sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Liz Truss não esquentou a cadeira como primeira-ministra britânica

Primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, renuncia nessa quinta-feira, 20, após 45 dias de governo

Depois de apenas um mês e meio no governo, a primeira-ministra britânica, Liz Truss, renunciou nessa quinta-feira (20). Ela é a terceira líder do Reino Unido consecutiva a deixar o cargo antes do fim do mandato, e a que menos tempo ficou no posto na história do país.

Truss, que substituiu Boris Johnson no comando do país dois dias antes da morte da rainha Elizabeth II, já vinha sofrendo uma forte pressão para renunciar por conta de um polêmico plano econômico que gerou revolta no mercado e dentro de seu próprio partido.

O plano, uma tentativa de estimular a economia, previa cortes severos de impostos e, em paralelo, aumentos de crédito e um empréstimo bilionário para tentar cobrir o rombo nas contas públicas, estimado em 45 bilhões de libras (R$ 266 bilhões). A proposta foi muito mal recebida no país, em um momento no qual a inflação do Reino Unido ultrapassou os 10% – a maior taxa nos últimos 40 anos -, e fez a libra desabar para o menor valor da história frente ao dólar.

Em pronunciamento na porta de Downing Street, a sede do governo do Reino Unido, em Londres, Liz Truss , acompanhada de seu marido, disse que já informou sua renúncia ao rei Charles III .

“Nós lançamos uma visão para impostos baixos e alto crescimento que nos permitiria desfrutar da liberdade do Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia). Eu reconheço que não consigo entregar o mandato para o qual eu fui eleita”, declarou a premiê, que apontou uma série de influências externas que prejudicaram sua breve gestão.

“Assumi o cargo em um momento de grande instabilidade econômica e internacional. Famílias e empresas estavam preocupadas sobre como pagar suas contas, a guerra ilegal de Putin na Ucrânia ameaça a segurança de todo o nosso continente e nosso país foi retido por muito tempo por baixo crescimento econômico”, completou.

Truss afirmou ainda que permanecerá no cargo até que o Partido Conservador escolha outro líder – no tipo de regime do Reino Unido, uma monarquia parlamentarista, o partido vencedor das eleições gerais é quem escolhe o primeiro-ministro do país.

Como o Partido Conservador foi o vencedor das últimas eleições, cabe a sigla trocar seu líder, o que, segundo o comitê responsável pelas eleições internas da sigla, deve acontecer até 28 de outubro.

Mais cedo, o porta-voz da premiê afirmou que ela cumpriria seu mandato. Logo depois, no entanto, a própria Liz Truss convocou com urgência o presidente do comitê de seu partido responsável por convocar novas eleições internas, Graham Brady.

Ao longo da semana, a fila de parlamentares e membros do próprio partido de Truss que pedem a saída da atual líder foi aumentando rapidamente. Segundo a imprensa britânica, mais da metade dos membros do Partido Conservador apoiava a renúncia por conta do plano.

Também na última semana, Truss perdeu dois ministros: o de Finanças, Kwasi Kwarteng, responsável pelo polêmico plano, e a do Interior, Suella Braverman, que renunciou na quarta-feira (19). A saída de Braverman, considerada a mais linha dura do governo de Truss, acelerou e aprofundou a crise.

O pronunciamento do novo ministro das Finanças, Jeremy Hunt, foi considerado a gota d´água para minar a credibilidade de Truss. No Parlamento, Hunt anunciou que mudaria por completo o plano da primeira-ministra, que ficou sentada atrás dele sem se pronunciar.

“A primeira-ministra perdeu o controle do governo e a confiança dos parlamentares conservadores”, declarou o deputado Steve Double, do próprio partido de Truss, um dos que exigiram a renúncia.

Boris de novo?

Ainda não há uma confirmação sobre quem substituirá Liz Truss. No entanto, alguns nomes já foram cogitados – entre eles o do próprio ex-premiê Boris Johnson. Segundo o jornal britânico “The Times”, Johnson é um dos possíveis candidatos a voltar ao posto. Outra publicação, o “Telegraph”, aponta que Rishi Sunak, derrotado por Truss nas últimas eleições internas, seria outro candidato.

Nenhum dos dois havia se pronunciado até a última atualização desta reportagem.

A entrada de Liz Truss no governo também ocorreu de forma turbulenta. Truss substituiu Boris Johnson, que renunciou após uma série de escândalos envolvendo sua participação em festas privadas durante o período de lockdown do Reino Unido e a denúncia de abuso sexual por parte de dois alto cargos de seu governo.

Após uma disputada eleição interna, o Partido Conservador elegeu Truss para substituir Johnson.

Apenas três dias depois, no entanto, rainha Elizabeth II morreu, e o Reino Unido entrou em um longo período de luto e cerimônias de despedida que adiaram o início dos trabalhos do governo de Truss.

Antes do Johnson, Theresa May, do mesmo partido, também renunciou antes da hora. May, que assumiu o governo em 2016, deixou o cargo em 2019, um ano antes de completar o mandato.

Com a queda de Truss, a crise política se aprofunda no Reino Unido, que também enfrenta anos de crescimento baixo e, mais recentemente, um forte aumento de preços – um dos objetivos do falido plano da primeira-ministra era tentar amenizar o custo de vida das famílias e das empresas.

Aliado a isso, o rei Charles III, no trono há menos tempo que Truz, também enfrenta o desafio de liderar a monarquia mais poderosa do mundo com pouca experiência no poder – no Reino Unido, o rei é também o chefe de Estado, e pode aceitar ou recusar a nomeação de um novo primeiro-ministro, que chefia o governo. 

G1

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