segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Acidente matou nove pessoas!

Agressor admite à Justiça que chutou motorista de ônibus que caiu no Rio


'Foi um chute defensivo', disse, exaltado e falando palavrões em audiência.
Condutor diz que não lembra de acidente que matou nove pessoas.


Isabela Marinho e Cristiane Cardoso/Do G1 Rio


Ônibus caiu de viaduto na Avenida Brasil (Foto: Reprodução / GloboCop)Ônibus caiu de viaduto sobre a Avenida Brasil (Foto: 
Reprodução / GloboCop)

Durante a audiência de instrução de julgamento sobre a queda do ônibus da linha 328 (Castelo-Bananal) na Avenida Brasil, nesta segunda-feira (18) no Rio, o réu Rodrigo dos Santos Freire se exaltou, falando palavrões dentro do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O acidente deixou nove mortos e sete feridos em abril.
"Foi um chute defensivo, agi em legítima defesa", disse o passageiro, se defendendo da acusação de que sua agressão ao motorista André Oliveira, também réu no processo, perdeu o controle do veículo.
Rodrigo afirmou que pulou a roleta, mas sem nenhuma intenção de agredir o motorista. "Meu objetivo era convencê-lo a abrir a porta da frente. Ele chegou a levantar para me ameaçar. Neste momento eu dei o chute", disse.
Já o motorista André Oliveira, que também é réu no processo, contou à juíza que não lembra de nada que ocorreu no dia do acidente. Ele, que trabalhava há dois anos e meio na Paranapuan, possui duas multas por parar fora do ponto. Ele ainda está se recuperando de uma lesão no fêmur direito e na coluna.
Ao todo foram ouvidas onze testemunhas, além de uma mídia enviada à juíza com o depoimento através de carta precatória de mais uma testemunha ouvida em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Imagens são solicitadas
A juíza Paula Fernandes Machado vai solicitar que a empresa Paranapuan envie uma cópia das imagens gravadas pela câmera de segurança do veículo no dia do acidente e que  Prefeitura encaminhe as imagens da câmera da Cet-Rio localizada próxima ao viaduto. O prazo para a entrega é de cinco dias.

Devido ao recesso forense, a sentença deve sair em janeiro de 2014. Os crimes são expor a risco em meio de transporte público e lesão corporal dolosa contra o motorista.
Provocação
Mais cedo, uma testemunha contou que, antes de ser agredido, André teria provocado Rodrigo. "O motorista falou para ele que ele não desceu [no ponto] porque ele foi andando rebolando para a porta de saída”, disse a estudante de farmácia Simone Freitas, de 18 anos, que estava no coletivo.

Após a discussão, Rodrigo pulou a roleta e agrediu André. Simone contou que viu mais de dois chutes, na cabeça e no peito.
'Tentei saltar antes', diz testemunha
Antes de Simone, a primeira testemunha a ser ouvida relatou que o coletivo vinha em alta velocidade e que chegou a rezar antes da queda do ônibus. “Tentei saltar antes, mas não consegui. Comentei da velocidade, mas eu segui e pensei: 'Seja o que Deus quiser'. Eu vi ele pulando a roleta (Rodrigo), eles (Rodrigo e motorista) discutiram muito. Estava prevendo que algo ia acontecer. Me ajoelhei no banco para rezar", relatou Antônio José, de 86 anos, que ficou 25 dias internado após o acidente.

Antônio fraturou cinco costelas, perfurou o pulmão, quebrou a clavícula e teve um coágulo na cabeça. Segundo ele, até hoje está com a clavícula fora do lugar, e precisa de fisioterapia.
Pena
André e Rodrigo foram denunciados pelo Ministério Público pelo crime de atentado contra a segurança do transporte viário. A pena pode variar entre um a cinco anos de reclusão, com agravante de o fato resultar em desastre — a pena pode ser dobro porque nove pessoas morreram no acidente.

Rodrigo responde ainda por lesão corporal dolosa contra André, e pode ser com punido até mais cinco anos de prisão, se condenado.
A segunda testemunha a prestar depoimento disse que ficou três meses sem trabalhar por causa do acidente. O motorista particular Everaldo Roberto da Veiga, 41 anos, teve traumatismo craniano e ficou seis dias no CTI em coma induzido. De acordo com ele, também teve fraturas na clavícula, costelas, a face e teve perfuração no pulmão.

Everaldo contou que a briga começou após Rodrigo pedir para o motorista parar fora do ponto e não foi atendido. O motorista particular contou ainda que entre 20 a 30 pessoas desembarcaram do ônibus na altura da saída da Ilha. De acordo com ele, esse número correspondia a metade das pessoas que estavam no veículo. “Se esses passageiros não tivessem desembarcado, teria morrido muito mais gente. Eu nasci de novo. Cair de quase 10 metros de um viaduto e estar vivo? Espero que a justiça seja feita”.
O ônibus caiu do Viaduto Brigadeiro Trompowski na pista lateral da Avenida Brasil, na altura da Ilha do Governador, Subúrbio. Rodrigo, que é estudante de engenharia da UFRJ e morador da Cacuia, na Ilha, teria dado um chute no rosto e causado desmaio do motorista, após bate-boca iniciado porque o passageiro não conseguiu descer no ponto que desejava, estando atrasado para a aula.

Depoimentos controversos
Dorenilde de Souza, que também estava no coletivo na hora da queda e perdeu uma amiga no acidente, foi a terceira testemunha a prestar depoimento. Segundo ela, Rodrigo agrediu o motorista com vários socos na cabeça e chutes, no entanto, o condutor não teria reagido. A testemunha acrescentou, entretanto, que André olhava para trás constantemente e se virava para responder às agressões verbais.

No entanto, segundo a estudante de enfermagem Amanda Santana, 20 anos, a briga foi provocada pelo motorista André. Ela afirmou que viu o momento em que Rodrigo foi até o motorista e pediu para ele parar. Segundo ela, Rodrigo estava exaltado, no entanto, ele teria reagido às provocações de André. “Ele estava exaltado, mas não falava baixaria com o motorista. Eu escutei o motorista dizer para ele: ‘Pode me bater, vem para a mão’. E ele fez como se fosse levantar para brigar. O garoto, provavelmente, perdeu a cabeça, mas foi ineficaz discutir com o motorista. Foi de uma completa irresponsabilidade das duas partes”, afirmou.
Adriana Chagas, 30 anos, irmã de Luciana Chagas, que morreu no acidente, chegou a ser convocada, mas foi dispensada pela juíza. “Achei justo eu não ter que depor, pois eu não estava lá. Mas achei injusta a acusação do Ministério Público e a Justiça entender que eles não tinham a intenção de matar. A partir do momento que você age dessa forma ao volante, assume que pode matar. Eles são culpados na mesma proporção”, afirmou.
Duas testemunhas, o técnico de informática Nelson Martins e o cozinheiro identificado apenas como Marcelo, reconheceram, no Hospital Miguel Couto, na ocasião, Rodrigo como o agressor de André. Os dois sobreviventes desceram do ônibus momentos antes da queda, quando a discussão já havia começado.

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