Ex-aliado é responsável por queda da dinastia Morais em Santa Luzia, no Sertão do Seridó paraibano
A
série de reportagens apresentando fenômenos eleitorais nas eleições
municipais deste ano na região Nordeste realizada pelo blog do Magno
Martins, de Pernambuco, em parceria com o Portal MaisPB, mostra,
nesta quarta-feira (16), Zezé Araújo, do PMDB, que rompeu com o grupo
do ex-senador Efraim Morais, do DEM, e o deletou do poder depois de 42
anos de reinado em que a família se revezou no comando da Prefeitura.
Veja vídeo:
Ex-aliado põe fim a dinastia Morais
SANTA LUZIA (PB)
– Ex-senador da República e atual presidente do DEM paraibano, Efraim
Morais assistiu a sua derrocada nas eleições deste ano em Santa
Luzia, principal reduto eleitoral da família no Sertão do Seridó, a 260
km de João Pessoa. Com a chibata nas mãos no município há mais de 40
anos, o democrata perde a Prefeitura a partir de janeiro de 2017 para um
ex-aliado, a quem negou apoio dentro do grupo e subestimou seu cacife
eleitoral: o atual vice-prefeito José Alexandre de Araújo, o Zezé
(PMDB).
Sabendo que sofreria uma rasteira da raposa política de
Santa Luzia, cujo viés passa pela indicação de parentes para governar o
município – e isso vem desde 1982 – Zezé rompeu com o prefeito Ademir
Moraes, primo de Efraim, recentemente filiado ao PSDB. Seguindo
orientações do ex-senador, Ademir apoiou a candidatura do vereador José
Jackson dos Santos (DEM), mas não fez o sucessor. Zezé bateu o
adversário por uma frente de 924 votos. Teve 4.955 votos (52,45%) contra
4.031 votos (42,67%) do democrata.
Candidato da terceira via, o
petista Professor Joselito teve apenas 461 votos, correspondente a 4,88%
dos votos válidos. Para se consagrar nas urnas, Zezé, entretanto,
contou com o apoio e uma estratégia fundamental comandada pelo líder
politico Francisco Seraphico Ferraz da Nóbrega, conhecido como Chicão,
cujo pai Francisco Nóbrega foi deputado estadual na década de 1960.
Zezé
recusa a pecha de traidor. Ressalta que nunca pertenceu ao grupo de
Efraim Morais. “Na verdade, minha história política está relacionada ao
ex-líder Antônio Ivo de Medeiros”, diz o prefeito eleito, separando,
assim, o joio do trigo. “O fato de ter sido vice do atual prefeito não
significa dizer que estou ou tinha ligações com o ex-senador. Na
verdade, eu sempre apoiei candidatos ligados a ele, mas a partir da
eleição de deputado em 2014 não fiquei com seus candidatos”, afirmou,
referindo-se ao fato de não ter apoiado Efraim Filho para deputado
federal, mas sim Pedro Cunha Lima (PSDB), filho do senador Cássio Cunha
Lima (PSDB).
Para firmar sua candidatura de enfrentamento ao grupo
do ex-senador, Zezé convenceu Chicão, que havia disputado sem sucesso a
Prefeitura por três eleições, a ser o seu vice. “A nossa união se deu
através de uma pesquisa em que apontava que eu seria mais competitivo,
mas a presença de Chicão na vice foi fundamental”, diz Zezé, adiantando
que, ao contrário do que ocorre hoje com ele – um vice decorativo –
Chicão terá força e atribuições em seu governo.

Além
de destruir o castelo de Efraim, Zezé reelegeu o filho Thiago Araújo,
de apenas 24 anos, pelo PSD, para a Câmara de Vereadores. Foi o quarto
mais votado entre os onze vereadores eleitos. Sem papas na língua, o
jovem diz que o grupo Efraim se negou a apoiar seu pai por ele não ser
um político submisso. “Efraim sabia que não ia mandar como manda hoje e
mandou a vida inteira na Prefeitura. Papai é um político independente”,
afirmou.
De fato, o que pesou para o ex-senador não engolir a
candidatura de Zezé foi não ter ele DNA Morais. Em quase 40 anos no
poder, que começou com o pai prefeito, Efraim já elegeu tios, primos e
agregados. Ademir Moraes, o atual mandatário, só passou no teste por ser
primo legítimo. “Aqui, colocamos um ponto final numa dinastia”, desaba o
prefeito eleito. Para ele, o grupo Moraes tem serviços relevantes
prestados ao município.
“Não vou negar nunca que Efraim e seu
grupo, que inclui hoje o filho Efraim Morais na cabeça como deputado
federal, não trouxeram benefícios ao município, mas isso se deu lá
atrás. De uns tempos para cá, seu poder de influência foi bastante
reduzido”, afirma. Um exemplo disso, no seu entender, é a instalação de
um campus universitário na vizinha cidade de Picuí. “Perdemos também a
oportunidade de termos um instituto federal técnico por falta de força
política”, acrescenta.
Quando assumir em janeiro, Zezé terá uma
herança maldita passada pelo grupo Efraim. Entre os problemas que mais
lhe tiram o sono está o embargo da usina de tratamento de lixo pelo
Ministério Público depois de mais de R$ 500 mil serem liberados e não se
sabe terem sido aplicados verdadeiramente. Na folha, o prefeito tem
atrasado o pagamento dos inativos e há excesso de gente contratada por
causa das eleições.
“Eles fizeram de tudo para nos derrotar.
Enfrentamos a eleição do tostão contra o milhão”, diz Zezé, adiantando
que sua eleição foi uma resposta da população aos métodos de Efraim de
fazer política e ao desgaste do prefeito, acusado de ser manipulado pelo
ex-senador e de não ter criado uma política de geração de empregos e
renda.

Figura
popular em Santa Luzia, dono do restaurante Quatro Estações na entrada
da cidade, na BR-230, na saída para Patos, “seu” Manoel comemora o fim
da dinastia Moraes. “Foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para
nós”, afirma, adiantando que a população está bastante confiante no
prefeito eleito. “Tinha que ter surgido um cabra macho, com cheiro de
povo feito Zezé para aposentar essa gente”, diz ele.
MaisPB
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