segunda-feira, 2 de junho de 2025

Julgamento do assassino de pai do ator do SBT e dos pais do jovem

Empresário que matou ator do SBT e pais do jovem em 2019 fala por mais de 2 horas no julgamento e cita Lula e Bolsonaro; o réu discutiu com advogadas e se exaltou com o juiz

O empresário Paulo Cupertino Matias falou por mais de duas horas durante seu julgamento, contrariando sua própria defesa, se exaltando com o juiz e até citando Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como exemplos de pessoas que, assim como ele, “falam o que sentem e pensam”. O julgamento aconteceu na última quinta-feira (29), no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo.

Cupertino foi condenado na sexta-feira (30) a 98 anos de prisão em regime fechado. Ele matou a tiros o ator Rafael Miguel e os pais do jovem, Mirian e João Miguel, em 2019, por não aceitar o namoro do rapaz com sua filha, Isabela Tibcherani. Foram 12 tiros no total. Após o crime, ele fugiu e só foi preso em 2022.

O interrogatório foi gravado por uma câmera do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) com o consentimento do réu. Nas imagens, Cupertino aparece visivelmente alterado, levantando do banco dos réus, discutindo com suas advogadas e se dirigindo de forma ríspida aos promotores e ao juiz.

Cupertino
Mirian, Rafael Miguel e João Miguel foram vítimas do assassino Paulo Cupertino em 2019 - (Foto: Reprodução)

As falas de Cupertino

O réu respondeu apenas às perguntas de sua defesa e iniciou declarando inocência:

Impossível, entendeu, eu ter cometido esse crime”, afirmou. “Eu não matei o Rafael, eu não matei a família.”

“Eu nunca na minha vida, eu nunca na minha vida, eu tive conhecimento do Rafael, eu tive conhecimento da senhora Mirian, eu tive conhecimento do senhor João, tá?”, repetiu.

Sem deixar as advogadas conduzirem o interrogatório, ele afirmou que possuía duas armas legalizadas, mas que não estava armado no dia do crime:

“As minhas armas de excelência, todas as duas, eu tinha porte e registro das armas. Um revólver calibre 38 e uma pistola 380. Agora, no dia dos fatos, eu não estava armado. Mostra para mim a filmagem que eu estava com a arma na mão. Mostra para mim eu atirando no Rafael. Mostra para mim eu atirando na senhora Mirian.”

Câmeras de segurança, no entanto, registraram Cupertino fugindo logo após os assassinatos.

O empresário também afirmou que só descobriu que Rafael era ator após o crime:

“A minha vida inteira, eu não teria motivo para matar eles”

“O pouco da história que eu sei do Rafael hoje é o que eu vejo na prisão. Era o Rafael, que era de trabalho de novela”, disse. “Quem era o Rafael na minha vida? Era aquele garoto que fazia o comercial da farinha láctea.”

“Seria o maior privilégio da minha vida ter conhecido o Rafael. Então, foi vetado. Não por mim, porque eu nunca proibi. Eu nunca soube que a Isabela namorava.”

Sobre sua relação com a filha, ele negou violência e afirmou que ela mentiu ao dizer que o ouviu atirando:

“‘Como é que você era como pai?’ Chato. Não tinha essa de bater, de espancar, de amarrar…”

“Eu tenho certeza disso para qualquer um. Para qualquer um de vocês. Ela [Isabela] não ouviu nada. Ela não presenciou. Ela não presenciou isso. ‘Ah, eu ouvi os disparos.’ Como é que ela ouviu se ela estava no quarto?”

“Eu acho que ela foi iludida, abduzida, ela foi aliciada psicologicamente”, completou. “Eu amo a Isabela. ‘Ah, você tem raiva.’ Não tenho um pingo de raiva da Isabela.”

Cupertino lamentou que a filha tenha deixado de usar seu sobrenome:

“Cupertino é o meu sobrenome, e é um sobrenome que eu trago com muito orgulho, porque é o sobrenome da minha mãe. A minha filha se chama Isabela Tibcherani Cupertino Matias. A primeira coisa que ela fez, Excelência, foi tirar o nome dela, Cupertino.”

O interrogatório virou uma discussão com sua própria defesa. A advogada Mirian Souza tentou intervir, mas foi interrompida pelo próprio réu:

“Ah, mas a sua filha fala que você matou. A sua ex-mulher fala que você matou. A minha filha, ela foi alienada. Não, doutora, não era isso que a senhora queria? Não era a verdade? Só a verdade em cima da verdade? Então, o juiz está aqui. Se ele mandar eu parar de falar, eu acho que eu tenho que parar de falar.”

Quando a advogada pediu que ele seguisse uma linha do tempo, foi rebatida: “Doutora, isso é um desabafo. Não tem linha do tempo, doutora. Então, a senhora está me cortando.”

Ao falar sobre os assassinatos, tentou atribuir o crime a uma terceira pessoa:

“Eu fui covarde porque eu poderia ter evitado, policial, eu poderia ter evitado a situação, porque, quando eu vi a cena, o vagabundo, o infeliz que estava lá, que cometeu isso.”

Cupertino também se voltou contra os promotores e o advogado de acusação. Levantou-se e partiu na direção deles, sendo repreendido pelo juiz Antonio Souza:

“Se você quer me cortar, fica à vontade”, disparou contra a mesa do Ministério Público.

“Primeiro, o senhor fica sentado. E segundo, que eu vou pedir que trate com urbanidade todo mundo aqui”, respondeu o juiz.

“Eu estou alterado”, justificou o réu. “Desculpa a forma de estar falando.”

Em outro momento, comparou sua forma de se expressar à de Lula e Bolsonaro:

“Por que o Bolsonaro foi lá e falou que tomou a vacina e não tomou? Por que o Lula falou que tem o [inaudível]?”, questionou. “Aqui é um homem empolgado, esmagado, calejado, sofrido. Entendeu? Numa cadeia maldita.”

Ao juiz, tentou se justificar:

“Em momento nenhum eu quis fazer desse plenário um circo.”

Ele finalizou, antes da decisão dos jurados: “Se acontecer de vocês me condenarem (…), não vem com cadeia de 20 anos, 30 anos, não, que eu não quero. Tem que ser chapoletada, porque é um triplo homicídio.”

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Isabela Tibcherani chora durante seu depoimento falando sobre o assassinato do seu namorado - (Foto: Reprodução)

O que disse Isabela Tibcherani

Isabela, filha do réu e ex-namorada de Rafael, prestou depoimento sem a presença do pai. Relatou episódios de violência e ameaças:

“Eu lembro que ele me pegou pelo pescoço, me prensou contra a parede, me chamou de mentirosa, dissimulada, falou que eu era igual a minha mãe… nós éramos muito mentirosas, e ele devia ter dado um tiro na minha cabeça e na dela”, afirmou.

Ela contou que, no dia do crime, chegou em casa com Rafael e os pais dele no carro da família, quando foi surpreendida pela presença de Cupertino:

“Foi no momento em que ele fechou a porta. Fechou agressivamente a porta, nem dando a possibilidade de conversa, nem nada.”

Isabela relatou que ouviu os tiros de dentro de casa:

“Quando eu escutei os disparos, eu abaixei no chão e… Tapei os ouvidos e falava: ‘Não, não, não’”, disse.

“E aí quando parou o barulho dos disparos, eu fui imediatamente correndo para fora da casa e foi onde eu me deparei com a cena dos corpos, que era o corpo da mãe do Rafael caído na guia ao lado do carro. O corpo do Rafael caído em cima do corpo da mãe, meio sobreposto. E o corpo do pai do Rafael ainda no meio da rua.”

Ela chorou ao lembrar do ocorrido: “De fato ele tinha morrido e o que estava acontecendo, enfim…”

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Vanessa Tibcherani também prestou depoimento contra o seu ex-marido - (Foto: Reprodução)

Fala de Vanessa, ex-mulher de Cupertino

Mãe de Isabela também falou sem a presença do réu. Foi direta:

“O que eu posso dizer é que ele assassinou as três pessoas a sangue frio.”

Ela também descreveu um histórico de comportamento violento, agressivo e misógino por parte do ex-marido.

Atualmente, Paulo Cupertino está preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Guarulhos, aguardando transferência para uma penitenciária onde cumprirá a pena por triplo homicídio duplamente qualificado — motivo torpe e recurso que dificultou a defesa das vítimas.

A defesa de Cupertino não foi localizada até o momento.

Blog JURU EM DESTAQUE com ICL Notícias

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