Polícia Federal aponta proteção de CPI a investigado na Lava Jato
Em relatório enviado ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de
Curitiba, a Polícia Federal (PF) apresentou supostos indícios de que o
ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, investigado na
Operação Lava Jato, recebeu “proteção política” no ano passado durante
as investigações da CPI mista da Petrobras, no Congresso Nacional. O
documento foi anexado nesta quarta (18) no andamento processual da Lava
Jato.
De acordo com o relato da PF, o monitoramento de telefonemas feitos e
recebidos por Duque identificaram uma “suposta articulação” com o
objetivo de evitar que ele fosse convocado para depor na CPI mista
encerrada em dezembro do ano passado.
“Há indícios de que Renato Duque estivesse recebendo algum tipo de
proteção política para que não fosse convocado para prestar
esclarecimentos à CPMI da Petrobras”, escreveram os policiais federais
no relatório encaminhado à Justiça Federal do Paraná.
A interceptação telefônica mencionada pela PF, realizada no dia 11 de
novembro de 2014, relata a conversa entre o ex-diretor da Petrobras e
uma assessora de imprensa identificada pelos policiais como Gabriela
Athias. Duque foi preso pela Polícia Federal três dias após o diálogo
telefônico ter sido grampeado, na sétima fase da Lava Jato. Atualmente,
ele está em liberdade por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).
A interlocutora de Duque na conversa telefônica, de acordo com o
relatório da PF, seria funcionária da Somma Comunicações, empresa de
assessoria de imprensa que prestava serviços ao escritório de advocacia
contratado pelo ex-dirigente para defendê-lo no processo da Lava Jato.
No diálogo, Gabriela relata detalhes da articulação de parlamentares
governistas para evitar que Duque fosse convocado a falar na CPI mista.
Naquele dia, uma manobra da base aliada, comandada pelo então
presidente da comissão, o ex-senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), evitou que
o requerimento de convocação fosse apreciado pelos integrantes do
colegiado.
Na ocasião, a ausência de parlamentares governistas no início da
sessão evitou que houvesse quórum para votar o pedido para Duque
comparecer à CPI. Porém, durante o depoimento, deputados e senadores
oposicionistas conseguiram se mobilizar para alcançar o quórum e
exigiram que o requerimento fosse votado.
Apesar da pressão, Vital do Rêgo decidiu encerrar a reunião alegando
que a sessão de votações do plenário do Senado havia começado. A atitude
gerou intensos protestos da oposição e até confusão em plenário. Na
conversa telefônica, a assessora de comunicação relata a manobra a Duque
e diz que o governo achou “arriscado” permitir que ele fosse convocado.
A jornalista afirmou ao ex-diretor da estatal que uma das estratégias
seria deixar que o requerimento fosse aprovado, mas protelar ao máximo o
agendamento da oitiva. “Na verdade, o governo achou que era muito risco
aprovar e deixar o negócio na gaveta aprovado, entendeu?”, afirmou
Gabriela, conforme a transcrição do diálogo telefônico.
Duque então ironizou, dizendo que não podia dizer que havia ficado
chateado com a notícia. Conforme a transcrição, a assessora responde que
ficou “aliviada” com o resultado da reunião da CPI mista.
O advogado Alexandre Lopes, um dos responsáveis pela defesa de de
Renato Duque, afirmou que é um “erro grave” da Polícia Federal apontar
indícios de que o cliente dele teria recebido proteção política na CPI
mista.
“Um erro gravíssimo da PF. Um erro grave, aliás, mais um. Trata-se um
erro muito grave da PF em relação ao Duque porque ele não recebeu
nenhuma proteção. Ninguém é capaz de impedir que uma pessoa não seja
convocada por uma CPI”, ressaltou Lopes.
A assessoria do ministro Vital do Rêgo informou ao G1 que, à época da
sessão citada pela PF, o então senador cancelou a reunião da CPI mista
em razão do início da ordem do dia no Senado, o que, segundo ele,
impediria o prosseguimento da sessão.
Já Gabriela Athias explicou que prestava serviços de assessoria de
imprensa para o escritório de advocacia que defendia Renato Duque e que
somente repassou a ele “o que era informação pública”.
G1
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