SÃO PAULO: Terra da Ostentação, Beleza e Descaso
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Amanda Cristina de Souza |
A disparidade
existente na grande São Paulo, entre o luxo e o que podemos denominar de
“lixo”, me fez lembrar a saudosa canção que diz: “De um lado esse
carnaval, de outro a fome total”. Ainda nesta canção é perceptível o
brilhante paradoxo inserido pelo autor ao afirmar que ora a sereia era
desejada por seus beijos de deusa e ora queriam o seu rabo para a ceia.
Os “beijos de
deusa”, é o retrato de um Brasil refletido em cada esquina da grande São
Paulo, com isso, quero deixar claro que não apenas nesta metrópole mas
em todo o país, é possível encontrar um estado de calamidade, silenciada
por vozes esquecidas e desventuradas.
A correria do
Estado de São Paulo, não se pode mensurar. A vida de cada habitante é
basicamente movida a pão de queijo, metrô, ônibus, dormir, acordar e
repetir tudo isto durante dias, semanas, meses, até aí tudo bem, é a
chamada rotina, o que realmente surpreende é como a invisibilidade de
algumas pessoas seja ela trabalhador ou em situação de rua, parece ser
constante, pouco aterrorizante e comum.
Não é difícil
perceber que os “beijos de deusa” estão configurados em belíssimas obras
como o shopping Iguatemi e principalmente o Higienópolis, e nas pessoas
que parecem não existir de forma concreta no planeta terra por sentir
que o ar que respira, possui Channel nº5 para diferenciá-los dos pobres
mortais, desse modo, o padrão de vida, comportamento, poder aquisitivo,
ultrapassa os limites de nossa aceitação. Quando falo em aceitação, é
por não conseguir encontrar outra palavra que defina observar tamanha
disparidade e nada poder fazer.

O rabo da
sereia é cobiçado diariamente por àqueles que enfrentam a fome e o frio
de uma cidade repleta de show, brilho, ostentação, consumo, sorrisos,
iPhone, carros, enfim, afirmar que a violência cresce cotidianamente,
não é o mesmo que acrescer que esta mesma violência ocorre abruptamente
por esquecermos que se nós, temos necessidades e desejos o próximo
também compartilha do mesmo pensamento. Acredito muito no ditado “Cada
cabeça uma sentença”, pois, através dele conseguimos vislumbrar que as
nossas ações geram reflexos diferenciados, por sermos indivíduos plurais
em nosso modo de pensar, agir e ser.
A imagem, ainda
que desfocada, mostra a situação de exclusão da população que não
possui moradia, comida, emprego, a já mencionada dignidade, e muito
menos perspectivas de mudança em suas vidas. Olhar para viadutos e
perceber que o ser humano é tratado como lixo, me fez lembrar uma poesia
do eterno Manuel Bandeira que diz:
“Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem”
(Manuel Bandeira)
*Amanda Cristina Souza é estudante de Serviço Social da UFPB, estagiária
no NCDH/UFPB, Poeta nas horas vagas e escreve uma coluna aos domingos
no www.agorapb.com.br
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