não conseguem entender tamanha
esculhambação institucional, até mesmo os brasileiros têm enorme
dificuldade, não conseguem acompanhar, a todo momento é preciso recorrer
à tradução simultânea. Desde sexta-feira, procura-se descobrir o real
objetivo da explosiva entrevista que o comandante do Exército, general
Eduardo Villas Bôas (Foto), concedeu à repórter Monica Gugliano, do
jornal Valor Econômico. Como se sabe, chefes militares
jamais se pronunciam sobre assuntos políticos. Quando o fazem, é porque
há alguma coisa de errado, aliás, muito errado.
O mais impressionante foi a rarefeita
repercussão das declarações, que mesmo assim abalaram as estruturas do
poder em Brasília, com reflexos por todo o país, porque o comandante do
Exército não mediu as palavras. Às vésperas do carnaval, rasgou a
fantasia e se incorporou ao Bloco dos Descontentes, ao afirmar que “somos um país que está à deriva, que não sabe o que pretende ser, o que quer ser e o que deve ser“.
Ainda não satisfeito, acrescentou: “Esgarçamo-nos
tanto, nivelamos tanto por baixo os parâmetros do ponto de vista ético e
moral, que somos um país sem um mínimo de disciplina social“.
TRADUÇÃO SIMULTÂNEA – Ao dar entrevista ao Valor,
que é um jornal de circulação mais restrita na Organização Globo, que
comanda sozinha a publicação, desde que a Folha se desligou da
sociedade, o general deixou claro que estava dando um recado “interna corporis”, destinado a atingir apenas o governo, os políticos e as lideranças militares.
O fato concreto é que o descontentamento
e a pressão interna nas Forças Armadas têm cada vez mais intensidade.
Entre as lideranças militares, há consenso de que não há planejamento no
país, a administração pública não tem metas nem visa a atender os reais
interesses nacionais.
Um dos objetivos da entrevista do
general Villas Bôas foi acalmar o pessoal da ativa e também da reserva,
pois os três clubes militares estão defendendo abertamente uma
intervenção das Forças Armadas, a pretexto de moralizar a política e a
administração pública.
SEM INTERVENÇÃO – Com muita habilidade, o comandante do Exército descartou a possibilidade de derrubada do governo constitucional: “Interpreto
o desejo daqueles que pedem intervenção militar ao fato de as Forças
Armadas serem identificadas como reduto onde esses valores foram
preservados. No entendimento que temos, e que talvez essa seja a
diferença em relação a 1964, é que o país tem instituições funcionando. O
Brasil é um país mais complexo e sofisticado do que era. Existe um
sistema de pesos e contrapesos que dispensa a sociedade de ser tutelada.
Não pode haver atalhos nesse caminho. A sociedade tem que buscar esse
caminho, tem que aprender por si. Jamais seremos causadores de alguma
instabilidade“.
O general tem razão. A Constituição deixa claro que cabe às Forças Armadas “a
defesa da Pátria, a garantia dos poderes constitucionais e, por
iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. E a Lei Complementar
número 97 também é clara: ‘A atuação das Forças Armadas, na garantia da
lei e da ordem, por iniciativa de quaisquer dos poderes constitucionais,
ocorrerá de acordo com as diretrizes baixadas em ato do Presidente da
República, após esgotados os instrumentos destinados à preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio’”.
INTERVIR SIGNIFICA GOLPE – Sem a menor dúvida, a entrevista confirma a convicção de que não existe possibilidade de ocorrer a apregoada “intervenção militar constitucional”. O significado real seria “golpe de estado” ou “golpe militar”, apenas isso.
Segundo as cuidadosas declarações do
comandante do Exército, essa hipótese estaria afastada. Mas acontece que
as aparências sempre enganam, quando se trata da política brasileira.
Na entrevista, a ênfase dada à moral e à ética, assim como a incisiva
defesa da Lava Jato (“É a grande esperança de que se produza no país
alguma mudança nesse aspecto ético que está atingindo nosso cerne, que
relativiza e deteriora nossos valores“) – tudo isso demonstra que as Forças Armadas não estão desatentas nem omissas.
Ainda em tradução simultânea, o general
Villas Bôas deixou claro que, se o Planalto e o Congresso insistirem
nessa irresponsável tentativa de inviabilizar a Lava Jato, a história
vai se repetir no Brasil, e não será como farsa. Portanto, espera-se que
o presidente Michel Temer tenha um mínimo de juízo e não ouse levar
adiante essa injustificável iniciativa.
Fonte: Jornal do País com Tribuna da Internet
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