Enviado por Ricardo Noblat -
O Estado de S. Paulo
Depois de examinar
mais de 30 textos enviados por candidatos que atingiram a pontuação
máxima no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), acompanhados da
confirmação, pelas universidades federais, de que foram aprovados no
vestibular deste ano, o jornal O Globo constatou que muitas redações
continham erros de grafia ─ como “rasoável”, “enchergar” e “trousse” ─ e
graves erros também de concordância, acentuação e pontuação.
Embora
tenham recebido a nota 1.000, no Enem de 2012, essas redações não
atenderam às exigências da primeira das cinco competências avaliadas
pelos corretores, que exige dos estudantes demonstração do “domínio da
norma padrão na língua escrita”. Numa das redações ─ que não recebeu a
pontuação máxima, mas obteve nota alta ─ o estudante despreza o tema ─
“movimentos imigratórios para o Brasil no século 21″ — e descreve como
preparar um miojo.
Cada
competência tem a pontuação máxima de 200 pontos. Como informa o Guia
do Participante, distribuído pelo MEC, os 200 pontos relativos à
primeira competência só podem ser concedidos aos alunos que apresentarem
“poucos desvios gramaticais leves”.
Segundo o guia, “desvios mais
graves excluem a redação da pontuação mais alta”. Ele é taxativo ao
apontar, entre os “desvios gramaticais mais graves”, erros de grafia, de
acentuação e de pontuação, como os que foram cometidos nas provas
conferidas pelo jornal.
Pelas regras do Enem, essas redações não
poderiam receber a pontuação máxima. “A atribuição injusta do conceito
máximo a quem não teve o mérito estimula a popularização do uso da
língua portuguesa, impedindo os alunos de falar, ler e escrever
reconhecendo suas variedades linguísticas. Além disso, provoca a
formação de profissionais incapazes de se comunicar, em níveis
profissional e pessoal, e de decodificar o próprio sistema da língua
portuguesa”, diz Jerônimo Moraes Neto, professor de Linguística Aplicada
na UFRJ e na Uerj.
“Na vida real, redações como essas jamais
tirariam nota máxima, pois contêm erros que a sociedade não aceita.
Afinal, pareceres, relatórios, artigos científicos, livros e matérias de
jornal que contiverem esses desvios colocarão em risco o emprego de
revisores, pesquisadores e jornalistas”, afirma o titular de Língua
Portuguesa do Instituto de Letras da Uerj, Cláudio Henriques.
Fonte: O Estado de São Paulo
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