Veneno de vespa age contra perda de neurônios por Parkinson, diz estudo
Um
componente do veneno da vespa mostrou-se eficaz em impedir a perda de
neurônios provocada pela doença de Parkinson. O estudo, desenvolvido no
Laboratório de Toxinologia da UnB, foi feito em ratos com uma lesão
cerebral que simula o efeito do Parkinson. A pesquisa foi apresentada
nesta sexta-feira (29) na XXIX Reunião Anual da Federação de Sociedades
de Biologia Experimental (FeSBE), em Caxambu, Minas Gerais.
No
Parkinson, ocorre a perda de neurônios em uma região cerebral
específica chamada substância nigra, ou substância negra. Os neurônios
dessa região são responsáveis pela produção do neurotransmissor
dopamina, cuja falta resulta em perda progressiva do controle motor.
Um
dos principais tratamentos disponíveis atualmente baseia-se na
reposição da dopamina. Essa estratégia trata os sintomas, sem porém
interferir na evolução natural da doença. Ou seja, os neurônios
produtores de dopamina continuam morrendo. Há vários tratamentos
potencialmente neuroprotetores em estudo, porém nenhum deles conseguiu
impedir definitivamente a degeneração dos neurônios no paciente de
Parkinson.
Diante
dessa falta de alternativa, a pesquisadora e professora da UnB Márcia
Renata Mortari – que trabalha com a busca de novos componentes de
venenos de animais que possam servir de tratamento para doenças –
resolveu testar se o veneno de vespa poderia ter alguma ação
neuroprotetora para o Parkinson.
Primeiro,
ela isolou os peptídeos presentes no veneno, ou seja, os fragmentos de
proteínas que o compõem. Depois de purificar cada um dos peptídeos, ela
passou a aplica-los em ratos com lesões cerebrais que simulam os efeitos
do Parkinson. Márcia e sua equipe testaram quatro peptídeos sem
sucesso, até que o quinto componente testado apresentou resultados
promissores.
O
peptídeo foi injetado uma hora após o início da lesão que simula o
Parkinson. Os animais receberam uma dose por dia durante quatro dias.
Testes comportamentais, que avaliaram o equilíbrio e as atividades
motoras dos ratos, mostraram que os que foram tratados com o peptídeo
não apresentaram os sinais típicos do Parkinson, diferentemente do que
ocorreu com os animais que receberam placebo.
A
pesquisadora e professora da UnB Márcia Renata Mortari resolveu testar
se o veneno de vespa poderia ter alguma ação neuroprotetora para o
Parkinson. (Foto: Priscilla Galante/Divulgação)
Uma
contagem dos neurônios produtores de dopamina feita nos dois grupos
também mostrou que, entre os que receberam a substância retirada do
veneno, houve uma preservação da quantidade de células nervosas, o que
sugere que o novo peptídeo tem uma ação neuroprotetora em casos de
Parkinson.
“Ele
impediu a morte dos neurônios, mas não resgatou o neurônio que já
estava em apoptose (morte celular)”, diz a pesquisadora. “O que eu penso
é que ele pararia a degeneração em qualquer nível da doença, mas quanto
antes começar, melhor. O objetivo do teste é que seja um composto para
impedir a progressão da doença, mas não é capaz de reverter a doença já
estabelecida.” Os resultados são iniciais e testes em humanos ainda
devem demorar vários anos para ocorrer.
O
novo peptídeo foi chamado de fraternina, pois foi extraído da vespa
Parachartergus fraternus. Segundo Márcia, o estudo utilizou mil vespas
retiradas de um mesmo ninho. O veneno de cada uma foi retirado
manualmente.
Márcia
observa que os venenos de animais têm sido uma fonte importante de
pesquisa de novos tratamentos. “Durante todo o processo de evolução, os
animais desenvolveram uma série de compostos bioativos em seus venenos
com objetivo de paralisar as presas ou de se defender contra o predador.
A natureza já tem funcionado como uma oferta de compostos neuroativos
que a gente usa para tratamento de doenças.”
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