terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Da série 'Fenômenos Eleitorais'

Irmãos rivais racham família, mas ambos conseguem se eleger vereador

marcos-andrade
A série de reportagens apresentando fenômenos eleitorais nas eleições municipais deste ano na região Nordeste realizada pelo blog do Magno Martins, de Pernambuco, em parceria com o Portal MaisPB, mostra, nesta nesta terça-feira (13), os irmãos Marcelo e Marcos Andrade, eleitos vereador num mesmo município, o de Casinhas, no Agreste Setentrional de Pernambuco, que vão atuar em campos opostos, o primeiro na situação e o segundo na oposição.
Os irmãos da discórdia 
CASINHAS (PE)- Em pelo menos três municípios pernambucanos, as câmaras municipais para a legislatura que se instala a partir do próximo dia 1 de janeiro estarão com uma composição familiar mais ampla e diferenciada. É o caso, por exemplo, de Casinhas, ex-distrito de Surubim, a 131 km do Recife, no Agreste Setentrional, de apenas 11 mil eleitores, cujo parlamento terá dois irmãos eleitos em coligações diferentes.
Marcelo Andrade (PSB), 36 anos, o mais novo, renovou o seu mandato a duras penas. Dos nove eleitos, foi o último, perdendo metade da votação em relação ao pleito passado. Saiu de 829 para 416 votos. O irmão Marcos Andrade (PTB), mais velho, 42 anos, estreante na política, teve um pouquinho mais – 445 votos. Na verdade, sua eleição se constituiu numa grande ameaça à renovação do mandato do irmão, que se revelou seu maior opositor.
Foi a primeira vez na história de Casinhas, com apenas 22 anos de emancipação, que o município assistiu a uma divisão de família em alianças diferentes. Enquanto Marcelo, que fez oposição ao atual Governo, saiu eleito governista, na coligação do prefeito eleito, Marcos está no outro lado do balcão.
Aliado da prefeita Maria Rosineide Barbosa (PP), que não conseguiu a reeleição, sendo derrotada pelo candidato do PSB, João Camelo, Marcos fará oposição ao prefeito eleito. O que se diz na cidade é que a prefeita fomentou a cisão na família, instigando a candidatura de Marcos, que ganha o pão como mecânico, para atrapalhar a reeleição de Marcelo, seu maior opositor na Câmara.
“Marcelo fez marcação cerrada ao Governo dela, que, maquiavélica, convenceu Marcos para entrar na disputa apenas com o propósito de se vingar”, avalia Camelo. Se não conseguiu impedir a reeleição do seu “calo” na Câmara, a prefeita quase que promove o litígio familiar. “Não houve agressões entre nós, mas Marcos nunca teve planos de entrar na política e só entrou porque teve alguém muito forte que estimulou e apoiou”, desaba Marcelo, referindo-se à prefeita.
“Tive o apoio, sim, da prefeita, mas isso não significa que tenha sido instrumentalizado para derrotar meu irmão”, reage Marcos. Percebendo o jogo da prefeita, Marcelo concentrou sua campanha no voto urbano, de opinião, tendo em vista que o irmão avançava em redutos rurais tradicionais seus, como o sitio Oratório, onde em 2012 saiu majoritário. Quem obteve a maioria dos votos da localidade foi Marcos – 207 votos.
Mas ele tem uma justificativa na ponta da língua. “Ganhei mais votos em Oratório porque moro lá”, afirma.  Enquanto Marcos teve na área rural 238 votos, mais da metade da sua votação, Marcelo emplacou apenas 165 votos. “Não fosse o meu trabalho parlamentar e a oposição ferrenha que fiz à desastrosa gestão da prefeita eu teria perdido a eleição para o meu irmão”, reconhece Marcelo, que não tem nenhuma dúvida de que Rosineide armou a candidatura do irmão.
“Ela faz política assim mesmo”, define. Na cidade, a população entendeu que a disputa entre dois irmãos prejudicaria muito mais Marcelo, que já tem mandato. Mas nem os pais Joseja e José Pedro, que moram na zona rural, conseguiram que os filhos se entendessem, arquivando a ideia de travarem a disputa nas urnas. Na divisão, em votos na família, quem levou vantagem, aparentemente, foi Marcelo. O próprio Marcos diz que a mãe e os seis irmãos não votaram nele.
“Não tive um só voto na família, que ficou com Marcelo. A opção por ele não significa que sou o patinho feio, mas se deu pelo fato de que pai, mãe e irmãos serem eleitores também do prefeito eleito”, explica. Nem por isso, Marcos ficou desapontado. “Eu entendi perfeitamente a posição da minha família”. Marcelo garante que, em nenhum momento, fez a cabeça dos pais para arrebatar sozinho os votos da família.
Segundo ele, o que a família priorizou foi eleição do prefeito. “O objetivo dos meus pais, meus irmãos e eu era derrotar a prefeita e conseguimos”, comemora Marcelo. Mesmo divergentes e em palanques diferentes, Marcelo e Marcos não se agrediram em nenhum momento da campanha. “Tentaram fazer fofocas e espalharam que a política nos levou a se intrigar, mas eu nunca deixei de falar com meu irmão e tratá-lo bem”, garante Marcelo.
Eleitora de Casinha, Maria Josefa diz que conhece os dois irmãos, mas preferiu votar em Marcelo. “Já conheço o trabalho aguerrido dele e me animei a votar também porque ele é do lado do prefeito eleito”, diz Joseja, para quem o vereador fez um bom mandato na oposição. “Foi uma voz firme, nunca se vendeu e por isso mesmo foi perseguido o tempo todo pela prefeita”, afirmou.
Vereador mais votado do município, com 599 votos, 6,32% dos votos válidos, José Martins da Silva, do PSB, conhecido como Inácio do Toyota, é o nome mais cogitado para presidir a Câmara de Vereadores a partir de janeiro. “Ele já tem o meu voto e vou cabalar o voto do meu irmão”, admite Marcelo Andrade, que já está praticamente em campanha para eleger o aliado. Ele próprio, embora muito ligado ao prefeito eleito, não tem planos para entrar na disputa. “A tendência é elegermos o mais votado”, admite.
Eleito na oposição a caminho de virar governista
“Estamos conversando”, admite Marcos, que já pratica um discurso mais flexível, o que não agrada à prefeita Rosineide Barbosa, que contava com o voto dele para eleger o presidente da Câmara em oposição ao prefeito eleito. Nas eleições, Rosineide não foi única adversária do prefeito eleito. O pleito foi disputado por mais três candidatos. Ricardo de Belo, do PR, teve 858 votos, o Professor Edmilson, do Psol, 333 votos, e Zito Pezim, do PPS, apenas 51 votos.
“Não existe terceira via em Casinhas”, diz o secretário estadual de Agricultura e deputado estadual licenciado, Nilton Mota, majoritário no município. Abertas as urnas em 2 de outubro passado, depois de um pleito extremamente polarizado entre as duas grandes forças do município – Rosineide e Camelo – o prefeito eleito teve 4.861 votos, 51,77% dos votos válidos, enquanto a prefeita, em segundo, ficou com 3.286 votos, 35% dos votos válidos.
Com 14.219 habitantes, Casinhas, que economia é baseada na agricultura de subsistência, vive uma das mais prolongadas secas da sua história. Município pobre, com grande parte da população dependente do programa Bolsa-Família, tem um dos IDHS mais baixos do Estado – 0,567, segundo a PNUD.
Segundo a tradição local, por volta de 1890, no caminho entre Bom Jardim e a mata existente no local, havia uma casinha de palha, onde vivia uma senhora portadora de deficiência que costumava acolher os viajantes. Posteriormente, mudou-se para o local José Barbosa de Farias. Outras famílias estabeleceram-se no local. Em 1894, foi construída uma capela dedicada a Nossa Senhora das Dores, atual padroeira, pelo professor José Merim.
A partir deste núcleo de pequenas casas, que deu origem ao nome Casinhas, surgiu o município. O distrito de Casinhas foi criado em 16 de dezembro de 1925, subordinado ao município de Surubim. Foi elevado à condição de município pela lei estadual nº 11228, de 12 de Julho de 1995, com base na lei estadual complementar n° 15, de 1990, que permitiu aos municípios a solicitação da emancipação, desde que atendessem a alguns requisitos, como ter população superior a 10 mil habitantes e que o total de eleitores seja maior que 30% desta população. O município foi instalado em 1 de Janeiro de 1997.
MaisPB

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