Postado por Gilvan Freire em 18/07/14 as 18:49
JUDICIALIZAÇÃO, ADORAÇÃO E CANONIZAÇÃO
A judicialização da campanha eleitoral, consistente
na impugnação de candidaturas, especialmente as candidaturas de maior
visibilidade, a rigor não constitui nenhum problema extraordinário, pois
os interessados não estão proibidos de recorrer ao poder judiciário
quando for para fazer cumprir a lei. É muito natural que partidos e
candidatos sejam vigilantes com relação às suas próprias postulações e
também, com maior razão, com relação aos concorrentes. Faz parte das
disputas e da concorrência por vagas eletivas.
No caso de Cássio, alvo permanente de impugnações, isso decorre ainda
dos efeitos de sua cassação, que deixou em aberto, sujeitos a dúvidas
de interpretação, alguns aspectos polêmicos do caso, especialmente a
respeito de quanto dura a cassação e qual o tempo certo de sua
terminação, envolvendo prazo determinado, ano e dia. Outra questão
controvérsa é a retroatividade da Lei da Ficha Limpa que, sendo
posterior a cassação de Cássio, pode ou não pode retroagir para
prejudicá-lo aumentando a sanção dada contra ele. Este elemento da lei
xerifária, foi deplorado pelas melhores cabeças do Supremo Tribunal
Federal e constitui uma inovação temerária dos mais assentados
princípios de direito constitucional do mundo moderno.
Mas, enfim, Cássio terá de passar mais uma vez por esse teste, já
que pelos testes das urnas tem vencido com maior facilidade, embora com
grande sofrimento. Ou seja: sofrendo e vencendo Cássio percorre a via
crucis, mas, pelo menos, não carrega sozinho a sua cruz, vez que tem a
companhia de muita gente que está sempre disposta a compartilhar suas
dores com o fim de vê-lo triunfar. Esse é seu carma e seu destino – se
fosse diferente talvez não se compatibilizasse com a áurea que é mantida
em torno dele. Coisa dos tempos, da história dos povos e da biografia
dos líderes.
De qualquer forma, é bom que seus adversários não provoquem o
sentimento de proteção e amparo que grande parte da população parece
destinar a Cássio, para não transformá-lo em fenômeno de adoração
coletiva, uma espécie de santificação política, após a beatificação pela
qual passou em 2010, que resultou no amaldiçoamento de seus
adversários, se razões já não existirem atualmente para alguns serem
excomungados.
A política não comporta processo de canonização, a falta de hábitos e
práticas virtuosas, mas o povo santifica seus ídolos de acordo com os
códigos sociais, e não conforme as leis canônicas. E nem precisa que o
ungido tenha obrado milagres, basta apenas que tenha caído nas graças de
seus devotos.
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