Candidatos inovam na compra de votos, oferecendo wi-fi grátis e até Viagra
Fiscais do TRE seguem o sinal do wi-fi em Vila Serrana, localidade de Magé, oferecido por candidato a vereador – Vera Araújo |
Passava
das 16h de uma quarta-feira na comunidade Vila Serrana, em Fragoso, no
município de Magé, a cerca de 60 quilômetros do Rio, quando uma cena
chamou a atenção dos fiscais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Num
cruzamento de ruas estreitas, via-se uma aglomeração de pessoas com
celulares nas mãos, em torno de um poste com um roteador e sinal livre
de wi-fi. Bastou a fiscalização e a reportagem do GLOBO se aproximarem
para cada um tomar seu rumo. Com seus telefones nas mãos, os fiscais
logo rastrearam um sinal forte de internet gratuita e constataram a nova
prática dos candidatos: oferecer o serviço em troca de votos.
Depois
da distribuição de cestas básicas, óculos, dentaduras e até
laqueaduras, comuns em eleições anteriores, alguns candidatos que ainda
insistem nesse tipo de política assistencialista se ajustaram aos novos
tempos. Eles passaram a praticar uma espécie de neoclientelismo, com
serviços de wi-fi gratuito e a distribuição de pizzas — com a inscrição
do nome do candidato nas caixas de papelão. Entre as práticas flagradas
pelos fiscais do TRE, uma chama a atenção: um candidato a vereador
distribui caixas de remédios como Viagra e Cialis para a disfunção
erétil.
Reduto do clã Cozzolino, que domina a política local há
mais de três décadas, Magé sempre mereceu um olhar mais atento de quem
busca reprimir as políticas assistencialistas. O juiz da fiscalização
eleitoral da cidade, Vitor Moreira Lima, vem intensificando as ações,
pessoalmente, a fim de coibir tais práticas. Lá, a disputa para a
prefeitura está acirrada entre dois candidatos: o deputado estadual
Renato Cozzolino, pela coligação “O trabalho vai voltar”, e o prefeito
Rafael Tubarão (PPS).
Já foram detectados dois pontos de wi-fi
gratuito na Vila Serrana. Uma das redes tinha o slogan “Juntos
Venceremos” do candidato a vereador Neneco da Limeira, que fazia
campanha no dia da operação do TRE.
Neneco nega ser o responsável pelo serviço:
Cinco
minutos depois de o TRE ter chegado à Vila Serrana, dominada por uma
milícia, o sinal de wi-fi desapareceu. Um rapaz que se beneficiava do
serviço, e que pediu para não ser identificado, disse que todos sabiam
quem era o candidato. No entanto, afirmou que não podia falar porque
tinha “juízo”:
— Está doido! Não digo, não! Não posso nem ser
visto conversando com a senhora. Precisa chegar aqui à noite. A rua fica
apinhada de gente. Vem morador até de outras favelas — contou o jovem,
que está desempregado.
Perguntado se votaria no candidato que ofereceu a rede, o morador disse que não.
G1
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