Sobretaxa de 50% dos Estados Unidos entra em vigor enquanto governo Lula tenta abrir negociação
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| Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e Lula, presidente do Brasil - Foto: Brendan Smialowski e Evaristo Sá/AFP |
Anunciada no último dia 09 de julho, em uma carta assinada
pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entra em vigor, nessa
quarta-feira, 06, uma sobretaxa de 50% que vai incidir sobre parte das
exportações brasileiras para o mercado americano. As vendas para os EUA
já haviam recebido uma tarifa adicional de 10% há cerca de dois meses.
Interlocutores do governo afirmam que o quadro está indefinido. Não há um canal de diálogo aberto que coloque sobre a mesa o que os americanos querem como compensação, para retirar a sobretaxa.
Os únicos sinais dados pela Casa Branca foram o interesse em colocar em uma negociação a retirada do processo pelo qual o ex-presidente Jair Bolsonaro é acusado de tentativa de golpe de Estado, em curso no Supremo Tribunal Federal ( STF), o acesso a minerais críticos e a regulação das grandes plataformas digitais americanas, conhecidas por big techs.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, espera falar com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent.
Contudo, desde que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes decretou prisão domiciliar a Bolsonaro, na última segunda-feira, a situação pode ter ficado mais complicada do que já é. O governo americano reagiu no mesmo dia e acusou Moraes de violar os direitos humanos. O magistrado já é alvo de sanções econômicas pelos EUA.
A saída para o governo brasileiro é implementar um plano de contingência para ajudar os setores mais afetados pelo tarifaço a sobreviver, enquanto buscam novos mercados. Cerca de 700 itens ficaram de fora da sobretaxa, mas carnes, calçados, pescados, entre outros, serão duramente afetados. O assunto foi tema de reunião, nesta terça-feira, entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vários ministros.
Segundo interlocutores do governo brasileiro, a dinâmica de uma negociação entre EUA e Brasília é inédita na história das relações bilaterais. O caso é considerado e promete ser um dos mais desafiadores. Lula tentará driblar a todo momento as pressões de Trump para que o Judiciário do Brasil, um poder independente, suspenda o processo contra Bolsonaro.
Isso já coloca os brasileiros em posição de desvantagem em relação aos demais parceiros internacionais que já fecharam acordos com os EUA. E, mesmo nesses casos, o preço a ser pago à Casa Branca é alto.
Com a União Europeia, por exemplo, a tarifa caiu de 25% para 15%, quando as vendas forem para os EUA. Os europeus serão obrigados a não cobrar nada sobre bens americanos e ainda terão de fazer investimentos bilionários naquele país.
Outro exemplo é a Indonésia. Cerca de 99% das tarifas de importação sobre produtos americanos irão a zero; e as exportações indonésias serão tributadas em 19%. Além disso, não haverá restrições de minerais críticos aos EUA.
Frederico Favacho, sócio do Santos Neto Advogados, avalia que Trump jogou o caso brasileiro para o escrutínio mundial.
O caso do Brasil não seria discutido, necessariamente, na Organização Mundial do Comércio (OMC), que está desmobilizada, mas em análises políticas e nos debates públicos diz Favacho.
Para o analista político Oliver Stuenkel, professor da Fundação Getúlio Vargas, não há clareza sobre o que os EUA querem do Brasil. Isso porque a questão está muito concentrada na Casa Branca. O Departamento de Estado e o Conselho Nacional de Segurança têm poucas informações, em sua opinião.
O tema Bolsonaro, obviamente, não pode fazer parte das negociações, mas tarifas e big techs, sim. Mas é difícil saber afirma.
Para Stuenkel, o espaço para as negociações é bastante limitado, por causa dessa conotação política dada por Trump. Assim, fica muito mais fácil para os europeus, os japoneses e outros negociarem com os EUA do que o Brasil.
"Trump iniciou essa negociação de forma muito ofensiva diz o analista.
Dawisson Belém Lopes, professor de relações internacionais da Universidade Federal de Minas Gerais, destaca que o governo brasileiro está imbuído do espírito soberanista.
Para falar português claro, o Brasil não vai negociar com uma arma apontada para a cabeça. Isso está posto. E o governo Lula, que em certa medida se alimenta de popularidade, resultante dessa postura altiva em política externa, não vai ceder diz Lopes.
Não vai ceder, porque não é racional do ponto de vista político-eleitoral, e também porque contradiz toda a carga de valores que levou a esquerda ao poder completa.
Blog JUFU EM DESTAQUE com Folha de Pernambuco

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