“O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. A frase retirada do livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha, traduz a fé, a garra, a luta e acima de tudo a esperança do homem do campo, que em meio às intempéries climáticas, não desanima. A resistência é uma de suas características.

No Dia de São José, o site PB Agora visitou a Zona Rural de Campina Grande, e conheceu a história de alguns desses valentes homens e mulheres do campo, que aguardam com expectativas, a chegada do dia do Santo Querido, para lançar a preciosa semente na terra. Com os olhos fixos para o céu, enxada na mão, eles já preparavam a terra para o plantio na esperança de ter uma boa colheita.

No campo, entre incertezas, otimismo, e irregularidades das chuvas, eles fazem o preparo de terra e plantio dos grãos de feijão e milho.

Uma dessas nordestinas fortes, bem no estilo de “Paraíba Mulher Macho” cantada por Luiz Gonzaga, é a agricultora Ana Patrícia de Sousa, 65 anos, mais conhecida por “Zefa”. Para ela, não existem obstáculos que impeçam de seguir com a vida de agricultora. Mulher de fé, desde o início de março, que preparou a terra, apenas está aguardando a chegada da chuva para lançar as primeiras sementes de milho e feijão na terra. O seu roçado, na zona rural de Gado Bravo, está limpo.


O chão duro, não é motivo para desanimar. As primeiras chuvas do ano que caíram na região, encheram barreiros e açudes, o que deixou a agricultora mais esperançosa.

Com olhar fixo para o céu, ela renovou a prece no dia de São José, confiante de que este ano, mesmo com os sofrimentos causados pela pandemia, terá motivo para celebrar a vida, com a mesa farta no tempo oportuno da colheita.

Com sua fé inabalável em Deus, Zefa é o símbolo de resistência e coragem de tantas mulheres paraibanas que não desistem da vida. Para ela  não existe tempo ruim para enfrentar os desafios da vida, seja com sol, chuva ou calor.

O 19 de março é celebrado com esperança em todo o Sertão nordestino. Neste dia, a fé por São José se renova na forma de orações e pedidos de chuva. Reza a tradição que, se chover na data, a colheita será farta. Segundo a cultura popular nordestina, o dia de São José é tido como um dia chuvoso e de fartura.

Entre ciência e fé, em alguns anos,  as condições atmosféricas estão favoráveis para a chuva sobre o Nordeste no dia de São José. A previsão da meteorologia para a Paraíba nesta sexta-feirapor exemplo, é de chuvas isoladas  em todas as regiões da Paraíba. Em algumas cidades a exemplo de Lagoa Seca, já choveu neste 19 de março, o que aumentou as esperanças dos agricultores.

Segundo a Agência Executiva de Gestão de Águas da Paraíba (Aesa), nesta sexta-feira as condições meteorológicas permanecem favoráveis à ocorrência de chuvas sobre o estado da Paraíba. Assim, poderão ocorrer chuvas isoladas tanto na região litorânea, quanto em pontos isolados das demais regiões do Estado.

Em todas as regiões a nebulosidade é variável com ocorrência de chuvas isoladas.
A meteorologista AESA, Marle Bandeira, explicou que para a ciência, o fenômeno da chuva no dia de São José, ocorre devido ao comportamento da zona de convergência intertropical no oceano sobre a região nordeste.

Em recente entrevista, ela lembrou que normalmente, o sistema de convergência da zona de convergência intertropical se evidencia no mês de março É o momento que estão mais favoráveis, com o sistema de convergência mais próxima da Linha do Equador, ou seja, mais próxima do nordeste brasileiro.

Uma prece a São José. O agricultor Ronaldo Barbosa de Oliveira 66 anos, tem uma larga  experiência com os anos de chuva e seca. O 19 de março é o dia em que ele em especial,  olha ao céu com mais esperança do que o habitual.  A prece feita no dia do santo querido, é por chuva.

Com a esperança renovada, e sabedoria popular incontestável, seu Naldinho, ergue a cabeça e procura as nuvens carregadas. Diante da escassez de chuva, o agricultor mantém a sua fé inabalável.

O seu “roçado” na localidade conhecida como Porteira de Pedras, na Zona Rural de Campina Grande, está praticamente preparado para o plantio. Com o solo ainda duro, à espera da chuva, ele aguarda a chuva preciosa.

Com chapéu na cabeça, enxada na mão, e uma fé inabalável, o agricultor Ronaldo Barbosa de Oliveira, sabe o que é enfrentar dificuldades, e vencê-las. Há quase 1 ano, ele perdeu a esposa Maria de Lourdes para a Covid-19. O agricultor reencontrou forças e o apoio do filho Severino de Ramos da Silva Oliveira, para seguir tocando a sua vida. Nesse tempo, o refúgio do agricultor é a roça onde ele passa maior parte do tempo.  Nos lajedos, ele já havia plantado jerimum e maxixe que estão enramando.

Sob um sol quente, seu Naldinho como é conhecido o agricultor, prepara a terra na esperança de um bom inverno, e uma farta colheita.  Ele fez questão de tirar o chapéu e olhar para o céu. As nuvens azuis embelezam o local. O tempo ainda não estava nublado mas em algumas regiões da Paraíba choveu forte na véspera do dia de São José.

Ele revelou que trabalha na “roça” desde os 9 anos de idade, e já testemunhou anos de bom inverno e anos de seca. Por enquanto, o “sequidão” toma conta do lugar, mas a esperança do agricultor é que em breve com a chegada das chuvas, a paisagem seja modificada e o verde volte a predominar.

Como a maioria dos agricultores, Ronaldo Barbosa de Oliveira chega cedo na roça, com a cidade ainda às escuras. Ele revelou que há anos mantém a rotina de chegar cedo para o trabalho.  Quando os primeiros raios de sol surgem, o agricultor já tem feito muito trabalho. E só volta para casa depois das 16h.

“Gosto de chegar cedo, e só volto à tarde para casa. Desde os 9 anos de idade que trabalho na roça” disse.

Com a inseparável enxada na mão, o agricultor Reginaldo Pedro de Brito, 66 anos, também aguardou com expectativa a chegada do Dia de São José. Mesmo que chova neste 19 de março, o plantio não será feito nesta sexta-feira. Seu Regis disse que todos os agricultores ainda estão esperando o “dono da terra” tirar o gado, e liberar para o plantio. Além do mais, eles só pretendem plantar quando um trator alugado, cultivar a terra.

Reginaldo Pedro conhece bem os segredos da agricultura. Ele contou que “vive na roça” desde criança, e todos os anos, sempre que se aproxima o mês de março, começa a preparar a terra para o plantio.

No rancho de seu Antônio Roberto da Silva  61 anos, tem de tudo. O local que lembra uma casa de sapé, é simples, mas guarda elementos típicos da região. O fogão a lenha, a mesa improvisada, o banco de madeira e as garrafas com sementes, mostram que o ambiente é do interior.

Antônio Roberto passa a maior parte do tempo na roça. Ele revelou que nesses tempos de pandemia, tem se refugiado no local, onde respira um ar saudável da natureza, longe do vírus, e ainda prepara a terra para logo lançar as sementes de milho, feijão, jerimum e melancia.

“Ainda está seco, mas logo teremos chuva e a terra molhada para o plantio” disse o agricultor Antônio Roberto. Cavando as primeiras “covas” na terra dura, ele  lança as primeiras sementes de milho perto de um lajedo.

São José é um dos santos mais conhecidos da Igreja Católica. José de Nazaré, o José, Carpinteiro, é considerado o santo dos trabalhadores e das famílias.

PB Agora - Severino Lopes