Milhares de manifestantes saem às ruas do país em novos protestos pelo impeachment de Bolsonaro
Os protestos nacionais são pelo impeachment do presidente, por mais vacinas contra a Covid-19 e por auxílio emergencial
© Getty Images
Milhares de manifestantes se reuniram na manhã deste sábado (19) em diferentes cidades do país em protestos contra o presidente Jair Bolsonaro. Entre os maiores atos, estão os de Brasília, com manifestantes na Esplanada dos Ministérios, e no Rio de Janeiro. Em São Paulo, o protesto estava marcado para as 16h, na avenida Paulista.
As
manifestações ocorreram no momento em que o país se aproximava de 500 mil
mortos pela Covid e menos de um mês após os atos de 29 de maio, que
atraíram milhares de pessoas. Os protestos nacionais são pelo
impeachment do presidente, por mais vacinas contra a Covid-19 e por
auxílio emergencial.
Foram convocados e apoiados por
movimentos sociais, partidos políticos, centrais sindicais, entidades
estudantis, torcidas organizadas e grupos envolvidos em causas como
feminismo e antirracismo. A organização está centralizada no fórum
Campanha Nacional Fora, Bolsonaro.
A quantidade de
organizações que endossam a realização dos protestos e o número de
cidades com atividades programadas cresceram em relação ao final de
maio. Em Brasília, o ato foi maior do que o anterior, assim como no Rio,
onde os organizadores estimam cerca de 70 mil pessoas no ato deste
sábado, contra 50 mil na manifestação de 29 de maio. No Recife, mesmo
sob chuva, o evento foi maior do que o de maio.
Na capital federal e
no Rio, manifestantes incluíram na pauta dos atos protesto contra a
privatização da Eletrobras, que deve ser aprovada na Câmara no início da
próxima semana.
Em Brasília, o ato contou com uma carreata
que percorreu algumas vias principais da cidade até a concentração para
uma passeata. Indígenas de várias partes do país também se juntaram aos
manifestantes para condenar a omissão do governo na proteção desses
povos na pandemia e também em protesto contra a mudança na demarcação de
terras.
Ao contrário dos atos em favor do governo, os
manifestantes não foram autorizados a descer para a praça dos Três
Poderes e se concentram no gramado em frente ao Congresso Nacional.
O evento no DF colocou no mesmo carro de som parlamentares de diversos partidos de esquerda.
Discursam
com palavras duras contra o presidente, especialmente condenando a
condução no enfrentamento da pandemia e o autoritarismo do governo,
parlamentares como os deputados federais Talíria Petrone (PSOL-RJ) e
Pedro Uczai (PT-SC) e o deputado distrital Leandro Grass (Rede).
Também
há diversas bandeiras de partidos, como PT, PSOL e PC do B, além de
inúmeras camisetas com a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
No Recife, o ato também uniu representantes de partidos
à esquerda que disputam espaço na corrida eleitoral de 2022, como PT e
PDT. O estado e a cidade são governados pelo PSB, que também teve
representantes no protesto.
No ato anterior, realizado no dia
29 de maio, a Polícia Militar de Pernambuco atacou violentamente as
pessoas que protestavam pacificamente contra o governo federal.
Diante
do desgaste político, o governo estadual escalou agentes de conciliação
para evitar qualquer tipo de animosidade entre polícia e manifestantes.
Poucos policiais militares acompanharam os manifestantes à distância.
Os
manifestantes tentaram cumprir normas de distanciamento social e se
organizaram em três grandes filas. Em megafones, pessoas da organização
do ato alertavam para a necessidade de manter o distanciamento e usar o
equipamento de proteção.
O Ministério Público de Pernambuco, baseado
em decreto estadual que proíbe a realização de eventos públicos e
privados para evitar aglomerações, expediu recomendação para que o
protesto não fosse realizado.
Em Maceió, a manifestação se concentrou na praça Centenário, no bairro do Farol, e seguiu pela avenida Fernandes Lima.
Também ocorreram protestos em Aracaju, Belém, João Pessoa, São Luís e Teresina.
OUTRAS CIDADES
Até
sexta-feira (18), estavam confirmados atos em mais de 400 cidades de
todos os estados brasileiros, incluindo as 27 capitais. No exterior, a
previsão era a de concentrações em 41 cidades, em países como Estados
Unidos, Canadá, Alemanha, França, Portugal, Itália, Finlândia e
Argentina.
No mês passado, segundo a coordenação, houve no
total movimentações em 210 cidades no Brasil -algumas, assim como agora,
tiveram mais de uma atividade. No exterior, o número também foi menor:
14 cidades. No total, foram 227 atos.
A recomendação é que os
manifestantes usem máscara (preferencialmente do tipo PFF2), se possível
levem máscaras para doação, carreguem álcool em gel e mantenham o
distanciamento social. Nos protestos de maio, as orientações foram
seguidas, mas houve registros de aglomerações.
No
sábado passado (12), Bolsonaro participou na capital paulista de um
passeio de moto com apoiadores, depois de eventos semelhantes em
Brasília e no Rio.
O presidente e auxiliares foram multados
pelo governo João Doria (PSDB) por não usarem máscara contra a Covid-19
no evento. Motociclistas simpatizantes do governo também deixaram de
usar a proteção facial -item que os protestos da oposição dizem
diferenciá-los em relação aos dos bolsonaristas.
A Campanha
Fora, Bolsonaro é composta por frentes como a Povo sem Medo, a Brasil
Popular e a Coalizão Negra por Direitos, que reúnem centenas de
entidades, entre elas MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), UNE
(União Nacional dos Estudantes), CMP (Central de Movimentos Populares) e
Uneafro Brasil.
Partidos de esquerda como PT, PSOL e PC do B
também integram a campanha. O PT, que apoiou com mais afinco na véspera o
ato anterior, desta vez decidiu entrar para valer na mobilização.
O
ex-presidente Lula anunciou que avalia comparecer, mas a tendência é
que ele não vá. O envolvimento dele no assunto tinha sido discreto em
maio e assim continuou até meados desta semana, quando se pronunciou em
suas redes sociais sobre a possibilidade de ir.
PSOL, PC do B,
PCB, UP, PCO e PSTU, que já estavam participando ativamente da
articulação, continuam envolvidas. Além disso, outros partidos
anunciaram apoio à iniciativa.
O Cidadania, que se apresenta como um
partido de centro, comunicou nesta semana sua adesão às manifestações,
em nota assinada pelo presidente nacional, Roberto Freire. Ele também
afirmou que irá comparecer.
Siglas
como PSB, PDT e Rede Sustentabilidade adotaram, institucionalmente,
posição mais cautelosa -dizendo que não estimulam a formação de
aglomerações-, mas sem proibir a presença de seus quadros. Com isso,
núcleos e seções regionais desses três partidos decidiram se juntar às
manifestações.
Partidos de oposição a Bolsonaro mais à direita
ignoraram o tema ou simplesmente deixaram a decisão a critério de cada
filiado ou corrente interna.
Bolsonaro minimizou o impacto das
marchas contra ele em maio e lançou mão de uma estratégia para tachar a
iniciativa como evento de campanha de Lula. O adversário, que não
esteve presente, lidera as pesquisas de intenção de voto para as
eleições de 2022.
Fora do ambiente partidário, a mobilização
somou a adesão das dez principais centrais sindicais, que ficaram
reticentes da outra vez, muito pela pressão de categorias profissionais
que demonstraram preocupação com a incoerência de se juntar às multidões
e defender o distanciamento social.
Na semana passada, o
apoio às manifestações foi deliberado em um fórum das centrais, que
inclui CUT (Central Única dos Trabalhadores), Força Sindical, UGT (União
Geral dos Trabalhadores), CTB (Central dos Trabalhadores e
Trabalhadoras do Brasil) e CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros),
entre outras.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra), que em maio preferiu manter discrição na fase de preparação dos
atos, desta vez incentiva a participação de seus integrantes.
O
movimento Acredito, que prega renovação política e está posicionado
mais ao centro, também se integrou à organização dos protestos. Já MBL
(Movimento Brasil Livre) e VPR (Vem Pra Rua), que levaram a direita às
ruas contra governos do PT e hoje se opõem a Bolsonaro, mantiveram
distância.
Ativistas envolvidos na convocação deste sábado
dizem que a chegada de novas forças e a esperada adesão de mais
manifestantes se devem à crescente insatisfação com o governo Bolsonaro,
mas também ao clima pacífico e organizado e às precauções sanitárias do
protesto anterior.
As principais bandeiras são o impeachment
de Bolsonaro, a vacinação ampla contra a Covid e o pagamento de auxílio
emergencial de R$ 600. As pautas foram definidas por centenas de
organizações, que têm buscado unidade de discurso e se blindado contra
atritos que comprometam a coesão.
Entre os objetivos, está
ainda expressar apoio à CPI da Covid, vista como caminho que pode levar à
responsabilização do presidente pelo agravamento da pandemia e servir
de impulso para a Câmara dos Deputados abrir o processo de deposição
dele, possibilidade tratada hoje com ceticismo.
Promover atos
de rua em um cenário de descontrole da Covid foi um dilema que provocou
debate em setores da esquerda nos últimos meses, mas a divergência de
opiniões foi superada com as convocações para o dia 29 que atraíram
milhares de pessoas em cidades do Brasil e de outros países.
O racha
foi contornado diante do diagnóstico, feito por líderes do chamado campo
progressista, de que solucionar as crises sanitária, econômica,
institucional e política é inviável com Bolsonaro no poder.
O CAMINHO DO IMPEACHMENT
-
O presidente da Câmara dos Deputados é o responsável por analisar
pedidos de impeachment do presidente da República e encaminhá-los
- O
atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é aliado de Jair
Bolsonaro. Ele pode decidir sozinho o destino dos pedidos e não tem
prazo para fazê-lo
- Nos casos encaminhados, o mérito da denúncia
deve ser analisado por uma comissão especial e depois pelo plenário da
Câmara. São necessários os votos de pelo menos 342 dos 513 deputados
para autorizar o Senado a abrir o processo
- Iniciado o processo pelo
Senado, o presidente é afastado do cargo até a conclusão do julgamento e
é substituído pelo vice. Se for condenado por pelo menos 54 dos 81
senadores, perde o mandato
- Os sete presidentes eleitos após a
redemocratização do país foram alvo de pedidos de impeachment. Dois
foram processados e afastados: Fernando Collor (1992), que renunciou
antes da decisão final do Senado, e Dilma Rousseff (2016)
Notícias ao Minuto
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