Ações contra políticos duram até 18 anos no Supremo Tribunal Federal
![]() |
Supremo Tribunal Federal confirma decisão monocrática de Teori Zavascki |
O
presidente da República era Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e a TV
Globo transmitia a novela “Torre de Babel” quando, em agosto de 1998, a
Polícia Federal abriu inquérito em Porto Velho para apurar uma série de
“saques indevidos de FGTS pelo Estado de Rondônia”.
Quem assinava os contratos sob suspeita com a Caixa era o então governador do Estado, Valdir Raupp, hoje senador pelo PMDB.
Em
1º de setembro de 2000, o oficial de Justiça informou em ofício que “o
acusado Valdir Raupp reside em Brasília”. Desde então, o Judiciário não
consegue dar uma palavra final sobre o caso, até para um eventual
benefício do parlamentar, já que por três vezes o Ministério Público
pediu o arquivamento, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) ainda não
decidiu e Raupp segue como réu.
Ele enfrenta outras duas ações
penais de um total de 84 contra 53 deputados e senadores hoje em
andamento no Supremo, corte onde os integrantes do Congresso têm foro
privilegiado.
Levantamento da Folha com informações fornecidas
pelo STF a pedido do jornal revela que esses 84 casos que se tornaram
ações penais estão, em média, há sete anos e oito meses sem um desfecho.
Desses,
22 (26%) estão em andamento há mais de dez anos. Outros 37 (44%)
superam seis anos. Quatro, entre eles três de Raupp, ultrapassam 15 anos
sem decisão final.
Para estabelecer o tempo de duração dos casos
dos réus no Supremo, a reportagem também considerou a data do início das
investigações sobre o político, inclusive antes de chegar à corte.
Quando
um político investigado obtém cadeira no Congresso ou se torna
ministro, um inquérito que começou em primeira instância precisa ser
remetido a Brasília por força do foro privilegiado, o que pode atrasar
ainda mais o andamento.
Na Lava Jato, 22 casos já receberam sentença do juiz Sergio Moro com tempo médio de um ano e seis meses.
A
conta tem como ponto de partida a deflagração da operação, em março de
2014. Assim, os que estão sob condução de Moro foram cerca de cinco
vezes mais rápidos que os de foro privilegiado no STF –mas, nas
instâncias inferiores, o réu ainda pode recorrer após a sentença.
PRESCRIÇÕES
A
longa tramitação abre risco de prescrição das penas. A
Procuradoria-Geral da República então pede a extinção da ação porque o
parlamentar não poderia ser mais condenado em razão do tempo da pena
prevista em eventual condenação.
Com a prescrição, vão para o lixo anos de recursos públicos gastos para a apuração de supostos crimes.
O
deputado federal Josué Bengtson (PTB-PA), por exemplo, foi denunciado
em junho de 2007 por supostas corrupção e associação criminosa em
inquérito derivado da Operação Sanguessuga.
Segundo a
Procuradoria, Bengtson recebeu de uma quadrilha de empresários R$ 55 mil
em sua conta e outros R$ 39 mil na de uma igreja em que atuava como
pastor. Em troca, fez 14 emendas ao Orçamento da União para compra das
ambulâncias.
Quando ficou sem mandato, foi investigado e
denunciado em 2007 na primeira instância. Porém virou deputado em 2010 e
seu caso foi para o STF. Até que a ação desse entrada na corte, em
2012, cinco anos haviam se passado.
Nos últimos quatro anos, o
Supremo também não conseguiu julgar a denúncia. Em setembro, os
ministros da corte reconheceram a prescrição e determinaram a extinção.
A
vitória de Bengtson poderá ser comemorada por outros colegas: Nilton
Capixaba (PTB-RO), Benjamin Maranhão (SD-PB) e Paulo Feijó (PR-RJ),
investigados na Sanguessuga. Seus casos estão prontos para julgamento,
porém prestes a prescrever.
A pedido da Folha, o STF enviou lista
de outros 13 processos que recentemente receberam sentença, mas que
ainda estão tecnicamente em andamento. Entre eles, está o do mensalão,
em fase de cumprimento de pena.
O tempo médio que os 13 levaram, considerando o início da investigação em outras instâncias, foi de oito anos e dez meses.
OUTRO LADO
O
STF (Supremo Tribunal Federal) trabalha com critérios diferentes dos
utilizados pela Folha para chegar ao tempo médio de tramitação de casos
no tribunal e diz que uma ação penal leva, em média, dois anos e quatro
meses para ser concluída na corte.
O tribunal considerou como data
do início da contagem o registro da abertura da ação, sem levar em
conta toda a fase de inquérito no próprio tribunal, que em muitos casos
se estende por anos e das outras investigações na primeira instância.
Essas fases anteriores à ação penal também contam para prescrição das
eventuais penas.
Segundo os dados divulgados à Folha, o STF analisou a tramitação de 180 ações penais de 2007 a outubro de 2016.
Um grupo de 25 levou mais de cinco anos de tramitação. A mais longa demorou 3.297 dias, ou nove anos.
Em
nota à reportagem, a Procuradoria-Geral da República defendeu a
rediscussão do foro privilegiado e considera até mesmo sua extinção.
O
advogado de defesa do senador Valdir Raupp (PMDB-RO), José de Almeida
Júnior, ressaltou que, em um dos processos contra o senador, existe
desde 2005 parecer da PGR pela absolvição de seu cliente.
Sobre as
outras duas ações, ele afirma que uma já está prescrita e que, na
outra, há no processo evidências que mostram a regularidade das ações do
senador.
“O STF é muito sobrecarregado de trabalho. São só 11
ministros. Nesse caso a demora está contra nós. Com o pedido de
absolvição [em uma das ações] o senador podia estar sem o nome dele
nesta tela há uns dez anos. A ação certamente será julgada
improcedente”, afirma o advogado.
Procurado na sexta (4) pela
reportagem, o deputado Josué Bengtson não foi localizado para comentar o
processo no STF que foi extinto por prescrição.
Em depoimento
prestado à Justiça Federal, ele afirmou que era “falsa a acusação” feita
pelo Ministério Público e que “nunca se associou a ninguém com fins de
prejudicar o Erário”. Disse que “nunca recebeu qualquer tipo de comissão
ou qualquer outra contraprestação pelas ambulâncias”.
UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário