Agressor admite à Justiça que chutou motorista de ônibus que caiu no Rio
'Foi um chute defensivo', disse, exaltado e falando palavrões em audiência.
Condutor diz que não lembra de acidente que matou nove pessoas.
Ônibus caiu de viaduto sobre a Avenida Brasil (Foto:
Reprodução / GloboCop)
Durante a audiência de instrução de julgamento sobre a queda do ônibus
da linha 328 (Castelo-Bananal) na Avenida Brasil, nesta segunda-feira
(18) no Rio, o réu Rodrigo dos Santos Freire se exaltou, falando
palavrões dentro do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O acidente deixou nove mortos e sete feridos em abril.
"Foi um chute defensivo, agi em legítima defesa", disse o passageiro,
se defendendo da acusação de que sua agressão ao motorista André
Oliveira, também réu no processo, perdeu o controle do veículo.
Rodrigo afirmou que pulou a roleta, mas sem nenhuma intenção de agredir
o motorista. "Meu objetivo era convencê-lo a abrir a porta da frente.
Ele chegou a levantar para me ameaçar. Neste momento eu dei o chute",
disse.
Já o motorista André Oliveira, que também é réu no processo, contou à
juíza que não lembra de nada que ocorreu no dia do acidente. Ele, que
trabalhava há dois anos e meio na Paranapuan, possui duas multas por
parar fora do ponto. Ele ainda está se recuperando de uma lesão no fêmur
direito e na coluna.
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Ao todo foram ouvidas onze testemunhas, além de uma mídia enviada à
juíza com o depoimento através de carta precatória de mais uma
testemunha ouvida em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Imagens são solicitadas
A juíza Paula Fernandes Machado vai solicitar que a empresa Paranapuan
envie uma cópia das imagens gravadas pela câmera de segurança do veículo
no dia do acidente e que Prefeitura encaminhe as imagens da câmera da
Cet-Rio localizada próxima ao viaduto. O prazo para a entrega é de cinco
dias.
Devido ao recesso forense, a sentença deve sair em janeiro de 2014. Os
crimes são expor a risco em meio de transporte público e lesão corporal
dolosa contra o motorista.
Provocação
Mais cedo, uma testemunha contou que, antes de ser agredido, André
teria provocado Rodrigo. "O motorista falou para ele que ele não desceu
[no ponto] porque ele foi andando rebolando para a porta de saída”,
disse a estudante de farmácia Simone Freitas, de 18 anos, que estava no
coletivo.
Após a discussão, Rodrigo pulou a roleta e agrediu André. Simone contou que viu mais de dois chutes, na cabeça e no peito.
Antes de Simone, a primeira testemunha a ser ouvida relatou que o
coletivo vinha em alta velocidade e que chegou a rezar antes da queda do
ônibus. “Tentei saltar antes, mas não consegui. Comentei da velocidade,
mas eu segui e pensei: 'Seja o que Deus quiser'. Eu vi ele pulando a
roleta (Rodrigo), eles (Rodrigo e motorista) discutiram muito. Estava
prevendo que algo ia acontecer. Me ajoelhei no banco para rezar",
relatou Antônio José, de 86 anos, que ficou 25 dias internado após o
acidente.
Antônio fraturou cinco costelas, perfurou o pulmão, quebrou a clavícula
e teve um coágulo na cabeça. Segundo ele, até hoje está com a clavícula
fora do lugar, e precisa de fisioterapia.
Pena
André e Rodrigo foram denunciados pelo Ministério Público pelo crime de
atentado contra a segurança do transporte viário. A pena pode variar
entre um a cinco anos de reclusão, com agravante de o fato resultar em
desastre — a pena pode ser dobro porque nove pessoas morreram no
acidente.
Rodrigo responde ainda por lesão corporal dolosa contra André, e pode
ser com punido até mais cinco anos de prisão, se condenado.
A segunda testemunha a prestar depoimento disse que ficou três meses
sem trabalhar por causa do acidente. O motorista particular Everaldo
Roberto da Veiga, 41 anos, teve traumatismo craniano e ficou seis dias
no CTI em coma induzido. De acordo com ele, também teve fraturas na
clavícula, costelas, a face e teve perfuração no pulmão.
Everaldo contou que a briga começou após Rodrigo pedir para o motorista
parar fora do ponto e não foi atendido. O motorista particular contou
ainda que entre 20 a 30 pessoas desembarcaram do ônibus na altura da
saída da Ilha. De acordo com ele, esse número correspondia a metade das
pessoas que estavam no veículo. “Se esses passageiros não tivessem
desembarcado, teria morrido muito mais gente. Eu nasci de novo. Cair de
quase 10 metros de um viaduto e estar vivo? Espero que a justiça seja
feita”.
O ônibus caiu do Viaduto Brigadeiro Trompowski na pista lateral da
Avenida Brasil, na altura da Ilha do Governador, Subúrbio. Rodrigo, que é
estudante de engenharia da UFRJ e morador da Cacuia, na Ilha, teria
dado um chute no rosto e causado desmaio do motorista, após bate-boca
iniciado porque o passageiro não conseguiu descer no ponto que desejava,
estando atrasado para a aula.
Depoimentos controversos
Dorenilde de Souza, que também estava no coletivo na hora da queda e
perdeu uma amiga no acidente, foi a terceira testemunha a prestar
depoimento. Segundo ela, Rodrigo agrediu o motorista com vários socos na
cabeça e chutes, no entanto, o condutor não teria reagido. A testemunha
acrescentou, entretanto, que André olhava para trás constantemente e se
virava para responder às agressões verbais.
No entanto, segundo a estudante de enfermagem Amanda Santana, 20 anos, a
briga foi provocada pelo motorista André. Ela afirmou que viu o momento
em que Rodrigo foi até o motorista e pediu para ele parar. Segundo ela,
Rodrigo estava exaltado, no entanto, ele teria reagido às provocações
de André. “Ele estava exaltado, mas não falava baixaria com o motorista.
Eu escutei o motorista dizer para ele: ‘Pode me bater, vem para a mão’.
E ele fez como se fosse levantar para brigar. O garoto, provavelmente,
perdeu a cabeça, mas foi ineficaz discutir com o motorista. Foi de uma
completa irresponsabilidade das duas partes”, afirmou.
Adriana Chagas, 30 anos, irmã de Luciana Chagas, que morreu no
acidente, chegou a ser convocada, mas foi dispensada pela juíza. “Achei
justo eu não ter que depor, pois eu não estava lá. Mas achei injusta a
acusação do Ministério Público e a Justiça entender que eles não tinham a
intenção de matar. A partir do momento que você age dessa forma ao
volante, assume que pode matar. Eles são culpados na mesma proporção”,
afirmou.
Duas testemunhas, o técnico de informática Nelson Martins e o
cozinheiro identificado apenas como Marcelo, reconheceram, no Hospital
Miguel Couto, na ocasião, Rodrigo como o agressor de André. Os dois
sobreviventes desceram do ônibus momentos antes da queda, quando a
discussão já havia começado.
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