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Recentemente, a funkeira e produtora de conteúdo adulto Mc Mirella virou pauta nas redes sociais após a publicação de um vídeo íntimo. Nas gravações, ela aparece fazendo sexo com o marido, Dynho Alves.

Um dos pontos que mais chamou a atenção dos internautas foi a falta de barulho por parte de Mirella na hora do sexo. Nas redes sociais, a cantora comentou que o silêncio se deve ao fato de que o casal compartilha a casa com a família, e ela tenta ao máximo ficar calada para não atrapalhar os outros moradores – mas que, no motel, ela se solta mais.

 discussão nas redes sociais levantou o debate sobre a importância do gemido na hora do sexo. No entanto, nem sempre o gemido é sinônimo de prazer genuíno. Segundo a sexóloga e psicóloga Alessandra Araújo, o som, muitas vezes, é performático – feito para agradar o outro, cumprir uma expectativa ou encerrar mais rapidamente a relação. 

“Algumas pessoas aprenderam a “atuar” no sexo porque internalizaram a ideia de que expressar prazer de forma sonora é uma obrigação. O prazer pode ser silencioso, contido ou se manifestar de formas sutis. A ausência de gemido não significa ausência de tesão”, argumenta. 

Culturalmente, espera-se que a mulher expresse o prazer de forma sonora, sensual e contínua, como se o gemido fosse a prova do desempenho do parceiro e da “feminilidade” dela, segundo a especialista. “Essa expectativa é reforçada pela pornografia e pela mídia, que idealizam uma mulher sempre excitada, responsiva e audivelmente satisfeita”, opina. “Muitas mulheres, inclusive, sentem culpa ou vergonha quando o corpo não corresponde a esse roteiro. Isso cria um cenário de falsa performance, onde o prazer é encenado em vez de vivido.”

Em uma cultura que valoriza expressões externas do prazer, ficar em silêncio pode ser interpretado como desinteresse ou falta de conexão. Alessandra destaca que cada pessoa tem um modo próprio de viver o erótico, sendo necessário o diálogo fora da relação sexual sobre como cada um se expressa. 

Sobre o caso de Mirella, a sexóloga pontua a expectativa normativa sobre como o prazer “deve” se manifestar, além da validação do ego masculino através da resposta feminina. Para Alessandra, o ponto chave da crítica em relação a funkeira é responsabilidade da pornografia mainstream, que cria um modelo artificial de relação sexual onde os gemidos são exagerados, constantes e sempre sincronizados com o clímax masculino.

“Isso molda a expectativa de que o sexo “de verdade” deve ser barulhento, performático e visualmente excitante. Na realidade, o prazer é muito mais complexo, subjetivo e sensorial do que aquilo que se mostra nas telas. A influência da pornografia sem filtro crítico pode levar à frustração, insegurança e à desconexão com o próprio corpo e com o parceiro”, disserta. 

Prazer e subjetividade

É importante lembrar que muitas mulheres demonstram prazer de formas sutis, através de sinais corporais que, muitas vezes, passam despercebidos por seus parceiros. “O corpo feminino fala, mas nem sempre é ouvido”, articula Alessandra, que exemplifica sinais que indicam excitação e orgasmo –  contrações involuntárias da musculatura vaginal, alteração no ritmo da respiração, rubor na pele, aumento da sensibilidade e do enrijecimento dos mamilos, arrepio e movimentos pélvicos espontâneos. 

“Quando esses sinais não são reconhecidos, muitas mulheres acabam sentindo que precisam “atuar” o prazer para serem validadas. Isso revela não apenas uma desconexão erótica no casal, mas uma falha cultural no aprendizado sobre o corpo da mulher e suas formas de expressão do desejo e do orgasmo”, acrescenta. 

Além disso, a especialista expõe que a cultura falocêntrica condiciona tanto os homens a centrar no próprio prazer e orgasmo como objetivo final que acabam se tornando cegos aos sinais da parceira. “Reconhecer esses sinais exige sair do próprio eixo e estar verdadeiramente disponível para o encontro com o outro, e não apenas para a validação do próprio desempenho”, finaliza. 

Em conclusão, não tem nada de errado com o silêncio de Mirella – o prazer não segue um roteiro fixo, e a ausência de gemidos não deve ser vista como falta de tesão ou conexão. O caso apenas escancara como ainda há pouca escuta e compreensão sobre as múltiplas formas de viver a sexualidade feminina. E você, homem, geme? 

Alerta

Embora Mirella tenha publicado os vídeos no perfil dela em uma plataforma de venda de conteúdo adulto, as imagens “vazaram” nas redes sociais e foram compartilhadas sem autorização da funkeira ou do parceiro.

Vale lembrar que o compartilhamento de vídeos íntimos sem a autorização dos envolvidos caracteriza crime, previsto no artigo 218-C do Código Penal.

Fonte: Correio Braziliense - BLOG daquilo