Com o pedido de afastamento de Witzel, o vice, Cláudio Castro, assume o governo do Rio de Janeiro.
O governador Wilson Witzel (PSC) foi 
afastado do cargo, na manhã desta sexta-feira (28), por uma decisão do 
Superior Tribunal de Justiça (STJ). O afastamento é por irregularidades 
em contratos na saúde. Com o pedido de afastamento de Witzel, o vice, 
Cláudio Castro, assume o governo do Rio de Janeiro.  A medida tem prazo 
inicial de 180 dias.
A Polícia Federal deflagrou nesta manhã 
uma operação para afastar o governador. A ordem de afastamento e os 
mandados de prisão são decorrência das investigações da Operação 
Favorito e da Operação Placebo. As duas operações foram deflagradas no 
último mês de maio.
De acordo com a Procuradoria-Geral da 
República, também são alvos de mandados de busca e apreensão o 
vice-governador, Cláudio Castro (PSC), e o presidente da Assembleia 
Legislativa, André Ceciliano (PT) e a primeira-dama do Rio, Helena 
Witzel.
Os policiais também prenderam o 
presidente do PSC, pastor Everaldo, e têm mandado de prisão contra o 
ex-secretário estadual Lucas Tristão, braço direito de Witzel. A 
operação Tris in Idem ocorre por ordem do ministro Benedito Gonçalves, 
do STJ.
Witzel é também alvo de um processo de 
impeachment na Assembleia Legislativa do Rio - o processo está travado, 
com recursos sobre a tramitação sob análise do STF.
Como funcionava o esquema
"Segundo apurado pelos investigadores, a
 partir da eleição de Wilson Witzel, estruturou-se no âmbito do governo 
estadual um a organização criminosa, dividida em três grupos, que 
disputavam o poder mediante o pagamento de vantagens indevidas a agentes
 públicos. Liderados por empresários, esses grupos lotearam algumas das 
principais pastas estaduais - a exemplo da Secretaria de Saúde - para 
implementar esquemas que beneficiassem suas empresas", afirma nota da 
PGR. No total, são 17 mandados de prisão, sendo seis preventivas e 11 
temporárias, e 84 de busca e apreensão.
"O principal mecanismo de obtenção de 
recursos financeiros pelos grupos era por meio do direcionamento de 
licitações de organizações sociais, mediante a instituição de uma 
"caixinha de propina" abastecida pelas OSs e seus fornecedores, e a 
cobrança de um percentual sobre pagamentos de restos a pagar a empresas 
fornecedoras do estado", diz a PGR.
A Procuradoria aponta ainda o 
envolvimento de membros dos poderes Legislativo e Judiciário no esquema.
 "Além dos desvios no Poder Executivo, foi apurado que alguns deputados 
estaduais podem ter se beneficiado de dinheiro público desviado de 
sobras dos duodécimos do Poder Legislativo. O esquema funcionava da 
seguinte forma: a Alerj repassava as sobras de seus duodécimos para a 
conta única do tesouro estadual. Dessa conta única, os valores dos 
duodécimos "doados" eram depositados na conta específica do Fundo 
Estadual de Saúde, de onde era repassado para os Fundos Municipais de 
Saúde de municípios indicados pelos deputados, que, por sua vez, 
recebiam de volta parte dos valores", afirma a nota da Procuradoria.
"Até mesmo o Poder Judiciário pode ter 
sido utilizado para beneficiar agentes com vantagens indevidas. Um 
esquema arquitetado por um desembargador do Trabalho beneficiaria 
organizações sociais do grupo criminoso por meio do pagamento de dívidas
 trabalhistas judicializadas. Essas OSs, que tinham valores a receber do
 Estado, a título de "restos a pagar", tiveram a quitação das suas 
dívidas trabalhistas por meio de depósito judicial feito diretamente 
pelo governo do Rio", declarou o Ministério Público Federal.
De acordo com investigadores, a propina 
era paga por meio de uma advogada ligada ao desembargador sob 
investigação. Witzel já foi alvo de uma denúncia pelo pagamento de 
valores feitos por empresários ao escritório de advocacia da 
primeira-dama.
A Procuradoria Geral da República afirma
 ter provas que colocam Witzel "no vértice da pirâmide" dos esquemas de 
fraudes investigados no estado.
O ex-secretário de Saúde Edmar Santos 
fechou acordo de delação premiada após ser preso numa operação 
coordenada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Na ação, os 
investigadores encontraram R$ 8,5 milhões em dinheiro vivo atribuído a 
Santos.
Ele foi solto a pedido da PGR, que 
afirmou que "esses fatos já estão sob a competência do Superior Tribunal
 de Justiça e estão sendo usurpados na operação deflagrada pelos órgãos 
do sistema de Justiça Estadual do Rio de Janeiro". Provas obtidas em 
investigações conduzidas no Rio de Janeiro serviram como base para a 
Placebo.
O inquérito conduzido pela PGR apurava 
irregularidades na contratação de uma organização social para a montagem
 de hospitais de campanha, bem como a relação de Witzel com o empresário
 Mário Peixoto, preso em maio.
A Polícia Federal apreendeu o aparelho 
de celular e o computador do governador. A operação foi autorizada pelo 
ministro Benedito Gonçalves, do STJ.
Entre os elementos que embasaram as 
buscas contra a primeira-dama na Operação Placebo estão um contrato de 
prestação de serviços e honorários advocatícios firmado entre o 
escritório de Helena Witzel e a empresa DPAD Serviços Diagnósticos, de 
Mário Peixoto, e comprovantes de transferências bancárias entre as duas 
empresas.
Esse contrato tem o valor de R$ 540 mil,
 segundo documentos apreendidos e emails acessados na apuração. Os 
investigadores também encontraram um email de 14 de abril deste ano 
enviado pelo contador das empresas de Peixoto para um braço direito do 
empresário, com documentos a respeito de pagamentos para a 
primeira-dama.
Já as provas sobre Peixoto foram obtidas em desdobramento da Operação Lava Jato, que investiga fraudes no governo Sérgio Cabral.
Elas apontam pagamento de uma firma 
ligada ao empresário para a primeira-dama Helena Witzel a partir de 
agosto do ano passado. Seriam 36 parcelas de R$ 15 mil. O próprio 
governador também foi citado em interceptações telefônicas.
As supostas fraudes nas compras 
emergenciais para o combate à pandemia levaram à demissão e posterior 
prisão de Gabriell Neves, ex-subsecretário de Saúde. O mesmo ocorreu com
 Edmar Santos, depois solto.
Em nota, a assessoria do pastor Everaldo
 disse que ele "sempre esteve à disposição de todas as autoridades e 
reitera sua confiança na Justiça".
(DN)

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