sábado, 10 de setembro de 2022

Descoberta

Paleontólogos brasileiros e britânicos identificam em fósseis encontrados no Rio Grande do Sul o mais antigo mamífero do planeta Terra

Um grupo de pesquisadores brasileiros e ingleses conseguiu estabelecer que pequenos fósseis encontrados no Rio Grande do Sul no início dos anos 2000 são os mamíferos mais antigos do planeta Terra. A descoberta foi publicada na última terça-feira (06) no periódico inglês Journal of Anatomy.

Os estudos foram realizados com as dentições dos Brasilodon quadrangularis, encontrados em rochas fossilíferas do período Triássico/Noriano, datadas como tendo aproximadamente 225 milhões de anos. Os materiais foram encontrado inicialmente em Faxinal do Soturno, na Região Central do Rio Grande do Sul, e depois em outros pontos do estado. Os pequenos brasilodotídeos tinham apenas 20 cm de comprimento e se assemelhavam aos pequenos roedores atuais.

“Os materiais foram encontrados no início dos anos 2000, mas não tinham uma identidade estabelecida como mamíferos, eles estavam estabelecidos como répteis, estavam fora do quadro mamário”, explica o paleontólogo Sergio Furtado Cabreira, doutor em Geologia pelo Programa de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O pesquisador foi orientado pelo professor Cesar Leandro Schultz, que também assina o trabalho ao lado de pesquisadores de diferentes instituições e áreas.

Cabreira explica que o animal foi descrito desde 2003 na literatura internacional pelo paleontólogo José Bonaparte, mas que, naquele momento, “inexistiam ferramentas acadêmicas para analisar a biologia do animal”. Os pesquisadores criaram, então, um novo método que consiste em analisar a dentição de um conjunto de três mandíbulas.

“Nossa pesquisa demonstrou, através de análises de microscopia das mandíbulas e dos dentes, que estes pequenos animais já apresentavam difiodontia, isto é, apenas uma dentição permanente substituindo a dentição de leite”, explica Cabreira. Dessa forma, foi possível constatar que a substituição dos dentes ocorreu dentro de um “padrão tipicamente mamariano placentário”, explica.

O pesquisador afirma que o grupo começou a estudar o material em 2004 e, “ao longo dos últimos anos a gente vem agregando ferramentas teóricas para que pudéssemos interpretar as lâminas histológicas”. Ele destaca que mandíbula do animal tem cerca de 2 centímetros.

A pesquisa analisou a mandíbula dos animais — Foto: Rochele Zandavalli / UFRGS
A pesquisa analisou a mandíbula dos pequenos animais — Foto: Rochele Zandavalli / UFRGS

A descoberta

De acordo com Cabreira, a descoberta muda o paradigma do que era entendido até então como os primeiros caracteres mamarianos. “Os métodos atuais de classificação do que é um mamífero vão ter que se readequar”, afirma o pesquisador, incluindo a bibliografia acadêmica sobre a genética da origem dos mamíferos.

“O que nós estamos vendo é que os mamíferos são muito mais antigos do que se pensava”, afirma.

Visitação

A UFRGS tem um exemplar dos fósseis que foram estudados em exposição no Museu de Paleontologia, juntamente com a sua reconstituição. A visitação é gratuita, mas precisa de agendamento em caso de grupo de mais de seis pessoas.

O Museu Museu de Paleontologia Irajá Damiani Pinto fica no Campus do Vale, no bairro Agronomia, em Porto Alegre, abre todos os dias das 9h ao meio-dia e das 14h às 17h, exceto nas segundas à tarde. Na página do museu, também é possível fazer os agendamentos e um Tour Virtual.

Os brasilodotídeos tinham apenas 20 cm de comprimento — Foto: Rochele Zandavalli/UFRGS
Os brasilodotídeos tinham apenas 20 cm de comprimento — Foto: Rochele Zandavalli/UFRGS

G1

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