Embaixador é expulso da Nicarágua depois de discordância entre presidente brasileiro e Ortega; tensão aumentou depois que Lula tentou ajudar um bispo que ficou preso por mais de 500 dias
A ditadura da Nicarágua decidiu expulsar o embaixador brasileiro em Manágua, Breno de Souza da Costa, como retaliação pelo rompimento das relações entre os dois países. Esse rompimento ocorreu após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentar interceder pela liberação de um bispo católico que estava sendo perseguido pelo regime.
A tensão entre Lula e o ditador Daniel Ortega aumentou depois que o presidente brasileiro tentou ajudar o bispo Rolando José Álvarez, que esteve preso por mais de 500 dias e foi expulso da Nicarágua em janeiro. Ortega não atendeu às tentativas de contato de Lula e não respondeu a um pedido de telefonema sobre o caso.
Um alto funcionário do Itamaraty informou que o aviso para a saída de Breno Costa foi recebido há cerca de duas semanas. O Ministério das Relações Exteriores está tentando esclarecer a decisão com o governo nicaraguense e aguarda uma resposta definitiva de Manágua.
A chancelaria brasileira alertou que haverá consequências se a ordem de expulsão for confirmada. Até quarta-feira, 07, Breno de Souza da Costa ainda estava em Manágua.
A ordem de expulsão foi revelada pelo site Divergentes. O site também informou que Ortega deu 15 dias para Breno Costa deixar a Nicarágua. No entanto, um representante do governo Lula afirmou que o comunicado não especificou um prazo, o que permitiu ao Itamaraty tentar negociar.
Breno Costa foi aprovado pelo Senado em dezembro de 2021 e começou sua missão na Nicarágua em 2022. A decisão de expulsá-lo foi desencadeada pela sua ausência em um evento comemorativo dos 45 anos da Revolução Sandinista, o que irritou as autoridades locais.
O diplomata seguiu as orientações do Itamaraty, que pediu que ele não participasse de certos eventos políticos do regime. O PT, partido de Lula, é um aliado histórico de Ortega, que está no poder desde 2007.
A ditadura nicaraguense havia anunciado a libertação de Rolando José Álvarez em 2023, mas o bispo recusou as condições impostas por Ortega para deixar o país. Álvarez foi novamente preso e só foi liberado no início de 2024, sendo efetivamente expulso para o Vaticano.
O pedido para que Lula intercedesse foi feito pelo papa Francisco durante uma reunião no Vaticano em junho de 2023. Lula expressou sua frustração com a inflexibilidade de Ortega e mencionou que o ditador não atendeu a um telefonema do cardeal Pietro Parolin, emissário do papa, em abril.
Lula tornou seu descontentamento com Ortega público em uma entrevista a correspondentes estrangeiros em julho. Ele questionou se Ortega fez a revolução para buscar poder ou para melhorar a vida do povo nicaraguense.
O caso do bispo consolidou o rompimento das relações entre Lula e Ortega, que já estavam esfriando. Em junho de 2023, o Brasil apoiou uma resolução da OEA pedindo democracia na Nicarágua. Além disso, em um discurso no Foro de São Paulo, Lula criticou Ortega, dizendo que um verdadeiro aliado é aquele que aponta erros.
Durante o segundo mandato de Lula, de 2007 a 2010, a relação com a Nicarágua era mais próxima. Lula fez uma visita oficial ao país e recebeu Ortega em Brasília, chamando-o de amigo e companheiro.
Jornal Opção - Gustavo Soares
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