“Ter cometido o crime não me faz mais criminoso que eles”, diz assassino da vereadora Marielle Franco sobre mandantes
Atirador confesso que matou vereadora do Rio, Ronnie Lessa pede sigilo e retirada de outros envolvidos no duplo homicídio em primeiro depoimento ao STF
Em audiência no STF na última terça-feira (27), Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora Marielle Franco, demandou a saída dos mandantes do crime da sala virtual |
BRASÍLIA - O ex-policial militar Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, exigiu a saída dos mandantes do crime da sala virtual de audiências em seu primeiro depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Na oitiva marcada para a tarde dessa terça-feira (27), o atirador responsável por delatar o crime pediu sigilo e disse que por ser autor dos disparos no duplo homicídio não era o único bandido do caso.
“O fato de eu ter cometido o crime não me faz mais criminoso do que eles”, disse, referindo-se ao deputado federal Chiquinho Brazão (RJ), o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Rio de Janeiro, Domingos Brazão, e do delegado da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa.
Em audiência conduzida com perguntas da Procuradoria Geral da República e de assistentes de acusação, Lessa impôs condições para falar da autoria e planejamento do crime que levou cinco anos para ser descoberto.
"São pessoas de alta periculosidade, assim como eu fui. São muito perigosos, mais do que se possa imaginar", disse ele.
Prisões foram feitas em março
Domingos, Chiquinho e Rivaldo foram presos em março deste ano pela Polícia Federal. As prisões tiveram como base a delação premiada de Ronnie Lessa, que confessou em depoimento ser o assassino de Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes, em março de 2018. Após a análise do relatório, Alexandre de Moraes tornou o trio réu no processo.
De acordo com o ex-policial militar, ao executarem o plano de assassinato da vereadora Marielle Franco, ele e seus comparsas iriam receber um loteamento clandestino em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, avaliado em R$ 100 milhões. O local seria explorado pela milícia. Segundo Lessa, o valor alto contribuiu para que ele aceitasse fazer parte do esquema.
Além de confessar o crime, Lessa relatou ter se encontrado com Chiquinho e Domingos Brazão pelo menos três vezes próximo a um hotel na Barra da Tijuca, sempre à noite. Segundo o delator, nessas ocasiões, os irmãos mencionaram que Marielle “era uma pedra no caminho”.
O ex-policial também afirmou que, durante esses encontros, foi discutido que o delegado Rivaldo Barbosa estava envolvido no plano e que os protegeriam da investigação após o assassinato. Além de Lessa, o Macalé (apelido do ex-PM Edimilson de Oliveira), participava das negociações. Ele, apontado como responsável por fornecer a arma para o crime, foi assassinado em novembro de 2021.
A defesa de Domingos Brazão afirmou que não existem elementos que sustentem a versão de Lessa e que não há provas da narrativa apresentada. Já os advogados de Chiquinho afirmaram que a delação de Lessa "é uma desesperada criação mental na busca por benefícios, e que são muitas as contradições, fragilidades e inverdades".
A defesa de Rivaldo Barbosa, por sua vez, alegou que ele nunca teve contato com supostos mandantes do crime e que não há registro de recebimento de valores provenientes de atos ilícitos. Também criticou a atuação da PF, dizendo que o relatório da investigação se baseia só nas palavras de um assassino, sem provas concretas.
Blog JURU EM DESTAQUE com o Tempo - Por Hédio Ferreira Júnior
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