'Motociata' com Bolsonaro reúne milhares em São Paulo em meio a avanço da pandemia do novo coronavírus
Com o presidente à frente, sem máscara, a manifestação intitulada "Acelera para Cristo" começou às 10h00
© Getty Images
Milhares de motociclistas participam em São Paulo neste sábado (12) de mais uma "motociata" com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Com o presidente à frente, sem máscara, a manifestação intitulada "Acelera para Cristo" começou às 10h, na região de Santana, zona norte da capital, e irá terminar no obelisco do Ibirapuera. O trajeto é de 130 km.
Gritos
de "aqui é Bolsonaro", "viva, Bolsonaro" e "isso está gigante" se
misturaram com barulho de buzinas e ronco dos motores das motocicletas.
Houve também gritos contra a imprensa e o governador João Doria (PSDB),
adversário político do presidente.
O presidente
chegou de carro cerca de 15 minutos antes das 10h, cumprimentou diversos
apoiadores e causou aglomeração. Antes de partir, foi levantado e
cumprimentou apoiadores do alto.
Na
concentração, houve aglomeração de apoiadores. Um "pedágio solidário"
foi montado para receber doações de alimentos que serão distribuídos em
comunidades carentes. Duas fileiras com voluntários, em sua maioria de
máscara, recepcionavam os motociclistas e distribuíam bandeiras do
Brasil e adesivos.
Já a maioria dos motociclistas não usava máscara de proteção contra a Covid-19 e tinha bandeiras do Brasil amarradas no corpo.
Saindo
de Santana, a 'motociata' segue pela marginal Tietê, a partir da ponte
Governador Orestes Quércia, e continuará até o quilômetro 62 da Rodovia
dos Bandeirantes, já fechada em todos os acessos à espera da passagem do
presidente e de seus apoiadores.
No retorno, o trajeto
passará pela marginal Pinheiros, seguindo até a ponte Engenheiro Ari
Torres e, dali, seguirá pela avenida dos Bandeirantes e avenida Rubem
Berta, encerrando no obelisco do Ibirapuera.
Em
nota nesta sexta-feira, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo
afirmou que haverá um efetivo de mais 6.300 policiais a postos. O
policiamento será reforçado em toda a capital, na região metropolitana e
na rodovia dos Bandeirantes. Também os pontos de concentração e
dispersão do ato terão patrulhamento ampliado.
Para tanto, a
polícia diz que contará com diferentes batalhões, com cerca de 2.100
viaturas, cinco aeronaves e dez drones. A operação também contará com
apoio de CET, Guarda Civil Metropolitana e AutoBAn.
Na reunião
com a PM, foram estabelecidas algumas regras: as motos deverão estar
todas emplacadas e não poderão trafegar a mais de 40 km/h. Será proibido
empinar o veículo, e todos deverão usar capacete e máscaras.
O
evento vinha sendo pensado há cerca de um mês com proporções bem mais
modestas, organizado por um grupo de comerciantes, com Vilar à frente, e
de igrejas evangélicas do estado.
Mas o ato cresceu muito
desde que Bolsonaro confirmou participação, o que inclusive começou a
incomodar alguns representantes de associações de motociclistas, que
dizem que o evento foi "sequestrado" por líderes religiosos sem relação
com o universo motoqueiro.
Em
parte, a ideia é compensar o cancelamento presencial do maior evento
evangélico do país, a Marcha Para Jesus, por causa da pandemia. A marcha
costuma ocorrer no mês de junho.
O presidente tem no meio
evangélico uma base de seguidores fiel, embora a última pesquisa
Datafolha tenha apontado um empate técnico com o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) no apoio dado por este segmento.
Mais
recentemente, Bolsonaro passou a receber também o apoio de muitos
motociclistas, que se organizam no Brasil em diversos clubes de
aficionados pelas duas rodas. Grande parte deles associa o presidente,
que é motociclista amador, à defesa da liberdade.
Bolsonaro
também promoveu a redução do valor do seguro obrigatório e acenou com a
isenção de pedágio em estradas federais para os motociclistas.
O
ato, incentivado por Bolsonaro nos últimos dias em suas redes sociais,
ocorre duas semanas após protestos contra o presidente, convocados pela
esquerda, terem reunido milhares de pessoas em diferentes cidades do
país.
A 'motociata' ocorre também uma semana antes de um novo
protesto desse grupos marcado para o próximo sábado (19). Bolsonaro até
aqui tem minimizado o tamanho dos atos contra ele.
"Você sabe
por que teve pouca gente nessa manifestação da esquerda, agora, no
último fim de semana? Porque a PF [Polícia Federal] e a PRF [Polícia
Rodoviária Federal] estão apreendendo muita maconha pelo Brasil. Faltou
erva para o movimento", disse o presidente no dia seguinte aos protestos
de 28 de maio.
"Você pode ver esses movimentos agora, o último foi sábado ou domingo do PT, ninguém na rua", disse depois o presidente.
Na
ocasião, liderados por centrais sindicais, movimentos sociais e
partidos de esquerda, as manifestações contra Bolsonaro foram alvo de
críticas por acontecerem presencialmente em meio à pandemia, num momento
em que o país ultrapassava 450 mil mortes pela doença – e cerca de 2.000
em 24 horas.
Nas manifestações contra Bolsonaro, a
recomendação para a utilização de máscaras teve ampla adesão de
manifestantes, mas houve aglomerações em diversos locais, em
descumprimento às regras de distanciamento social sugeridas por
especialistas para conter a disseminação da Covid-19.
A
promoção de aglomerações contraria as recomendações de médicos e
especialistas para evitar a propagação do vírus. Em ambientes ao ar
livre, a orientação é a de que as pessoas mantenham uma distância de
pelo menos 1,5 metro.
Nesta sexta-feira, o Brasil registrou
2.215 novas mortes por Covid-19 e 86.061 novos casos da doença nesta
sexta-feira (11). Com isso, o total de mortes no país chegou a 484.350 e
o de casos a 17.301.220 desde o início da pandemia.
A média
móvel de mortes ficou em 1.912 óbitos por dia, marca mais alta em 20
dias -o número está há 140 dias acima de mil mortes diárias, considerado
um patamar bastante alto.
Bolsonaro é alvo de dezenas de
pedidos de impeachment, mas o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),
afirmou no início deste mês que "não é uma caminhada de um grupo numa
semana" que vai fazer com que um processo de impeachment avance na Casa.
Cabe a Lira dar andamento a um dos mais de 110 pedidos em análise na
Câmara dos Deputados.
A
'motociata' anterior, em 23 de maio no Rio de Janeiro, foi a que
provocou a mais recente crise militar no governo. Isso porque o ato
político teve a participação de Eduardo Pazuello, general da ativa e
ex-ministro da Saúde. Ele estava sem máscara e falou ao microfone,
exaltando o presidente.
Dez dias depois, o comandante
do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, aceitou a
pressão e a interferência de Bolsonaro e decidiu livrar Pazuello de
qualquer punição por ter participado de um ato político do presidente.
Notícias ao Minuto
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