Drag queen participa de missa e fiéis pedem saída de padre da Zona Leste de São Paulo
Católicos
conservadores pedem o afastamento de um padre que convidou um homem
homossexual que atua como drag queen para subir ao altar da paróquia
Nossa Senhora do Carmo, em Itaquera, na Zona Leste de São Paulo. Fiéis
contra e a favor do padre Paulo Sérgio Bezerra realizam abaixo-assinados
na internet.
A
polêmica começou no dia 12 de junho deste ano, quando o publicitário
Albert Roggenbuck foi convidado pelo padre para participar de uma missa.
Ele atua como drag queen Dindry Buck, mas na ocasião estava sem a
caracterização.
Em
novembro, fiéis da doutrina tradicional cristã recorreram ao Movimento
Legislação e Vida (MLV), que entregou uma carta nas mãos do bispo Dom
Manuel Parrado Carral, da Diocese de São Miguel Paulista.
O
movimento pediu o afastamento do Padre Paulo, argumentando que
“posicionamentos escandalosos” promovidos pelo sacerdote, como a
“promoção do gayzismo e o incentivo à militância LGBT violam o
Magistério da Santa Igreja e a Santa Fé Católica”.
Hermes Rodrigues Nery, coordenador do MLV, falou ao G1
sobre a perplexidade dos fiéis. “Tenho amigos homossexuais que sabem
que, como católico, estou de acordo com o que diz o catecismo, mas um
sacerdote deve ser coerente com os princípios e valores cristãos”,
disse.
“Se
você, por exemplo, é estudante e vai a uma aula de matemática, não
gostaria se te apresentassem aula de outra disciplina”, acrescenta.
Questionado
em que trecho da Bíblia consta a proibição da abordagem do tema, Hermes
explica que os católicos se apoiam na Sagrada Escritura e no Magistério
da Igreja. “O catecismo da Igreja Católica é claríssimo nessa questão,
afirmando que ‘os atos de homossexualidade são intrinsecamente
desordenados’, ‘contrários à lei natural’, pois ‘fecham o ato sexual ao
dom da vida’”, afirma.
O
coordenador do movimento acrescentou ainda que o catecismo também
orienta para o acolhimento dos homossexuais. “O que o padre Paulo
Bezerra faz, contudo, não é acolher o pecador, mas endossar e, em
algumas vezes, até faz apologia ao pecado, com ações que causam
perplexidade aos fiéis católicos”, continua Hermes.
Outro lado
De acordo com Albert, que disse ao G1
ser homossexual e católico praticante, o trabalho desenvolvido pelo
padre Paulo na paróquia Nossa Senhora do Carmo não é de apologia, mas de
inclusão social.
“Nesta
paróquia o padre abre espaço para diversos membros da comunidade
falarem um pouco sobre suas causas. Um rapaz negro falou sobre sua luta
contra o racismo, um índio guarani explicou sobre a luta dos povos
indígenas e em outro dia uma mulher de um movimento sem-teto prestou seu
depoimento. Eu falei sobre a minha militância com a fé e com a
sexualidade”, disse Albert.
Na
ocasião, o padre Paulo o convidou para distribuir hóstias e erguer o
cálice durante a consagração. Segundo Albert, não houve hostilidade dos
fiéis desta comunidade em relação à sua participação. “O
descontentamento partiu de um movimento radical, composto por fieis que
não frequentam esta paróquia e não conhecem o trabalho que é feito por
lá”, aponta.
Procurado,
o padre Paulo Sérgio Bezerra disse que já havia postado uma nota em sua
página no Facebook e que não desejava mais se manifestar sobre o caso.
Em
sua postagem, o padre se diz atacado por católicos “ultraconservadores
inimigos declarados da Igreja que pensam defender” e afirma que “outras
pautas mais urgentes e importantes devem nos ocupar e nos motivar à
efetiva solidariedade e participação, tais como: #ForaTemer, as causas
dos estudantes secundaristas, a luta MTST e a sustentabilidade do
planeta”.
Até esta terça-feira (13), o G1
não conseguiu contato com Dom Manuel Parrado Carral para saber se ele
pretende tomar alguma medida. O coordenador do MLV disse que seguirá
orando “para que o bispo não titubeie em seu dever” e que se não houver
afastamento do padre, existe a possibilidade de que os fiéis recorram
“às instâncias superiores na hierarquia da Igreja”.
Redes Sociais
Fiéis conservadores fizeram um abaixo assinado online pedindo o
“afastamento dos párocos que vão contra as doutrinas da Igreja e que
fazem apologia ao pecado” e outro dedicado exclusivamente ao afastamento
do padre Paulo.
Os
textos, que juntos tiveram apoio de mais de 3.000 fieis até esta
terça-feira, chamam de “heresia, blasfêmia e distorções da Verdadeira
Fé” o que ocorre na paróquia Nossa Senhora do Carmo.
Em
contrapartida, a católica Monise Reis, que frequenta a paróquia,
iniciou um abaixo assinado em apoio ao padre que também apresentava
cerca de 3.000 assinaturas. “Fiz este abaixo assinado em resposta ao
outro, repleto de discurso de ódio, preconceito e intolerância. Quando
pessoas que pregam o amor são condenadas é preciso se manifestar”,
justificou.
G1
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