Isolado, o ex-poderoso deputado Eduardo Cunha foge de vizinhos desafetos
Poderoso
até o dia 7 de julho, quando renunciou ao cargo de presidente da
Câmara, o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se transformou em um
parlamentar pela metade. Desde 5 de maio está suspenso das suas
atividades por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) e não pode
frequentar o Congresso. Agora, terá de deixar imediatamente a
residência oficial, que será utilizada pelo novo presidente Rodrigo Maia
(DEM-RJ). Nesta quarta-feira (21) a Mesa Diretora da Casa determinou
que Cunha só terá direito a ocupar um apartamento funcional em Brasília,
mas terá de pagar do próprio bolso as despesas de água, energia e
limpeza do imóvel. Tanto constrangimento não acabou com a empáfia do
peemedebista.
Nos últimos dias ele tentou exigir que a direção da Câmara o acomodasse
em um apartamento funcional novo, da cota dos imóveis recém-reformados.
Quando os funcionários encontraram um dentro do padrão Cunha,
descobriram que o vizinho de porta seria o deputado Silvio Costa
(PTdoB-PE), um dos mais duros adversários do ex-presidente. Cunha soube
do incômodo e não aceitou morar lá para não ter que cruzar todos os dias
com um colega que o chamava de ladrão e canalha em discursos e
entrevistas.
Os funcionários encontraram um apartamento em outro prédio também
recém-reformado, como exigia Cunha. No novo endereço, o deputado quis
saber quem seriam seus vizinhos. Descobriu que no edifício moram três
deputados do PT, seus adversários políticos. Para evitar encontrar os
petistas no playground ou no elevador, Cunha desistiu. Os funcionários
encontraram um terceiro imóvel, mas em prédio ainda sem a tal reforma
desejada pelo ex-presidente da Câmara, mas com a vantagem de não morar
deputado ou senador. Até a provável cassação do seu mandato prevista
para final de agosto, Cunha só terá como vizinhos autoridades de outros
poderes. O constrangimento será menor.
Líder do “centrão”, grupo multipartidário formado por quase 200
deputados considerados de baixo-clero e com fortes características
fisiológicas, Cunha também perdeu o direito de voar com passagens aéreas
pagas pela Câmara. Ele não poderá utilizar dinheiro público, da chamada
verba indenizatória para custear despesas com transportes –
combustíveis e táxis, por exemplo – ou restaurantes. Também foi suspenso
o reembolso com gastos de aluguel com escritório de representação no
seu estado, o Rio de Janeiro, como todos os demais parlamentares fazem.
Hoje ele perdeu os cinco seguranças que o acompanhavam para protegê-lo
supostamente de ameaças, nunca comprovadas. A direção da Câmara não
aceitou o argumento que o ainda deputado corre riscos ao andar sozinho
por aí e cortou a mordomia. Quando estava no cargo, a qualquer hora
Cunha poderia requisitar avião da FAB para levá-lo aonde quisesse e
vivia na residência oficial com direito a comida, bebida, faxina,
segurança e até assistência médica destinada a chefes de poder.
Até o julgamento do pedido de sua cassação por quebra de decoro
parlamentar, sob a acusação de ter mentido à CPI da Petrobras sobre suas
contas secretas em paraísos fiscais, Cunha ficará com o salário de R$
33,7 mil e o direito de manter em seu gabinete funcionários pagos com a
verba pública, até o limite de R$ 92 mil mensais.
Congresso em Foco
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