Uma tremenda molecagem
(Ricardo Noblat / 20.10.2014)
Qual Lula é o verdadeiro?
O bem educado que aparece no programa de propaganda eleitoral de
Dilma na televisão, defende os 12 anos de governos do PT e, ao cabo,
sorridente, pede votos para reeleger sua sucessora?
Ou o moleque de rua que pontifica em comícios país a fora,
sugerindo, sem ter coragem de afirmar diretamente, que Aécio é capaz,
sim, de dirigir embriagado, agredir mulheres e se drogar?
O segundo é o mais próximo do verdadeiro Lula. Digo por que o
conheço desde quando era líder sindical. Lula é uma metamorfose
ambulante. Não foi ninguém quem o disse, foi ele quem se rotulou assim.
A esquerda tudo perdoaria a Lula desde que chegasse ao poder.
Chegou, cavalgando-o. Uma vez lá, se corrompeu. Quanto a ele… Não sabia
de nada. Nunca soube.
Justiça seja feita a Lula: por desconhecimento de causa e
preguiça, ele jamais compartilhou as ideias da esquerda. Assim como ela
se aproveitou dele, Lula se aproveitou dela. Um casamento não por amor,
mas por interesse.
Na primeira reunião ministerial do seu governo em 2003, Lula se
irritou com um ministro e desabafou: “Toda vez que me guiei pela
esquerda me dei mal”.
Retifico: ele não disse que se deu mal. Usou um palavrão. Nada
demais para o sujeito desbocado que nunca pesou o que diz. Grossura nada
tem a ver com infância pobre.
Lula é um sucesso do jeito que é. Mudar, por quê? Todos admiram
sua astúcia. Muitos se curvam à sua sabedoria. E outros tantos temem ser
apontados como desafetos do retirante nordestino que se deu bem.
No último sábado, em comício em Belo Horizonte, Lula disse que nunca foi grosseiro com adversários.
Textualmente: “Não tive coragem de ser grosseiro contra Collor,
Serra, Alckmin, Fernando Henrique. Pega uma palavra minha chamando
candidato de mentiroso e leviano”. É fácil.
Lula chamou Sarney de ladrão. E Itamar Franco de filho da puta.
Resposta de Itamar em maio de 2003: “Gostaria de saber o que
aconteceria se a situação fosse inversa, ou seja, se esse indivíduo
arrogante e elitista fosse o presidente da República e alguém lhe
chamasse disso. (…) Minha mãe se chamava Itália Franco. Mas fosse um
filho da p., certamente teria por ela o mesmo amor filial”.
Você pensa que Lula ficou constrangido com a resposta de Itamar?
Foi ao velório dele. Assim como foi ao velório de Ruth Cardoso, mulher
de Fernando Henrique. Chorando, lançou-se aos braços do ex-presidente.
Pouco antes da morte de Ruth, a Casa Civil da então ministra
Dilma montara um dossiê sobre despesas com cartão de crédito do casal
FH. Depois, a ministra se desculpou.
Lula não é homem de se desculpar. Nem mesmo quando trata um
assessor a pontapés. Como governador de Minas Gerais, no auge do
escândalo do mensalão, Aécio lutou para que o PSDB não pedisse o
impeachment de Lula. Conseguiu.
Mais tarde, Lula tentou convencê-lo a aderir ao PMDB para disputar a presidência com o seu apoio. Aécio não quis.
De volta ao comício de Belo Horizonte.
Antes de Lula falar, foi lida a carta de uma psicóloga acusando
Aécio de espancar mulheres e de ser megalomaníaco. Ele ainda foi chamado
de “coisa ruim”, “cafajeste” e “playboy mimado”.
Por fim, a plateia foi ao delírio ao ouvir Lula dizer sobre o
comportamento de Aécio em debates: “A tática dele é a seguinte: vou
partir para a agressão. Meu negócio com mulher é partir para cima
agredindo”.
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