quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Borboleta sai do casulo

Paraibana Lucy Alves diz que a felicidade está além de um relacionamento

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A imagem é de uma borboleta saindo de um casulo. Mas não é uma libertação, é o transbordar de uma nova artista. Tudo já estava ali dentro dela, pronto para aflorar em um palco que pudesse chamar de seu. Dessa vez, não com a sanfona nos braços ou o microfone perto dos lábios. Lucy saiu de um galpão quase como uma poesia. Mas isso seria pouco. Tampouco seria apenas melodia. No mesmo lugar que ela fez Luzia nascer, volta agora para a despedida. Aqui, ela se viu atriz e se transformou em mãe como personagem. Transitou para sua fase pessoal adulta, se envolveu em uma solidão criativa e amadureceu cinco anos em um. Aqui, neste mesmo galpão de ensaios, Lucy Alves retorna para dizer como Velho Chico mudou sua vida. Ela é a estrela do Camarim Gshow.
Despida dela mesma, apropriada de um novo eu, a roupa que lhe veste representa o momento marcado pelo fim de seu primeiro papel na TV. O lugar já fala por si. É onde ela descobriu a extensão de sua arte e volta, à vontade, para falar sobre a pessoa que se tornou. “Com Luzia, tive que aprender a não julgar essa mulher obstinada e confusa. Mexeu comigo de uma forma singular e agucei uma sensibilidade muito bacana de perceber as pessoas, principalmente por ela ter estes instintos à flor da pele.”
Luzia foi raiva, gargalhada, chorou lágrimas de tristeza e sorriu uma alegria que nem era dela. Para Lucy, tudo isso resume um grande presente. “Me diverti muito, porque ela é uma mulher multifacetada. Procurei trazer o tom humano que ela carrega, porque além da loucura, ela tinha amor e, acima de tudo, é mãe. Pude sentir isso na pele”, descreve a intérprete ao relembrar de sua experiência.
A resposta de seu trabalho foi imediata, afinal, aos olhos do autor Bruno Luperi, a forma com que a atriz defendeu sua vilã é digna apenas de elogios. “Lucy foi brilhante. Ela conseguiu mostrar todas as nuances que essa personagem tinha: abandono, sangue quente, nervosismo e paixão”, destaca o neto de Benedito Ruy Barbosa.
E a identidade da figura materna que ela vivenciou foi resgatada, principalmente, por seu apego à família. “Eu não sou mãe ainda, mas vivo esse espírito muito forte porque cresci em um ambiente cheio de mulheres. Sempre acompanhei esse lado afetuoso de cuidar, olhar e ser cuidadora”, explica Lucy. Ela também revela sua grande vontade de ser mãe: “Maínha já me pergunta quando vai ter um netinho, mas eu digo para ter calma. Vai chegar a hora”, diverte-se ela. “Por vir de uma família muito grande, tenho, sim, planos de ter a minha, com meus filhinhos e tudo mais”, diz a paraibana que vive a flor dos seus 30 anos.
Mas isso não significa que ela deposite os grandes sonhos de sua vida em uma relação, já que prega, ainda, a independência feminina. “Luzia terá um fim surpreendente e, através dela, veremos a simbologia da força da mulher na terra, diante do trabalho. Isso é muito bonito. Eu sempre admirei mulheres que lutam e correm atrás do que querem. Também sempre fui assim. Gostava de tocar instrumentos que as pessoas diziam que não eram para mulher, por serem pesados, mas eu não estava nem aí, queria carregar mesmo”, recorda Lucy.
Ela também compartilha seu ponto de vista: “Às vezes, a gente projeta muito a felicidade no outro, em uma companhia. É sempre bom, porque adoramos estar rodeados de quem a gente gosta e de quem gosta da gente, mas isso não é tudo. Eu acho que a gente pode ser feliz, sim, sozinho”.
Atualmente, Lucy mora no Rio de Janeiro, mas sempre que consegue, corre para Jampa – João Pessoa, sua cidade natal – para buscar um afago nos braços dos pais e das irmãs, a família que ganha todos os créditos por Lucy ser quem é: “Sou uma pessoa muito carinhosa. Adoro dar e receber carinho porque fui criada deste jeito. E todo o amor que recebi me acompanha”.
E da intimidade, a paraibana ainda entrega algumas características. “Sou ultrarromântica, sonhadora. Sou pisciana. Ao mesmo tempo que tenho uma energia, sou muito sentimental e emotiva. Eu acho que estou ficando mais velha e mais sensível ainda”, diverte-se. Ela ainda fala sobre seu temperamento: “Gosto de tentar ler as pessoas. Aprendo muito quietinha. E apesar de adorar estar rodeada de amigos, também tenho o hábito – talvez por ser instrumentista – de me conhecer na solidão”.
Na música, nos palcos e na TV, Lucy está à vontade. Com 11 anos de carreira musical ao lado da família, ela foi abraçada pelo público após uma grande exposição no The Voice Brasil, em 2013, e agora vive a alegria de ter sido indicada ao Grammy Latino. Nesse meio tempo, gravou um disco, voltou aos palcos para uma turnê com um musical e puxou samba-enredo no Carnaval do Rio. Hoje, depois de Velho Chico, ela prova que a mesma pessoa que foi capaz de humanizar a vilania de Luzia é aquela que sorri ao cantar o seu Nordeste.
Gshow

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