Nonato Guedes

Sob a liderança do governador João Azevêdo (PSB), realizou-se ontem, 20, na Paraíba a primeira reunião do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para discussão de prioridades da região e dos Estados que serão levadas ao mandatário no dia 27. O evento de hoje, previsto para começar às 10h no Centro de Convenções de João Pessoa, comporta vários simbolismos importantes, o primeiro deles o fortalecimento das relações republicanas, possibilitando a construção, de forma conjunta, de ações positivas para o desenvolvimento nordestino. Foi no Nordeste onde Lula obteve votações expressivas na campanha eleitoral de 2022, que influenciaram no resultado final favorável ao então candidato do PT. Enfim, há as origens do presidente da República nesta região, facilitando o seu conhecimento da realidade do chamado semiárido.

Do ponto de vista pessoal, é um marco importante para a biografia do governador João Azevêdo. Ele foi eleito presidente do Consórcio no dia oito de dezembro, depois de ter sido reeleito em dois turnos ao Executivo paraibano. Manteve-se leal ao então ex-presidente Lula o tempo todo, inclusive, no primeiro turno, quando o líder petista, por força de compromisso já assumido pelo PT, declarou apoio à candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), recém-rompido com João Azevêdo. No segundo turno, entretanto, quando ficou definido o confronto entre João Azevêdo e o deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB, o líder petista, hoje presidente, não titubeou em externar apoio a João, acenando-lhe com perspectivas de cooperação na hipótese de, também, retornar ao Planalto, batendo o presidente de plantão, Jair Bolsonaro (PL). Os dois – Lula e João Azevêdo, saíram triunfantes e, portanto, consagrados, das urnas.

A relação republicana de que tanto fala o chefe do Executivo paraibano foi prontamente restabelecida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não somente com governadores do Nordeste, mas, também, com governadores de Estados importantes de outras regiões onde o adversário Jair Bolsonaro levou vantagem na disputa. Lula, de resto, se elegeu em meio à perspectiva de uma nova atmosfera, baseada na promoção dos valores da sociedade e no resgate de conquistas que foram apagadas ou destruídas na única gestão empalmada por Jair Bolsonaro. O Nordeste, naturalmente, respirou aliviado com a nova ascensão de Lula diante da hostilidade explícita do ex-presidente Jair Bolsonaro contra gestores da região, chegando ao ponto de chamá-los de “governadores de paraíba”, como se quisesse dirigir-se pejorativamente ao povo paraibano. O Consórcio Nordeste não foi levado na devida conta pelo ex-presidente da República, apesar de constituir experiência inovadora na gestão das demandas públicas.

Os governadores que se elegeram nesta região não haviam fechado com a candidatura de Jair Bolsonaro no pleito de 2018 porque nele identificavam desapreço para com as causas gerais do país e, durante o governo empalmado por Bolsonaro foram retaliados em reivindicações consideradas indispensáveis para o desenvolvimento sócio-econômico do Nordeste. Não havia, da parte desses governadores, qualquer interesse na obtenção de privilégios ou tratamento exclusivamente vantajoso para a região, mas cobrava-se uma reparação do ciclo de discriminações perpetrado ao longo dos anos, em diferentes governos que passaram pela História do Brasil. Jair Bolsonaro não teve sensibilidade, porém, para perceber essas necessidades latentes e muito menos disposição para dialogar com governadores, tanto assim que fez visitas à Paraíba sem ter tido agenda específica com o próprio João Azevêdo – eleito em 2018 com vantagem indiscutível e significativa.

Passou-se a apostar, então, na perspectiva de um governo do presidente Lula, a fim de que houvesse um olhar mais atento para as carências da região nordestina. E também, como tem apregoado o governador da Paraíba, para potencialidades que foram descobertas nas últimas décadas, ajudando a incrementar o progresso sustentável da região. Azevêdo tem se referido diretamente aos efeitos colaterais da produção de energias renováveis e da explosão do Turismo no Nordeste como fatores que estão colaborando para redesenhar a paisagem do semiárido. Na gestão de Jair Bolsonaro, os Estados nordestinos não conseguiram empréstimos com entidades financeiras nacionais, mesmo alcançando nota A no ranking do Tesouro Nacional porque não havia interesse da parte da gestão federal em intermediar soluções proativas em benefício da população. Já o governo do presidente Lula está antenado com a realidade de um Nordeste que gera riqueza. E propõe-se a ser sócio desses Estados na administração dessa riqueza e na sua reversão em políticas públicas que beneficiam o Nordeste como um todo. Daí o significado especial dos eventos de hoje – e do futuro.

Fonte: Os Guedes