terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Homossexual causa polêmica em igreja

Drag queen participa de missa e fiéis pedem saída de padre da Zona Leste de São Paulo

drag3
Católicos conservadores pedem o afastamento de um padre que convidou um homem homossexual que atua como drag queen para subir ao altar da paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Itaquera, na Zona Leste de São Paulo. Fiéis contra e a favor do padre Paulo Sérgio Bezerra realizam abaixo-assinados na internet.
A polêmica começou no dia 12 de junho deste ano, quando o publicitário Albert Roggenbuck foi convidado pelo padre para participar de uma missa. Ele atua como drag queen Dindry Buck, mas na ocasião estava sem a caracterização.
Em novembro, fiéis da doutrina tradicional cristã recorreram ao Movimento Legislação e Vida (MLV), que entregou uma carta nas mãos do bispo Dom Manuel Parrado Carral, da Diocese de São Miguel Paulista.
O movimento pediu o afastamento do Padre Paulo, argumentando que “posicionamentos escandalosos” promovidos pelo sacerdote, como a “promoção do gayzismo e o incentivo à militância LGBT violam o Magistério da Santa Igreja e a Santa Fé Católica”.
Hermes Rodrigues Nery, coordenador do MLV, falou ao G1 sobre a perplexidade dos fiéis. “Tenho amigos homossexuais que sabem que, como católico, estou de acordo com o que diz o catecismo, mas um sacerdote deve ser coerente com os princípios e valores cristãos”, disse.
“Se você, por exemplo, é estudante e vai a uma aula de matemática, não gostaria se te apresentassem aula de outra disciplina”, acrescenta.
Questionado em que trecho da Bíblia consta a proibição da abordagem do tema, Hermes explica que os católicos se apoiam na Sagrada Escritura e no Magistério da Igreja. “O catecismo da Igreja Católica é claríssimo nessa questão, afirmando que ‘os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados’, ‘contrários à lei natural’, pois ‘fecham o ato sexual ao dom da vida’”, afirma.
O coordenador do movimento acrescentou ainda que o catecismo também orienta para o acolhimento dos homossexuais. “O que o padre Paulo Bezerra faz, contudo, não é acolher o pecador, mas endossar e, em algumas vezes, até faz apologia ao pecado, com ações que causam perplexidade aos fiéis católicos”, continua Hermes.
Outro lado
De acordo com Albert, que disse ao G1 ser homossexual e católico praticante, o trabalho desenvolvido pelo padre Paulo na paróquia Nossa Senhora do Carmo não é de apologia, mas de inclusão social.
“Nesta paróquia o padre abre espaço para diversos membros da comunidade falarem um pouco sobre suas causas. Um rapaz negro falou sobre sua luta contra o racismo, um índio guarani explicou sobre a luta dos povos indígenas e em outro dia uma mulher de um movimento sem-teto prestou seu depoimento. Eu falei sobre a minha militância com a fé e com a sexualidade”, disse Albert.
Na ocasião, o padre Paulo o convidou para distribuir hóstias e erguer o cálice durante a consagração. Segundo Albert, não houve hostilidade dos fiéis desta comunidade em relação à sua participação. “O descontentamento partiu de um movimento radical, composto por fieis que não frequentam esta paróquia e não conhecem o trabalho que é feito por lá”, aponta.
Procurado, o padre Paulo Sérgio Bezerra disse que já havia postado uma nota em sua página no Facebook e que não desejava mais se manifestar sobre o caso.
Em sua postagem, o padre se diz atacado por católicos “ultraconservadores inimigos declarados da Igreja que pensam defender” e afirma que “outras pautas mais urgentes e importantes devem nos ocupar e nos motivar à efetiva solidariedade e participação, tais como: #ForaTemer, as causas dos estudantes secundaristas, a luta MTST e a sustentabilidade do planeta”.
Até esta terça-feira (13), o G1 não conseguiu contato com Dom Manuel Parrado Carral para saber se ele pretende tomar alguma medida. O coordenador do MLV disse que seguirá orando “para que o bispo não titubeie em seu dever” e que se não houver afastamento do padre, existe a possibilidade de que os fiéis recorram “às instâncias superiores na hierarquia da Igreja”.
Redes Sociais
Fiéis conservadores fizeram um abaixo assinado online pedindo o “afastamento dos párocos que vão contra as doutrinas da Igreja e que fazem apologia ao pecado” e outro dedicado exclusivamente ao afastamento do padre Paulo.
Os textos, que juntos tiveram apoio de mais de 3.000 fieis até esta terça-feira, chamam de “heresia, blasfêmia e distorções da Verdadeira Fé” o que ocorre na paróquia Nossa Senhora do Carmo.
Em contrapartida, a católica Monise Reis, que frequenta a paróquia, iniciou um abaixo assinado em apoio ao padre que também apresentava cerca de 3.000 assinaturas. “Fiz este abaixo assinado em resposta ao outro, repleto de discurso de ódio, preconceito e intolerância. Quando pessoas que pregam o amor são condenadas é preciso se manifestar”, justificou.
G1

Nenhum comentário:

Postar um comentário