Jornalista do portal Intercept Brasil é condenada a prisão e multa por reportagem sobre conduta de juiz e promotor em julgamento de acusação de estupro, em Florianópolis
A jornalista Schirlei Alves, do portal
Intercept Brasil, foi condenada a penas que resultam em um ano de prisão
em regime aberto e R$ 400 mil de multa por reportagem sobre o
julgamento da acusação de estupro contra a influenciadora Mariana
Ferrer. A decisão da juíza Andrea Cristina Rodrigues Studer, da 5ª Vara
Criminal da Comarca de Florianópolis, é referente à ação movida pelo
promotor Thiago Carriço e o juiz Rudson Marcos contra a jornalista por
difamação a funcionário público.
A reportagem denunciou as condutas do
promotor e do juiz durante o julgamento do empresário André de Camargo
Aranha, acusado de estuprar Mariana Ferrer em um clube em Florianópolis.
A matéria se baseou em vídeos gravados da audiência de instrução que
mostram que Mariana Ferrer foi humilhada e constrangida pelo advogado de
defesa do acusado, Cláudio Gastão da Rosa Filho.
Nesta semana, o Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) decidiu punir com advertência o juiz Rudson Marcos, por
ter sido omisso durante a audiência. Na avaliação dos conselheiros do
CNJ, o advogado do empresário humilhou e desrespeitou a influenciadora
por várias vezes sem que o juiz ou o promotor de Justiça Thiago Carriço
de Oliveira interviessem.
A Agência Brasil solicitou posicionamento da defesa de Schirlei Alves, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
Reação
Nas redes sociais, Schirlei Alves
agradeceu as mensagens de apoio e solidariedade. “Como vocês sabem, fui
condenada a prisão em regime aberto + indenização de R$ 400mil por fazer
jornalismo honesto! É um caso sem precedentes. Precisamos levantar a
nossa voz! Obrigada a quem luta comigo, por mim e pela liberdade de
imprensa”, escreveu a jornalista.
O Sindicato dos Jornalistas
Profissionais de Santa Catarina (SJSC) e a Federação Nacional dos
Jornalistas (Fenaj) repudiaram a condenação. Segundo as entidades, a
decisão “é injusta e decorre em grave atentado à liberdade de imprensa”.
“A desproporção da pena em si, por ter
supostamente cometido crime de difamação, é indício de que a decisão
pode ter sido guiada por um sentimento de corporativismo que acaba
cumprindo o objetivo de intimidar denúncias jornalísticas contra juízes e
promotores”, diz a nota das entidades, ressaltando que a reportagem de
Schirlei certamente corroborou para a criação da Lei Mari Ferrer, hoje
em vigor no Brasil, que prevê punição para atos contra a dignidade de
vítimas de violência sexual e das testemunhas do processo durante
julgamentos.
A Associação Catarinense de Imprensa
divulgou nota de repúdio se solidarizando com a repórter e colocou sua
estrutura e rede de apoio para buscar reverter a decisão judicial “que
fere gravemente a liberdade de imprensa”, segundo a entidade.
O PT de Santa Catarina também divulgou
nota de solidariedade a Schirlei Alves, classificando a pena como
“desproporcional e típica de tempos estranhos”. “Não vamos aceitar esta
arbitrariedade. Não vamos deixar que Santa Catarina fortaleça a triste
imagem de um estado de exceção, que cala jornalistas e proíbe livros nas
escolas”, diz o partido.
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