"Lula foi parar na cadeia. Será possível que não aprendemos nada?", indaga Ciro Gomes
Depois de longos meses de silêncio, após ser derrotado nas eleições presidenciais, o ex-ministro volta ao debate atacando o presidente da República, a quem culpa pelo reacionarismo no país

“A Codevasf está fazendo investimento superfaturado no Amapá neste governo. A direção e as práticas que estão lá são as mesmas (da administração de Jair Bolsonaro). É por lá que se esvai o Orçamento secreto. Como vamos fazer? Deu certo isso? É uma pergunta simples”, afirmou Ciro. Na avaliação dele, o Brasil não aprendeu nada com seus erros. “Caramba, o Lula foi parar na cadeia. Será possível que não aprendemos nada? Ou nós acreditamos que Lula foi inocentado? Ele não foi. O Lula teve direito à presunção de inocência restaurada. É diferente de ser inocentado em um julgamento”, assinalou. Ele admitiu, contundo, que “Lula não teve o devido processo legal e disse que o petista e Bolsonaro são pessoas diferentes. “Com Lula, eu me sento para tomar uma cerveja e dizer as verdades todas para ele. Com Bolsonaro, eu não saio”, frisou.
Ele destacou que há risco de o fracasso do atual governo, que tomou posse há pouco mais de quatro meses, dar força para uma “direita caricata, não fácil de ser atacada, como Bolsonaro”. E acrescentou não ver com bons olhos o acordo fechado pelo Palácio do Planalto em torno das reeleições de Arthur Lira (PP-AL), para a presidência da Câmara, e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para o comando do Senado. “Não tem como dar certo. O que se percebe é que Lula manteve a lógica do Orçamento secreto. Não dá para achar que era uma abominação com Bolsonaro e, agora, é uma jogada inteligente para garantir a governabilidade.”
Demissão no BC
No contexto econômico, Ciro igualou Lula e Bolsonaro. “Mudam as pessoas, mas o modelo é rigorosamente o mesmo: teto de gastos, superavit primário, meta de inflação, câmbio flutuante, autonomia do Banco Central, política de preços da Petrobras. Esse aqui é o dogma da fé”, enfatizou. A artilharia do pedetista sobrou para o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que “está entregue a banqueirada”.
Em relação à proposta do novo arcabouço fiscal, em discussão na Câmara dos Deputado, disse se tratar de um novo teto de gastos, com nome diferente. “Quero saber se é justo que a gente faça um novo teto de gastos, com o nome de arcabouço fiscal, um arrocho absoluto na taxa de investimentos, que, no Brasil, é a menor da história. Da União, remanescem investimentos de 0,75% (do Produto Interno Bruto, PIB). E isso significa ao redor de R$ 24 bilhões, o que não é nada”, destacou.
Sobre os constantes desentendimentos entre Lula e o Banco Central, por causa das elevadas taxas de juros — 13,75% ao ano —, o ex-ministro ressaltou que o atual presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, já deveria ter sido demitido. “Essa demissão tem de ser provocada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Quem é? É o ministro da Fazenda, completamente entregue a banqueirada, que está indicando um banqueiro para uma diretoria do Banco Central, se chama (Gabriel) Galípolo”, emendou.
Apesar de todos os ataques, Ciro disse estar disposto a contribuir com o debate e com o seu partido no campo ideológico, mas descartou concorrer novamente à Presidência da República. “Eu dei ao povo brasileiro o meu viver. Vou morrer militando, vou achar outro caminho. Já estou agarrado em um livro. Eu vou ficar militando, mas candidato, neste momento, não gostaria de ser”, frisou. Ele afirmou que optou pelo silêncio depois das eleições e que quer se desintoxicar. “Não é razoável. A partir de um certo limite, tem de ter humildade. Eu não represento mais uma corrente de opinião. Sou um democrata visceral. Alguma coisa está errada comigo, não com o povo”, sentenciou.
Correio Braziliense
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